• Capítulo 05 •

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    Maraisa foi puxada pela irmã para uma porta mais aos fundos que deu em uma cozinha externa e ela permitiu seus olhos analisarem o local. Percebeu como a paisagem era completamente natural, toda verde, o ar era limpo. Era lindo, calmo e tranquilo. Se sentiu estranhamente em um lar, com uma paz desconhecida em seu interior. Ela realmente morava ali? Não sabia que precisava urgentemente se mudar pra um lugar assim até ver uma casa com esse background.

    Maraisa olhou para o céu com raios vermelhos e alaranjados e ficou surpresa quando viu que o sol estava perto de se pôr, mas o céu estava limpinho — sem nenhuma ameaça de chuvas. Ela quase conseguiu rir com a raridade daquilo. Connecticut mal sabia o que era um céu sem chuva, principalmente perto do cair da noite. Os verões eram no máximo mornos, ao invés de quentes, e o inverno era frio de trincar os ossos. Se contasse as vezes em que vira o céu de lá limpo assim em cinco anos, não daria os dedos de uma mão.

    Parecia até... outro lugar.

    Maraisa travou com o pensamento e se perguntou qual seria a chance de ter se mudado. Ela olhou para Maiara e foi a primeira vez que sua mente se perguntou o que ela estava fazendo ali, já que era sempre Carla quem ia para o Brasil, e não ao contrário. Maiara tinha pavor de viagens de longas horas com avião e estar há tantas milhas de distância da vida que conhecia, então nunca havia visitado a irmã. Nunca. Será que Maraisa voltou ao Brasil? Mas por quê? Ela nunca planejou voltar, para ser sincera consigo mesma.

    Maraisa sacudiu a cabeça, afinal ela não tinha certeza de nada, e seu olhar desviou para a mesa retangular presente naquela cozinha. Sentada em uma das cadeiras, havia um ser humano loiro com um violão no colo, puxando algumas notas que formavam uma melodia suave que foi se tornando agitada aos poucos, fazendo Maraisa erguer as sobrancelhas com tamanha surpresa em perceber que Marília sabia o que estava fazendo. Ela nunca soubera desse lado músico dela.

    Era notório os lábios de Marilia se mexendo em uma velocidade tranquila, com espaço entre as palavras para dar vez apenas ao toque do violão. Maraisa demorou um segundo para perceber que seus lábios estavam, na verdade, proferindo uma canção que não conseguia identificar por ela estar cantando baixo demais.

    — Você tá testando a melodia? — Maiara interrompeu o silêncio que estava sendo preenchido apenas pelo instrumento.

    Marília levantou o rosto e encarou uma gêmea e depois a outra, demorando meio segundo a mais em Maraisa.

    — Estou tentando, pelo menos. Vou ver isso melhor lá no escritório. Vou ver com o Pepato antes de algo definitivo, ele que está produzindo a gente mesmo.

    Maiara fez movimentos positivos com a cabeça e se sentou em uma das cadeiras que ficava de frente pra Marilia, sendo separadas pela mesa. Maraisa, por outro lado, apenas encarou a loira, indagando-se como nunca descobrira um lado musicista dela. Tudo bem que nunca foram amigas e nunca conversaram sobre isso, mas ela gostaria de ter sabido — adorava conhecer pessoas que partilhassem um amor pela música. Quem sabe sua relação com Marilia não tivesse sido tão odiosa... Ou não, já que nunca foi culpa sua Mendonça a odiar.

    — Vai ficar aí em pé, irmã? — Maiara a tirou de seus devaneios.

    Maraisa abriu um sorriso fraco e analisou as cadeiras restantes para que fossem ocupadas. Onde a Maraisa dessa vida iria sentar? Provavelmente ao lado da Marilia, mas não era o que ela queria no momento então limpou poeiras inexistentes da saia de seu vestido e seguiu para se sentar ao lado da irmã.

    — Quer fazer a primeira no começo? — Marilia perguntou, de repente.

    Maraisa não ergueu o olhar por presumir que a pergunta, que ela não entendeu, tenha sido pra a irmã. Mas quando Maiara não respondeu, ela percebeu que a pergunta fora pra si e levantou o olhar confuso para Marilia, que tinha o semblante casualmente sério enquanto esperava pacientemente pela sua resposta.

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