Memórias Futuras

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Ficamos chocados quando, durante a aula de matemática, dois policiais surgem, logo atrás do diretor, que quebra o momento de tensão, pedindo a todos que fiquem calmos e informando a Jerry que eles irão levá-lo para um interrogatório, assim como imagino que estejam fazendo com Justin e Will nesse exato momento.

O garoto encara alguns de nós aparentando estar decepcionado, ou talvez seja tristeza, acredito que é o misto das duas coisas, porém ele não me engana. Se não se importou em bater no seu melhor amigo e participar de um estupro, não vai ser agora, com a morte da Tara, que isso vai mudar. Isso mesmo, no fim das contas, ela conseguiu tirar sua vida.

Eu nem tinha superado a morte de Sam, e agora vem a dela. Me sinto extremamente culpada pelo seu suicídio, afinal, ajudei a tornar isso real. Não tem como saber se ela não faria isso caso o plano não acontecesse, de qualquer forma, pensar nas possibilidades não tira esse sentimento ruim de dentro de mim.

Minha amiga se enforcou com um corda pendurada no teto do seu quarto, após terminar de falar ao telefone para toda a escola, já faz alguns dias que seu enterro aconteceu, embora não pude ir, por estar no hospital ainda, o atropelamento que sofri foi leve, de acordo com o doutor, mas não o suficiente para dispensar assistência médica. Mais uma vez, a mãe de Benjamin se mostrou benevolente em pagar a conta do hospital, mesmo que tenha praticamente brigado com meu pai para que aceitasse a ajuda. O meu interrogatório foi no próprio hospital, disse tudo que sabia.

O clima que se instaura na escola é semelhante ao dia após a morte de Sam, com a diferença que a instituição foi forçada a deixar de funcionar por três dias para investigações policiais. Pelo menos dessa vez a popularidade de Jerry desapareceu de vez, ele é xingado nos corredores e acusado de ser um estuprador diariamente, mesmo assim, o garoto sempre dá um jeito de esbravejar de volta seus argumentos, muito diferente de Benjamin quando foi acusado de ser um babaca, meses antes.

Por falar nele, o garoto virou uma espécie de herói, eu o vejo recebendo abraços e pedidos de desculpas frequentemente, o que me deixa muito feliz, ver que depois de sofrer tantas injustiças, ele está sendo compensado.

Quando o sinal toca, me levanto ainda com dificuldade, por causa do atropelamento, fraturei duas costelas e desloquei o ombro, além da abrasão que sofri no asfalto, então, boa parte do meu braço direito está enfaixado. Por um milagre, meu rosto está praticamente intacto, tenho apenas um curativo na bochecha e alguns arranhões.

Junto minhas coisas e as guardo no meu fichário, mas com a mobilidade reduzida, acabo deixando cair duas canetas.

– Droga! – resmungo, enquanto me esforço ao máximo para me abaixar sem sentir dor.

Vejo que uma mão se antecipa em relação a minha e pega meu caderno no chão. Fico assustada ao me deparar com Helena. Mas ela está diferente, não tem aquele olhar de desprezo, nem o sorriso provocador, a garota age como uma pessoa normal.

– Aqui está – diz, guardando as canetas dentro do fichário.

– Tá tudo bem? – as palavras saem da minha boca como um impulso. Ao perceber meu erro, tento sorrir. – É que, você...

– Não estou com vontade de brigar hoje, Beth, considere uma trégua – interrompe.

A minha arqui-inimiga nem olha na minha cara e vai embora, o que me deixa ainda mais assustada. Achei que Helena iria fazer alguma piada sobre meu estado físico, ou sei lá, mandar suas amigas me empurrar da escada. E pensar que até ela está afetada por tudo que houve nos últimos dias.

Depois de cruzar o primeiro corredor, me deparo com uma fila enorme bem no meio dele. A minha testa franze com a curiosidade, mas não sou ousada o suficiente para desrespeitar a formação.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora