– Um, dois, três, quatro – faço a contagem no ritmo da música enquanto estalo os dedos para marcar o compasso.
Meu olhar foca exclusivamente na líder de toda equipe, a garota permanece com uma expressão neutra, não faço a menor ideia do que está pensando. Embora eu odeie Helena, tenho que admitir que ela é linda e tem estilo, é impossível não saborear aquelas esferas oculares negras, tão agitadas quanto a música. O batom vermelho escuro que acompanha seus lábios e completa o visual. Quando juntamos isso com um belo rosto oval e a maquiagem que o destaca, temos uma jovem mulher exuberante.
As meninas me observam executar uma das partes mais difíceis da coreografia. Com um único impulso jogo todo o corpo para trás e paro em pé. Mantenho o ritmo, fazendo os quadris seguirem a sincronia da música, explorando os braços para me auxiliar nos próximos movimentos. Termino com um giro e algumas reboladas para diferentes lados. Essa é uma performance originalmente feita por minha amiga falecida. Trabalhei duro nela, e em segredo para melhorar algumas coisas. O meu objetivo era mostrar para Tara e fazer uma bela surpresa. Seria algo como o professor se emocionando com os feitos do aluno. Ela se foi, então, quero ao menos homenageá-la, dando o crédito ao seu nome. Finalizo a dança com as duas mãos na frente do rosto como se fosse uma oração, com a cabeça levemente abaixada e anuncio o nome de Tara como a mente por trás da coreografia.
Ninguém parece feliz ou mesmo aplaude, como era de costume. Na verdade, todas se mantêm quietas. E como Sarah não está participando desses ensaios, o grupo da Helena mantém a unanimidade.
– Meus parabéns, Beth, ficou ótima – a jararaca se manifesta me dando um sorriso bonitinho que nunca comprei como real. – Mas, não sei se vamos conseguir executar tudo isso – torce o nariz, o que me deixa surpresa e confusa ao mesmo tempo com a sua "derrota declarada".
As garotas se entreolham e comentam, percebo a insegurança se espalhando e as infectando como um vírus, e entendo o motivo: a nova coreografia que mostrei é bem maior e além do salto, tem muitos passos em conjunto que exigem muito equilíbrio e postura. É algo que não sei se todas terão.
– Se ensaiarmos todos os dias, e ficarmos depois das aulas vamos conseguir e vai ser nossa melhor apresentação – contesto, passeando o olhar pelas líderes.
– Eu não duvido, mas temos que pensar na equipe como um todo. Não adianta se todas não estiverem em sincronia.
– Também acho – uma voz concorda.
– Beth, entendo, de verdade seu esforço – ela massageia meu ombro com aquele mesmo sorriso cínico. – Por que não tentamos fazer a minha coreografia?
– Vou apresentar com vocês, posso dar suporte em algumas partes – sugiro, tentando ser o mais prestativa possível. Afinal, eu sou a coreógrafa, é a minha única função. Além disso, queria muito poder dizer para a escola no fim da apresentação quem foi a minha inspiração, e desenterrar no coração de todos a memória esquecida de Tara.
– Você tem uma coreografia? – outra menina pergunta, o que acaba abafando a minha voz.
– Claro que tenho. Vou mostrar – sou novamente ignorada.
Ao ver a animação das garotas, finalmente entendo o plano da jararaca: me deixar de fora de tudo que envolve a torcida. Desse jeito não terei a menor chance. Fecho um dos punhos e recuo um passo, tendo que engolir meu orgulho.
– Vamos começar, por partes – faz um gesto para que as meninas se levantem. Segundos depois, a música recomeça e elas observam Helena e suas amigas.
Me afasto lentamente, indo até a perto do rádio posicionado na arquibancada de madeira do campo.
Sou mesmo um fracasso, nem consigo obter a empatia das garotas de forma que pudessem me defender, ou mesmo ter força para que eu mesma o faça. Tudo que posso fazer no momento é observar Helena se divertir com a minha derrota. Dou um único e lamentoso suspiro.
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Meu Amor Adolescente [Completa]
RomanceElizabeth Roberts é uma jovem inocente que acredita cegamente na bondade das pessoas, e acha que o mundo poderia ser melhor se fosse como em um livro. Porém, após um catastrófico evento que presencia, Beth começa a entender que não há como fugir da...