Os olhos permanecem fixos no relógio, estou contando os segundos para dar o fora desse consultório. A minha preocupação é o meu namorado. Espero que Ben não tenha receio de estar perto de mim, depois do que ocorreu na escola. Enlouqueci, e acabei fazendo a besteira de sair atirando coisas nas pessoas. Logo após o surto, veio o desmaio. Meus pais foram chamados, e quando acordei, eles estavam comigo na enfermaria. Como consequência, hoje estou nesse consultório contra a minha vontade, aguardando a psicóloga para atendimento. Não disfarço a cara amarrada, e os braços cruzados de forma violenta. Papai é quem aparenta estar mais tranquilo, lendo uma revista. Mamãe, por sua vez, tenta me animar com comentários escoltados de tempos em tempos, quase sempre genéricos.
– Vai ficar tudo bem – diz, de novo, percebendo o meu desconforto. Parece que está repetindo mais para si, do que para mim.
– Eu já tô bem – retruco. "Não preciso de uma psicóloga idiota pra me dizer o quão ferrada da cabeça estou" , penso em dizer, mas retenho as palavras.
– Regina, deixa ela – meu velho se intromete, abaixando a revista. – Sabemos o que causou esse choque. Conversamos sobre isso ontem. Beth vai se sentir melhor se não remoermos o assunto.
Isso! Exatamente!
– Só estou preocupada com a nossa filha. Diferente de você – mamãe dá ênfase na última palavra, e seus braços emaranham-se no peito de um jeito parecido com o meu.
Sinto o celular vibrar no bolso. É Ben. Estamos conversando desde cedo por torpedos, e ontem, depois que fui liberada mais cedo para ir para casa por causa do surto, ele me ligou e perguntou como eu estava. Papeamos por quase uma hora.
Leio a mensagem.
"Ainda esperando" , digito para meu namorado.
"Depois que acabar, podemos conversar?"
"Só não me diga que é sobre o que aconteceu, por favor!"
"Acho que será mais prudente se eu deixar os profissionais da área cuidarem disso, não quero uma namorada me olhando com os olhos pegando fogo de fúria".
Dou uma risadinha, e olho para minha mãe, que prontamente me encara de volta, com o olhar semicerrado. Finjo estar ajeitando o cabelo e volto para a tela.
"Só quero te mostrar mais uma vez o quanto me importo e entendo o que está passando. E que pode confiar em mim para contar o que quiser, caso queira" , ele completa, na próxima mensagem.
"É por isso que você é meu namorado favorito" , envio sem pensar muito, porém, ao perceber o meu erro lógico, tento cancelar. Tarde demais. Bato a mão na testa.
"Namorado... FAVORITO????"
"Pessoa. Pessoa favorita. Me desculpe!"
"Juro que vou caçar os demais, e serei o único na sua vida. Os outros namorados podem se considerar mortos. Seus lábios serão só meus, Elizabeth!"
"Foi sem querer, seu bobo. Eu sou uma garota de um namorado só! hahah".
"Cuidado por onde anda, Chicago é do tamanho de uma bola de baseball para mim. Estou te observando. Assinado: Senhor Misterioso" .
O seu humor me contagia. É sempre assim quando estou falando com Ben. Sorrio.
O som da porta branca se abrindo me faz levantar o olhar. Para minha surpresa, a mulher que será responsável pelo meu atendimento é bem mais jovem do que imaginei e tem o mesmo sorriso da senhora Taylor. Ela nos convida para entrar. Aconchego-me numa poltrona confortável, que pouco cede ao meu peso, meus pais, no sofá ao lado. Começo respondendo a perguntas casuais, porém quando ela me questiona sobre o que aconteceu, fico receosa, mesmo sabendo do sigilo. Após algum tempo, a mulher de cabelos negros consegue me convencer e eu explico de forma rasa que me sinto um tanto quanto culpada por não ter feito nada a respeito do estupro de Tara, tampouco o espancamento de Ben. Talvez tivesse coragem de detalhar um pouco mais, se meus pais não estivessem aqui. De qualquer forma, não ouso falar que assisti todo o desenrolar da cena com meus próprios olhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Amor Adolescente [Completa]
Storie d'amoreElizabeth Roberts é uma jovem inocente que acredita cegamente na bondade das pessoas, e acha que o mundo poderia ser melhor se fosse como em um livro. Porém, após um catastrófico evento que presencia, Beth começa a entender que não há como fugir da...