Jogo da Paixão

• Capítulo 02 •

27/03/2014, Connecticut - EUA.

    Duas semanas se passaram, e foi o tempo que Maraisa tivera para se organizar para aquele dia. O dia, que tinha feito morada em sua cabeça nos últimos tempos. Era o primeiro, e se tivesse sorte o último, dia da famigerada audiência que decidiria quem, ela ou a dra. Mendonça, que ficaria com a tal vaga na empresa que queriam.

    Carla estava na sala de reuniões com os papéis do caso espalhados pela mesa e remexia as mãos, nervosa. Tentava se convencer de que não era o fim do mundo, pois mesmo que não conseguisse vencer ainda poderia tentar entrar como qualquer outro estudante. Mas a vaga que estava disputando com a Marília era privilegiada, ainda assim. Ela precisava vencer.

    Expirou, estressada, e apoiou o rosto nas mãos. Primeiro dia. O caso era relativamente simples, era disputa sobre a custódia legal de um menor. Marília foi escalada para o lado do pai enquanto Maraisa acabou ficando com a mãe da criança, Caroline Carter. Deram a ambas apenas duas semanas para construir argumentos e arrolar testemunhas para as ajudarem a concretizar os argumentos. Ela havia conseguido, então tentava se manter confiante.

    Maraisa continuava lendo alguns arquivos sobre as testemunhas, e mais informações do caso, com calma, letra por letra, revisando tudo que havia escrito para usar, perguntando-se se seria suficiente, e então começou a bater a ponta da caneta contra a mesa de forma impaciente. Sua concentração naquele dia estava deplorável, e apenas com o som da porta da sala abrindo ela já se perdeu onde estava no texto que estava a lendo. Revirou os olhos. Sabia que, com sua desconcentração juntando com a impaciência que sentia, se não melhorasse dali para o horário da audiência iria acabar estragando tudo.

    — Good Morning! (Bom dia!) — Maraisa escutou o cumprimento e cerrou os punhos quando reconheceu a voz. Para ajudar na sua impaciência...

    Escutou murmúrios de resposta das outras duas únicas pessoas que estavam presentes, mas Carla se manteve calada. Ela olhou-a de soslaio apenas quando a mulher decidiu se sentar justamente ao seu lado, dentre tantos outros lugares.

    Mendonça estava impecável. Usava uma calça preta estilo flare e um blazer, ambos pretos, formando um famoso terninho, e por dentro usava uma blusa branca. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque que parecia ter demorado horas pra fazer na base da nuca, com algumas poucas mechas soltas de cada lado do rosto, e usava uma maquiagem monocromática, que transitava bem entre o simples e o elaborado. Seu nariz estava empinado quando lançou um olhar indiferente pra Maraisa.

    — Dia importante, não? — indagou em um tom provocante.

    Carla ergueu o olhar e abriu um sorriso afiado.

    — Sim. Importantíssimo. Boa sorte, inclusive — desejou, mas pelo tom de voz e pelo sorriso estava claro que não queria dizer exatamente isso.

    — Desejo o mesmo. — respondeu Marília no exato mesmo tom.

    Maraisa voltou a atenção para os documentos na sua frente mas, se antes não estava concentrada, com a presença plenamente notável e opressora demais de Marília ficaria impossível.

    — Por que você ainda está tentando, doutora? — Mendonça perguntou em tom baixo para que só a mulher escutasse.

    — Perdão? — respondeu, apesar de ter escutado bem.

    Marilia recostou nas costas da cadeira com suavidade enquanto soltava um suspiro.

    — Por que você já não desiste logo? Você sabe que contra mim você não tem a menor chance, não sabe? A causa já está ganha para meu lado.