• Capítulo 29 •

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     Sendo errôneo ou não, alguns tinham convicção de que nada aqui havia começo e nem final. Que a vida era um disco riscado que ficava repetindo a música de novo e de novo, do qual você não se lembrava de já ter escutado.

    Uma música muitas vezes cruel, mas que não conseguia parar. Então, você continuava dançando. Cantando junto. Desatento. E era nessa desatenção que você acabava sendo pego com uma coreografia errada.

    O coração de Maraisa estava acelerado diante daquela cena. Estava nervosa, aquilo era claro. Olhou no rosto de cada um, ansiando que o silêncio fosse quebrado.

    Marco César apenas olhava para o chão, e Maraisa percebeu, com uma dor no peito, que seus olhos estavam marejados. Ela agora estava com uma sensação ruim, sufocante.

    — Como assim, Maraisa? — Maiara quem finalmente dissipou o silêncio, buscando no olhar da irmã por qualquer sinal do que estava acontecendo.

    Maraísa não conseguiu proferir resposta alguma.

    — Você fez isso de propósito? Porque isso foi cruel, Maraisa. Pra caralho. Não acredito que ouvi isso! — César Filho parou a centímetros da irmã, olhando pra ela incrédulo.

    — Eu... — Maraisa começou, em uma tentativa falha de conseguir arranjar o que falar pra conseguir resolver aquilo.

    — A mamãe está internada, Maraisa. Ela está internada! — Cesar frisou, em um tom de voz um pouco alterado, olhando para o chão. — Que história é essa de trabalho? Que história é essa dela ter ligado pra avisar se viria ou não? Que história é essa?! — exclamou, fazendo Maraisa recuar.

    Maraísa sentiu um baque ao ouvir aquilo. Internada?, se perguntou em desespero. Será que estava tudo bem? Qual o motivo do internamento? Maraísa procurou o olhar da irmã e do pai em busca de respostas, mas Maiara não olhava pra ela e Marco tampouco.

    — Você... — Maiara começou, hesitante. — Você lembra do internamento da mamãe, não é?

    Maraísa abriu a boca pra responder, mas som nenhum saiu. A expressão de César mudou imediatamente de raiva para uma gigante interrogação, e Marco que anteriormente estava com o olhar perdido dirigiu os olhos banhados em preocupação pra filha.

    Os segundos que antecederam sua resposta pareceram uma eternidade.

    — Claro — conseguiu sussurrar.

    Maraísa não conseguiu convencer ninguém; nem mesmo ela teria acreditado em si.

    — Maraisa... — César chamou, com a cabeça inclinada e os olhos brilhando, mas não mais de raiva. Era óbvio que ele agora estava temeroso. — Me diz que não é o que a gente tá pensando. Você...?

    César não conseguiu sequer terminar a sentença. Tanto Maiara quanto Marcos compartilhavam da mesma dúvida e do mesmo temor que César Filho, mas eles não o ajudaram a finalizar a pergunta porque as palavras pareceram pesadas demais para os três. Maraisa também não incentivou a continuar, com medo de onde ele iria.

    Maiara tinha erguido os olhos pra irmã com a conversa com Marília no dia anterior invadindo sua cabeça com tudo. Sentiu um bolo na garganta, preocupada ao extremo com a gêmea. O que tem de errado com você, Maraisa?

    César ia retomar a palavra mais uma vez, só que o instante que eles ficaram quietos foi suficiente para que o som da voz de Marilia e de risadas de Milenna surgissem ao fundo. Elas estavam vindo. Maraísa nunca se sentiu tão aliviada por ter uma interrupção.

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