capítulo 3

860 61 1
                                    

Narrado por Waverly Earp


Eu lutava contra a resistência da chave na fechadura, como se a porta tivesse decidido que hoje não era dia de me deixar entrar. O som metálico das minhas tentativas frustradas era praticamente uma trilha sonora de derrota na noite chuvosa. Com as mãos congelando e encharcadas, a frustração só aumentava. O cansaço e a fome já estavam fazendo uma festa dentro de mim, e eu era a convidada de honra no banquete do desastre.

Desanimada, soltei um xingamento que se perdeu no som das gotas de chuva, enquanto o desconforto da situação se intensificava. A temperatura baixa e a escuridão ao redor só ampliavam a sensação de desamparo. Aquela chave, tão pequena e teimosa, parecia ser a última barreira entre eu e o abraço reconfortante do meu lar.

Ao chamar pela Willa, o silêncio que ecoou só aumentava a solidão daquela noite tempestuosa. A preocupação começava a se entrelaçar com o desconforto físico que me dominava. Cada minuto arrastava-se como uma eternidade enquanto eu ficava ali, encolhida, tentando desesperadamente encontrar uma solução para a porta rebelde.

Através dos óculos embaçados pela chuva, vi a caminhonete do meu pai se aproximando na penumbra. O barulho dos pneus na rua molhada era tipo música para os meus ouvidos. Mas quando ele estacionou, percebi que algo estava estranho. Não era a costumeira embriaguez, era raiva pura estampada na cara dele.

— O que você está fazendo aqui fora? — Ele perguntou, deslizando as mãos pelo cabelo todo molhado.

— Eu simplesmente não consegui abrir essa porta maldita — resmunguei, e ele revirou os olhos, puxando sua chave do bolso. Com um movimento rápido, ele encaixou na fechadura, e a porta se abriu como se estivesse esperando por ele o tempo todo. — Por que a minha não está abrindo? — Franzi o cenho, perplexa.

— Eu tive que trocar as fechaduras, pensei que sua irmã já tinha te avisado. — Ele explicou, mexendo nos armários. Com um gesto rápido, retirou outra chave. — Toma, faz uma cópia dessa e depois me entrega.

— Sim, senhor. — Tremendo, subi as escadas às pressas, despi-me das roupas molhadas e pulei debaixo do chuveiro quente. Quinze minutos mais tarde, saí enrolada numa toalha, finalmente começando a me sentir um pouco mais aliviada depois de toda aquela confusão.

"Nicole Haught." Nunca imaginei que nossos caminhos se cruzariam assim. Hoje foi uma surpresa total. Ela é bem diferente do que todo mundo fala por aí. Sabe como é, as pessoas adoram inventar histórias sem nem conhecer de verdade. Mas eu sempre ignorei esses boatos sobre a ruiva. Na real, nunca me importei muito com ela. A Nicole Haught e toda a popularidade dela pareciam estar em um universo paralelo pra mim.

Como se fossem óleo e água, nossos mundos são como opostos que nunca se atraem. Ela, a garota popular, e eu, a esquisita que prefere ficar na minha. Nossos caminhos na escola nunca se cruzaram, e honestamente, nunca tive vontade de que isso acontecesse. Parece que há uma linha bem definida entre nós, e até agora, não me senti motivada a ultrapassá-la.

Depois de finalmente escolher a roupa perfeita, eu sequei meu cabelo com a toalha e depois com o secador. Com tudo pronto, peguei meu celular, me joguei na cama e coloquei meus fones de ouvido. Pronta para curtir meu momento zen, apertei o botão de ligar e... Nada. Lembrei que o danado ainda estava no vermelho.

Bufei, me levantei da cama e conectei o celular no carregador. Fiquei ali, plantada, esperando que a energia voltasse ao meu fiel escudeiro tecnológico.

Waverly, vem enxugar o chão! — Meu pai gritou lá embaixo, e eu revirei os olhos. Estava exausta. Justo naquele momento, mais uma tarefa doméstica caía no meu colo, como se a noite já não estivesse tumultuada o suficiente.

A popular e a esquisita - WayhaughtOnde histórias criam vida. Descubra agora