Dias Sombrios

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A escola já não é para os meus olhos um lugar iluminado e divertido, é como se o preto e branco a tivesse tomado, talvez seja o cinza. A notícia sobre os acontecimentos já se espalharam, mas não foi sobre a tentativa de estupro e sim sobre a briga entre Jerry e Ben. A polícia compareceu na festa, porém, o que antes poderia garantir a prisão dos três garotos foi supostamente confirmado como um desentendimento, já que Tara fugiu e aparentemente não prestou queixa. Quem sabe o que realmente aconteceu são apenas sete pessoas: os três abusadores, Ben, Tara, Laura e eu.

Os pais foram chamados, a senhora Taylor fez de tudo para provar que Ben claramente sofreu uma agressão física e o corte na cabeça de Jerry foi apenas ele se defendendo, a mulher foi quase que ignorada pela polícia, mas o caso ainda está em andamento, é tudo que meu pai me contou. Aparentemente, ninguém além de nós sabe da verdade, as pessoas que viram Tara ser levada parecem ignorar o fato. Preciso falar com ela primeiro, antes de me pronunciar sobre o que houve naquele quarto, porém ainda não consegui.

Tudo parece ficar em câmera lenta, todos no corredor param o que estão fazendo para ver Benjamin passar, seu rosto está todo marcado por hematomas, e tem curativos no nariz e um acima do olho esquerdo. Ele anda devagar, quase mancando, ignorando tudo, as pessoas já não o vêem como um cara legal e sim como um estraga prazeres, pois dizem que o Taylor começou a discussão sem motivo e o "pobre" Jerry acabou se cortando com seu "ataque covarde". Não escuto uma única mosca, os alunos querem ver como está o garoto que brigou com o cara mais popular da escola, o menino continua seu trajeto sem falar nada, apenas ajeita a alça da mochila com cuidado no ombro que também deve estar ferido.

Sinto muita pena, e ao mesmo tempo horrível por não ter ajudado. Não acho que eu faria tanta diferença assim, mas ao menos ele teve atitude e foi isso que impediu Tara de ser estuprada. Os meus olhos lacrimejam, tensiono o maxilar. A minha amiga percebe isso, pois já contei a ela tudo que ocorreu.

– Não consigo mais odiá-lo – confessa. – Mas, ele nunca vai saber disso.

– Ben é o cara legal que sempre se ferra nos livros, Laura – digo. – Você não conseguiria odiá-lo por muito tempo nem se quisesse, eles são os melhores.

– Lá vem você com essas analogias de livros – revira os olhos. – A vida não segue as histórias.

– Tem razão, ele é muito melhor que isso – uso um dos meus dedos para limpar a lágrima que escorre no meu rosto. – Só queria que tudo tivesse um final feliz.

– Vai ter, eu espero, mesmo – ela lamenta, e segura a minha mão, como um gesto de carinho.

Tudo volta ao normal quando o garoto entra numa sala, as pessoas começam a fofocar umas com as outras. Jerry e seus mais novos amigos não apareceram na escola, assim como Tara. Ainda estou chocada com o que houve, estava tão acostumada com uma vida tranquila, onde o maior drama era a peste da Helena que nem acreditava que alguém aqui poderia ir tão longe.

Tentei ligar várias vezes para nossa amiga, mas não tive êxito. Ontem fui à sua casa, porém seus pais me disseram que sua filha não estava se sentindo bem, e que não queria receber visitas. A moça se fechou totalmente, e não a culpo.

Hoje vou tentar falar com ela mais uma vez, não posso desistir de ajudá-la, ao menos agora, já que no sábado eu falhei. Antes achava que nossa escola era diferente, o mais popular também era legal, gentil, mas não, ele é exatamente como um "valentão padrão", só estava fingindo não ser.

É inevitável não fazer esses paralelos, a vida imitando os livros, ou talvez isso aqui seja apenas um livro imitando a vida que imita o livro.

O sinal tocando me desperta, tenho que ir para as aulas, embora não esteja com a menor vontade. Pego minha amiga pelo braço e seguimos. Durante o horário de história, foco meu olhar no Taylor, estou tão preocupada com ele que não consigo evitar, aquela sua expressão calma já não existe mais, ela deu lugar a um olhar inexpressivo. Helena se senta ao lado dele e fala alguma coisa com aspereza. Fico contente ao notar que o garoto não olha, nem responde, afastando-a sem usar uma só palavra. A insuportável o chama de bruto e muda de lugar.

Meu Amor Adolescente [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora