Um teste surpresa, um rádio, um armário, balões e um jaleco

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Acho que os acontecimentos na casa dos Taylor acabaram me fazendo sair do personagem que estabeleci para ser, embora tivesse tentado, não consegui ser a garota doce que gostaria. Essa história de viver como se fosse um livro pode parece esquisito para muitos, mas para mim, é o que torna a vida divertida. É claro que eu não finjo ser o que não sou, apenas rotulo o que já sou. Pensando melhor, dizer que a menina que é sempre boazinha algum dia perder a cabeça e se alterar por uma razão perfeitamente justificável não é exatamente sair do personagem, talvez seja apenas uma curva baixa na função.

Ainda estou aborrecida com Ben, pois ele agiu de uma maneira totalmente desnecessária. Ao mesmo tempo, entendo que não deve ser fácil passar pelo que passou, parece que o menino se importava muito com o pai, então a separação deve ter feito um estrago emocional que não posso mensurar. Embora sinta pena, não quero ser a pessoa que vai tentar ajudá-lo a superar, é algo que está muito além da minha capacidade. O que pretendo fazer é manter a indiferença, assim não ajudo e nem atrapalho. De qualquer forma, não acho que seria o tipo de coisa que conversaríamos, nem somos próximos.

O sol escaldante castiga a todas nós, me encontro sentada na arquibancada do campo de futebol americano, o grupo de onze meninas ensaia a coreografia que acabei de mostrar enquanto uma música bem agitada é reproduzida. O que decidimos foi uma dança bem mais dinâmica, com vários movimentos acrobáticos intercalados, e é nessa parte que estamos com maior dificuldade, até agora, apenas duas conseguiram realizar todos os movimentos, Tara, e Helena.

A minha rival se joga para trás com a ajuda de uma das líderes e para em pé com perfeição, e olha para mim com um sorriso provocador, escondido atrás dos lábios apertados e os olhos mais cerrados. Sorrio de volta sem problemas, devolvendo a ela tudo que me foi oferecido. Em seguida, Helena tenta algo ainda mais ousado, a garota joga seus sedosos cabelos escuros para cima enquanto desliza as mãos em seu corpo esbelto e finaliza com uma rebolada sensual, que arranca reações positivas de todas.

Nessa hora, Tara surge e as outras correm para trás, se enfileirando para sincronizar os movimentos de braços e pernas combinados com as batidas da música, elas terminam formando duas linhas retas para que minha amiga dê a volta e acabe o show correndo no meio delas e dando um mortal no final. Ela respira fundo enquanto se prepara, mas não para de remexer os quadris para o lado, no ritmo da música. Seu sorriso largo e exuberante aparece, duas garotas começam a torcer pela moça.

Em seguida, avança pelo meio das líderes para executar o movimento, os meus olhos se enchem de felicidade ao ver que tudo corre bem. No último instante, vejo um pé se deslocar poucos centímetros para fora da linha perfeita e tocar os sapatos da Tara, fazendo-a tropeçar e cair de cara.

Todas lamentam, mas a única que realmente faz alguma coisa é Sarah, que a ajuda a levantar, nessa hora, já estou atropelando os bancos para descer, quase caindo também.

– Eu tô bem, eu tô bem – a garota diz para as outras duas que se aproximam, cobrindo seu corte no lado esquerdo da testa com uma mão arranhada.

– Foi a Helena! – Uma delas acusa.

– Eu não fiz nada, ela caiu sozinha – se defende, olhando para suas três amigas que descaradamente tentam esconder o riso. – Era só o que me faltava, a rainha cai e os súditos que pagam.

As quatro se amontoam, e Helena me encara com um sorriso de canto ao passo em que suas amigas conversam. O pé que vi era o dela, tenho certeza, até por causa do detalhe único em seu tênis branco. Quero muito fazer justiça, queria fazê-la sentir na pele o que é ser sabotada, mas, sou uma pessoa que não desce nesse nível, ainda mais por algo tão frio como a vingança. De qualquer forma, não acho que esse trio de jararacas iam me deixar apertar o pescoço dela, tudo que posso fazer é engolir a raiva e manter a postura.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora