Sempre Perto - Livro 4 Série: Paixão e Amor

Capítulo 5

Augusto

Ainda estava confuso com tudo o que Cristina disse naquela manhã, mas considerando todo o seu esforço para ir naquele encontro e fazer dar certo sua procura por um namorado, ela estava mesmo obstinada, e quando colocava uma coisa na cabeça, nada nem ninguém era capaz de fazê-la mudar de ideia, o que era bom em alguns aspectos, porém péssimo em outros.

Mas mesmo que Cristina fosse teimosa e cabeça dura, conhecê-la foi uma das melhores coisas que me aconteceu e hoje era impossível criar planos futuros para minha vida sem incluí-la neles.

Meus pais, sendo militares que levavam seu treinamento muito a sério até na vida pessoal, fizeram com que meu irmão e eu tivéssemos que crescer em um ambiente não muito amoroso e bastante disciplinado. Félix, meu irmão mais velho, se adaptou bem naquele tipo de vida, sempre comportado, seguindo regras e querendo impressionar nosso pai, mas comigo não foi a mesma coisa.

Minha vocação não era a carreira militar, para mim isso sempre foi óbvio, mas meu pai não admitiria ter um filho que desonrasse o nome de uma família formado por soldados há gerações, por isso fez de tudo para mudar meus pensamentos e tentar me obrigar a seguir seus planos para o meu futuro. Ele me colocou em aulas de luta, me fez ir para algumas temporadas em acampamentos militares para adolescentes, e permitiu que meu irmão me batesse sempre que quisesse, assim como ele mesmo fazia quando eu desrespeitava alguns dos seus padrões.

Nos mudamos de cidade depois que ele conseguiu um emprego em Nova York, e foi na escola nova que vi aquela pequena garota sendo feita de chacota pelos colegas. Naquele dia as aulas de luta que fiz contra minha vontade ajudaram em alguma coisa, mas eu deveria ter ficado longe dela, meu pai não permitia que eu tivesse amigas, porque na visão dele isso me deixaria mais fraco do que já era. Porém, assim que vi o olhar assustado daquela menina encolhida em um canto, abraçada a um livro e prestes a chorar, percebi que não conseguiria mais me afastar e nunca mais deixaria que alguém a machucasse daquele jeito. Essa certeza se tornou maior depois que Cristina finalmente deixou que eu me aproximasse e pudesse conhecê-la melhor do que a maioria das pessoas cinhecia, mesmo que ela não soubesse tudo sobre mim apesar de pensar que sim.

Ter alguém como ela ao meu lado, e também a sua família, foi como encontrar um caminho depois de estar há muito tempo perdido em um labirinto escuro e sem saída. Ela me mostrou que eu não precisava seguir os passos de outras pessoas, apenas porque todos que eu conhecia diziam que era o certo. Me apresentou uma família que sabia amar de verdade e me ajudou a encontrar minha vocação, me incentivando a seguir meus sonhos, sem dar ouvidos as palavras de ódio daqueles com quem eu compartilhava o mesmo sangue, mas que me machucaram tanto.

Quando a notícia de que eu era gay se espalhou pela escola, meu irmão descobriu e ameaçou contar ao nossos pais se eu não fizesse tudo o que ele queria. Isso durou semanas, até que decidi não me importar mais com a opinião dos meus pais e fui morar no campos da universidade, depois de receber uma surra do meu pai que não aceitou minha decisão do que fazer com minha vida. Com minha saída de casa, Félix decidiu que não era mais tão legal me ameaçar, edeixou o assunto de lado, não dando mais motivos para o meu pai me odiar, o que foi um alívio imenso.

Minha mãe talvez fosse a única pessoa um pouco melhor entre todos naquela família, mas apesar de se importar comigo e ter me protegido de muitas da surras do meu pai, além de nunca ter tentado me forçar a seguir os passos da nossa família, ela era devota demais ao marido para tentar contrariá-lo e sempre queria tentar manter a harmonia em casa, o que não acontecia quando Paulo estava irritado.

Ser sócio em uma das melhores editoras da cidade foi um grande passo para mim, um do qual eu me orgulhava muito, ainda que ninguém na minha família tivesse me apoiado, exceto minha mãe.