The Scientist

107 7 0
                                    

Capítulo 16

   Camila saiu do banheiro enrolada em uma toalha azul, minha toalha. Seus cabelos molhados pingavam água. Meu corpo seguia frio da chuva que tomamos, a roupa estava seca no corpo gelado. Gelado, como o vazio que eu sentia após aquela conversa com meu pai.

- Masie, o que aconteceu? Porque você está assim? - Camila me abraçou.

- Você tem razão. Meus pais são contra. Muito mais do que pensei. É pior do que a gente imagina. Eles pensam que sua família inteira quer me dar um golpe, que você não sente nada por mim. Tanta coisa! Tanta coisa.

- Mas eles querem dar um golpe mesmo. Eles são aproveitadores sim. Seus pais estão certo sobre isso. Mas não sobre nada do que eu sinta.

- Eu vou sair daqui. Passar uns tempos no apartamento de Fulham, não sei. Se você quiser, pode ficar comigo.

- Se você quiser, pode ficar comigo. No meu cantinho.

  Ela me acalentou com carinho. Colocou um roupão e me levou para o banho. Nos vestimos e ela me ajudou a arrumar umas malas.

   Me despedi dos meus pais, ela saiu em silêncio. Minha mãe chorava. Meu pai tinha entendido que não havia mais nada a ser feito, porque eu estava apaixonado e iria seguir com aquela mulher, onde quer que ela fosse.

   Naquela época, Bertha, a governanta da minha casa, quase que a minha babá, concordou em ir três vezes na semana cuidar das coisas do apartamento. Ela adorava minha namorada. As duas podiam ficar na cozinha fazendo sabe se lá o quê por horas. Ela insistia para que Camila fosse morar comigo, mas confesso que ainda tinha certo medo de estar adiantando tudo.

   Antes da família de Camila ir embora eu dei um valor em euros para a sua mãe. Eu sabia que Camila não ganhava por mês nem metade do que eu tirava em uma semana, mas também sabia que ela nunca aceitaria aquilo. Bom, eu só queria que eles a deixassem em paz. Vi de perto o quanto a presença da sua mãe, e principalmente do monstro do marido dela faziam mal a minha menina. Ela se apagava perto deles. Eu não sabia o quanto poderia errar. Não queria compartilhar isto ou as palavras duras de meu pai com ela. A amava tanto para ver seu semblante triste ou preocupada.

   Quando eles foram, Camila passou alguns dias viajando a trabalho. Mais precisamente eram oito dias sem vê-la. Fotos, desfiles. Minha pequena era uma grande modelo. Era engraçado como as pessoas passaram a amar nos ver juntos. Até mesmo minhas fãs, normalmente ciumentas, gostavam dela. Da simpatia dela, do seu jeitinho espontâneo. De quanto pulava com as pernas envolta da minha cintura do mesmo jeito que me recebia em casa, mesmo estando na rua. De como dávamos comida um na boca do outro em público. Talvez uma das fotos mais felizes que eu tenha na vida foi justamente quando fui de surpresa encontrar com ela em Paris, onde estava desfilando.

   Cheguei apressado, atrasado e sem uma credencial para um desfile da Chanel. De novo, eu indo ver ela depois de um desfile deles. Tantos meses depois, talvez nem tantos assim, mas com minha vida totalmente modificada. Bom, agora éramos mais famosos. Mas ainda assim não consegui uma credencial. O que não me impediu de conseguir esperar ela na saída antes da festa do desfile.

   Ela correu alegre e largando a bolsa com Clarice, ou jogando no chão, não sei, mas correu em minha direção e me abraçou. Me beijou. E os fotógrafos do evento esqueceram um pouco de todas as pessoas mais famosas que nós. 

Chuva de LondresOnde histórias criam vida. Descubra agora