Revelações

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O amor. Dizem que a primeira decepção amorosa é a mais marcante. Mesmo sem ter vivido outras, posso afirmar que é verdade, pois perdi o melhor partido que uma garota poderia ter. Talvez todos pensem que o primeiro amor verdadeiro é sempre o melhor partido, por isso a dor é maior.

Mesmo que os meus olhos estejam doloridos, e a pele ao redor deles, inchada, levanto. A indisposição toma conta do corpo imediatamente, mas mesmo assim, a mente está determinada a seguir com a vida da maneira que posso. A dor de ter visto ontem a expressão horrorizada de Benjamin Taylor por causa do meu beijo permanece tão constante no meu peito quanto a perda de Tara.

E falando nela, tive mais um pesadelo essa noite. Era um dia chuvoso como hoje, estávamos prestes a sair para o campo de futebol americano. Quando cruzamos uma porta, saímos no quarto da casa do Jerry. E mais uma vez, assisti seu estupro enquanto ficava congelada. Só não chorei dessa vez porque não tenho forças para isso.

Vou para o que parece o banho mais longo da história dessa casa. A água quente, de certa forma, ajuda a aliviar a tristeza que está impregnada, e relaxa os músculos faciais tensos. Não sei como vou fugir de Ben na escola, porque estamos matriculados juntos em muitas disciplinas. Ainda assim, sei que terei de encontrar um jeito. Laura foi a única a saber do que ocorreu, como sempre. Ela veio aqui e se ofereceu para dormir comigo, mas rejeitei, pois só queria ficar sozinha. Sinto que nunca vou superar o meu namorado imaginário, embora no fundo, sei que não é verdade.

Quando desço para o andar debaixo, ironicamente, parece ser o melhor dia da vida da minha mãe, ela faz algo que não vejo há anos: cantarolar enquanto faz o café da manhã. Basta apenas uma olhada em mim, e o seu sorriso grande desaparece. Mamãe estuda bem a minha face acabada, a qual não meço esforços para esconder.

– Está doente? – é a primeira coisa que diz. Ela hesita por um segundo, talvez sua mente esteja ponderando sobre como deve ser nossa conversação com base em atritos anteriores. Por fim, decide abandonar tudo que rodeia sua cabeça e se aproxima, colocando a mão na minha testa.

– Eu tô bem – resmungo com a voz rouca, me jogando na cadeira.

– Não parece. Andou chorando por gente dos livros de novo?

Nem me dou ao trabalho de responder, tampouco levantar o olhar. Na verdade, faço o oposto, e me debruço na mesa, pousando a testa na madeira fria. Ainda não acredito que todos os meus sonhos foram despedaçados. O pior é que a culpa foi inteiramente minha, é o que me deixa mais chateada. Seria bem mais fácil culpar alguém, mas não posso fazer isso.

– Filha... – Sinto o toque não tão suave da sua mão sobre o ombro e é só então que ergo a cabeça. Mamãe se inclina para a frente, ela analisa o meu cabelo que sequer foi penteado da forma correta. Mesmo querendo me dar uma bronca, minha expressão tristonha a faz adotar outra postura. – Sei que está chateada pelo que conversamos.

– Mãe, por favor, chega disso. Só tive uma noite ruim e não quero falar sobre.

Ela olha para os lados em silêncio, tecendo suas ideias com uma expressão pensativa.

– Tudo bem. Mesmo assim, estava pensando sobre o que disse ontem... E tem razão. Não confio em você – esfrega o olho. – Mas não pela pessoa que é, e sim pela inocência que garotas da sua idade têm – desabafa. – Tenho medo que sofra da mesma forma que eu sofri, quando era jovem.

– O que aconteceu? – a curiosidade me possui.

Mamãe puxa uma cadeira e se senta.

– Eu tinha dezesseis ou dezessete anos. E tinha uma quedinha por garoto da escola, o nome dele era Bruce. Ele era incrível. Forte, popular, engraçado, um sonho vivo. Com o tempo, consegui me entrosar. Meu primeiro beijo aconteceu, foi depois da aula de matemática, fomos para a sala de artes e lá nos beijamos. Saímos algumas vezes, e já foi o suficiente para eu me entregar totalmente, afinal ele era muito, mas muito atraente e tinha um jeito galanteador que me deixava louca. Eu me apeguei – confessa, com um ar decepcionado. – Não pude evitar, mesmo com alguns sinais de que Bruce não era quem parecia, preferi ignorar e seguir a minha intuição.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora