𝐁𝐑𝐔𝐓𝐀𝐋, 𝒘𝒊𝒍𝒍 𝒃𝒚𝒆𝒓𝒔 ✔︎

✵𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐎

"𝐀 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐞́ 𝐚𝐩𝐞𝐧𝐚𝐬 𝐮𝐦 𝐧𝐨𝐯𝐨 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐜̧𝐨"
𝑊𝑖𝑙𝑙 𝐵𝑦𝑒𝑟𝑠, 𝐶𝑎𝑙𝑖𝑓𝑜́𝑟𝑛𝑖𝑎; 1987

“𝑇𝑊: Citações à transtornos
alimentares (TA) e a crises de
ansiedade”

𝐂𝐀𝐋𝐄𝐁, 𝐎𝐔 014 𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐌𝐎𝐑𝐓𝐎.
Tenho apreendido a lidar com isso, mesmo que, no fundo, ainda me afunde nas dores trazidas pelas lembranças.
O sol californiano está me cegando, Francis está falando muito ao meu lado, meus dedos se perdendo em meus cabelos curtos, enrolando o mesmo.

— Como você está se sentindo? – Ela pergunta, seu sorriso desapareceu por completo; agora ela está séria – Já faz bastante tempo desde que voltamos para a Califórnia... Tem se sentido bem?

Jane observa tudo com cautela; Jonathan está no volante, mas consigo ver seus olhos curiosos pelo retrovisor, ele, finalmente, consertou o carro.

Os pesadelos ainda são recorrentes; as alucinações estão cada vez piores; ainda ouço coisas e, as vezes, falo sozinho, o que deixa a todos preocupados; o sangramento nasal tem diminuído, mas os médicos ainda suspeitam de uma possível doença ou hemorragia; minha cabeça dói com frequência, inclusive, ela está doendo nesse exato momento, mas fora isso, tenho lidado "bem" com o luto. Bem mal, para ser sincero.

— Eu estou... bem. – Menti, não quero deixar eles ainda mais preocupados do que já estão.

— Will, – Jane inicia, fazendo uma breve pausa; ela olha no fundo dos meus olhos – você tem certeza de que está bem?

Jane tem agido de forma estranha, isso me deixa um tanto desanimado. Faz tempo que eu sei que ela está mentindo, só não desejo saber a verdade, seria... doloroso, eu acho, ela é minha irmã, não devia mentir para mim.

— Tenho, assim... Eu ainda tenho dores de cabeça e pesadelos, mas não o resto, não mais.

O silêncio domina o carro, alguns segundos se passaram, eu, então, abro o meu maior sorriso e início uma conversa longa sobre o recente relacionamento de Francis. Ela está radiante, isso me deixa radiante também.
Jonathan para o carro, estamos em frente a escola.
Desço do mesmo e ando até a janela aberta no banco da frente.

— Tem certeza de que não precisa de ajuda? – Eu tento – Deve ser difícil escolher coisas de casamento.

— Will, você não pode fugir da escola para sempre, eu sei que é... complicado, mas você vai conseguir. – Jonathan sorri, um sorriso que poderia destruir minha alma se me fosse tirado; tenho tentado faltar as aulas, mas Jonathan insiste que ir a escola vai me fazer bem – E sobre o casamento: está tudo bem, Nancy pegou um vôo, ela deve chegar pela noite.

Meus olhos estão levemente arregalados.
Eu sei que isso é importante para o Jonathan, Deus! Ele vai se casar!
Eu não havia me dado conta do quão incrível é essa notícia até pouco tempo.

— Você merece, Jonathan. – Eu sorrio, uma frase repentina, mas tão pura e verdadeira – Merece toda essa felicidade e mais; até depois.

Sigo andando, Jane e Francis já haviam ido, provavelmente atrasadas para alguma aula; Jane como estudante, Francis como professora estagiária.

Ponho os fones, Should I stay or should I go toca em um volume consideravelmente alto. Sinto os olhares sobre mim, minha má fama vem me assombrando a algum tempo.

“𝑇𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑜𝑙ℎ𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑎̃𝑜 𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂”, meu coração grita em agonia e mágoa, meu cérebro ainda puxando de forma arrastada para minha mente diversas cenas que, até então, eu não entendo.
Minha mente está anestesiada, um arrepio percorre a minha espinha, levo minhas mãos a nuca e, logo, a voz familiar grita por cima da música, me fazendo querer chorar.
Isso tem acontecido com frequência, o que é assustador, eu só me sentia assim em Hawkins, a última vez fora a um ano, não esperava me sentir assim aqui também; mas cá estou eu, ouvindo a voz de meu falecido amor enquanto sinto a presença sobrenatural daquele mundo que me persegue desde tão novo.