- Cinco; First love -

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— Pode parar, Adrien. Eu gostaria de saber o que está acontecendo com você. - o homem de meio idade, cabelos pretos cheios e olhos verdes escuros parado ao lado do instrumento, encarou seu aluno com uma feição preocupada.

Adrien sentado ao piano, desviou o olhar esfregando as madeixas loiras em nervosismo.

Ele não sabia o que estava acontecendo. Não sabia porque seu som saia tão abafado. Ele deveria colocar mais forças nas teclas? Então por que todas as notas pareciam tristes e melancólicas nos últimos tempos?

— É a partitura nova? Está tendo dificuldades? - o instrutor o questionou estranhando a reação do rapaz.

— E-eu não consigo entender a partitura, Plagg. Eu não sei o que falta nela. Sinto que está incompleta. - sem encarar o professor ele observou a noite sem estrelas pela janela naquele sábado frio.

— Uma música autoral é sempre algo difícil, Adrien. Mas foi você quem criou In The Rain. Que tipo de emoções você queria passar quando a criou? - sorriu consolável para o jovem loiro.

O senhor, instrutor de piano e compositor musical era uma figura simpática, porém excêntrica na visão do rapaz.

— Eu criei essa música há muito tempo atrás. Ainda era pequeno. Eu não sei o que pensei quando criei ou o que me inspirou. - murmurou desanimado. - Eu não consigo entender o que ela é. Mas me parece triste e melancólico demais quando toco. O som perde força e sutileza, parecia vazio e sem sentido. - as íris verdes tremularam confusas procurando por uma resposta da qual ele não fazia ideia do que era.

— Seu som está deprimido, porque você está. Desde pequeno seu som transmite sempre o que você sente. Descanse por hoje. Ouça outras músicas, expanda seus horizontes. Tente entender, ou se lembrar o que In The Rain significava para você ou ressignifique ela. - Plagg se aproximou sentando ao lado do rapaz - A música é o que você quer que ela seja.

Adrien suspirou pesado, pondo as duas mãos no rosto, insatisfeito.

— Eu quero descobrir o que ela significa. Eu quero descobrir no que pensei quando estava escrevendo. Já tem tanto tempo. - encarou o professor. O pé esquerdo se inquietou no chão. - Eu deveria imaginar que não faria mais sentido pra mim já mais velho do que quando eu escrevi isso tão novo. - observou o piano preto sendo iluminado pela Lua que nele incidia, com o olhar abatido. - Na verdade não sei o que me deu quando achei isso. Essa vontade de tocar uma música tão velha. - resmungou.

— Essa música, por mais antiga que seja, é sua. Apenas sua. E músicas jamais envelhecem, Adrien. Elas se ressignificam para cada pessoa. Você, melhor do que ninguém deveria saber disso. - tocou o ombro do aluno fazendo com que ele lhe olhasse novamente. - Ache o real significado dessa música pra você. Mas descanse por hora.

— Eu não... deveria treinar mais? - a voz soou cautelosa e inquieta.

— Não tem necessidade pra isso. A música que você vai apresentar no Festival de Música Clássica e Contemporânea de Paris está perfeita. E teremos ainda muito tempo para treinar In The Rain. A apresentação de final de ano no Palais Ganier é só daqui há dois meses. Então, não seja um moleque teimoso e relaxe.

— Eu já deveria conseguir tocar sem tanto trabalho, pareço um amador. - bufou fechando o piano.

O homem balançou a cabeça. Adrien era demasiadamente ansioso. Não poderia culpá-lo, o peso que aquele jovem carregava para ser o melhor e superar as expectativas por ser um prodígio era pesado demais.

— Garoto, não é porque você é um prodígio que deixa de ser um humano com dúvidas e receios. Não se cobre tanto. - levantou, bagunçando os fios loiros do aluno. Não havia nada que ele pudesse fazer naquele momento. Adrien precisava lidar com os próprios demônios. - Tenha uma boa noite, rapaz. - encaminhou se até a porta, saindo do quarto sem esperar que o jovem o respondesse.

No Way, Dumb!Onde histórias criam vida. Descubra agora