Traumas Passados - Parte Dois

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Enquanto o funcionário do museu de história de Chicago explica parte dos acontecimentos mais importantes da cidade, os meus colegas insistem em fazer qualquer coisa que não seja prestar atenção. A maioria dos quase trinta alunos parece desinteressada, então optam por cochichar entre si ou fazer comentários desnecessários. O Sr. McBride, o professor de história, acompanha todo o processo. De tempos em tempos ele pede silêncio, e faz questão de relembrar que teremos um trabalho para entregar a respeito dos temas citados.

Laura descaradamente ignora a maior parte do passeio, ela prefere espiar suas redes sociais com uma frequência maior do que deveria. Dou um cutucão forte em sua costela quando a vejo pegar o smartphone mais uma vez. Como resposta, recebo um suspiro longo e cansado. Avançamos pelos corredores lustrados até chegar a um novo salão, um menor, com o teto escuro e com uma réplica da parte da frente de uma locomotiva. Num instante, o som criado pelos nossos passos são abafados pelo falatório infinito do guia. Tento me esforçar ao máximo para absorver cada palavra, e para isso, ignoro os três garotos confeccionando bolinhas de papel pequenas para atirar, ou mesmo Britney e Emily retocando o batom.

Olho rápido para o meu futuro namorado,que não está tão longe de nós, talvez valha a pena trocar algumas palavras. Mas ao mesmo tempo, sei que devo me concentrar. Porém é tão difícil. A tarefa se torna quase impossível quando o vejo lançar as mãos em sua cabeleira negra. Mordo o lábio inferior. Eu me derreto quando ele faz isso.

– Você tem muita sorte dele ser lerdo – minha amiga fala baixo. – Acho que qualquer um com alguns poucos miolos perceberia – coloca a mão na boca, dando risada.

– Já falei pra parar de ofendê-lo! – respondo. Embora ela tenha razão, seria tão mais fácil se Ben percebesse meus sinais. – Por que não me ajuda ao invés de ficar tirando sarro?

– Tá bem, você quer ajuda? Eu ajudo.

Quando Laura faz um sinal com a mão para o garoto discretamente e ele olha para nós é o exato momento em que aplico um beliscão em suas costas. Ela se contorce e resmunga palavrões, mas não desiste de chamá-lo para perto. O menino então se aproxima.

– Oi, Ben – articula, com um sorriso forçado no rosto. Nós duas nos encaramos como num embate mortífero. A loura deixa claro que quer agir por conta própria. Apenas com os olhos digo "não se atreva a dizer e nem fazer nada". – Beth acabou de falar de você – continua. – Soube que tem um Xbox novo bem legal.

– Ah... Bem, é sim – confirma, direcionando o olhar atrapalhado para mim.

Finjo um sorriso natural e dou de ombros. Benjamin agora sabe que contei sobre sua conversa com Sarah.

Eu vou te matar, Laura!

– Não sabia que gostavam de vídeo games – seu tom demonstra empolgação. – Podem ir lá em casa jogar qualquer dia desses, não tem problema algum.

– Acho que vou passar – Laura ergue a mão num gesto. – Mas tenho certeza que minha amiga aqui vai adorar ir – apoia as mãos sobre os meus ombros.

Os meus olhos fogem dos dele a todo custo, enquanto sinto a ardência tomar conta das bochechas, mas não é por amor, é pela mais profunda vergonha de ter sido posta nessa situação.

Definitivamente vou matá-la!

– E então, o que acha? – Ben se dirige a mim.

– Ah... Claro, eu... – lanço um olhar rápido para ele, porém não consigo mantê-lo.

– Acho que vou deixá-los a sós – Laura anuncia, dando uma risadinha, e o silêncio constrangedor se instala. As mãos soam.

– Beth – Ben me faz olhar em seus olhos. – Não precisa ter vergonha. Você poderia ter dito que queria jogar Xbox.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora