• Capítulo 03 •

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    O alarme despertou Maraisa, cruel e instantaneamente, e ela se remexeu na cama tentando fazer a si mesma parar de ouvir o despertador tocar. O som ensurdecedor penetrou seus ouvidos como uma lâmina, quando tudo que ela queria era mais alguns minutos.

    Segundos foram suficientes para que ela já ficasse inquieta e uma dor de cabeça querendo começar a invadí-la. Imaginou que devido a uma possível ressaca. Então se rendeu e respirou bem fundo antes de esticar o braço e pegar seu celular pra desligar o som. Passou a mão pelo seu rosto e cabelo enquanto os olhos se entreabriram para começar o dia.

    Maraisa encarou nada em específico, deitada de lado sobre um de seus braços, enquanto seus pensamentos corriam soltos. Hoje ela acordou muito mais extasiada do que estava ontem, talvez porque deu mais tempo mente processar tudo. A audiência e sua vitória, mas, principalmente, a noite perfeita que Danilo lhe dera. Um sorrisinho tomou conta do seu rosto sem que ela conseguisse impedir.

    Provavelmente ela bebeu demais, pois lembrava que Danilo e ela pediram uísque para aproveitar a noite após terem jantado, e então sua memória até aquele dia era um borrão.

    Carla coçou os olhos para tentar afastar o sono e finalmente focalizou seu olhar para captar as coisas ao seu redor, dando de cara com mobílias diferentes da qual estava acostumada. Seus olhos se arregalaram ao passo que sua garganta secou quando se deu conta de que não reconheceu onde estava.

    O quarto era totalmente diferente do de Danilo. Enquanto ambos priorizavam as cores claras para trazer mais leveza ao ambiente tanto no apartamento de Maraisa quanto na casa dele, esse quarto era todo decorado em preto e tons de cinza, o branco sendo usado apenas em detalhes, como na fenda engessada do teto que possuía um lustre de cristal pendendo do mesmo.

    O cômodo era espaçoso ao ponto dela não ter dúvidas de que dava cinco de seu apartamento minúsculo nas dependências de sua faculdade. Os móveis eram, em sua maioria, suspensos, feitos sob medida, e alguns com suas próprias luzes embutidas. À primeira vista, olhando ao redor umas duas vezes, decidiu que poderia dizer que era um quarto de alguém que gostava de música, já que na parede cinza acima de uma escrivaninha preta possuía decorações que remetiam a discos de vinil, e no canto direito do quarto havia um conjunto de violões presos em um suporte ao chão. Quatro deles.

    Maraisa poderia ficar encantada se não estivesse apavorada com o fato de não estar na casa do noivo como era esperado. Mas então se lembrou de uma das inúmeras conversas com Danilo em que ela havia reclamado da quantidade de vezes que ele ficava reformando os mesmo cômodos de novo e de novo, e ele revelou estar com vontade de reformar a suite principal. Será que ele finalmente o havia feito? Ela decidiu ignorar o fato de que, apesar de espaçoso, o quarto do noivo não chegava na metade do tamanho daquele, e colocou na sua cabeça que fora uma reforma milagrosa que acabou juntando um cômodo no outro. Era o único jeito de tentar acalmar ao menos um pouco as batidas descontroladas em seu peito.

    Pra confirmar sua teoria de que estava na casa de Danilo, ela sentiu ele abraçá-la por trás e ficou bem quietinha, já se sentindo mais segura. Soltou um suspiro de alívio. Ele não costumava abraçar ela enquanto dormiam, mas quando o fazia Maraisa apreciava, ela gostava. Sentiu a respiração pesada contra seu pescoço e ficou óbvio que ele ainda estava dormindo.

    Maraisa se espreguiçou discretamente e bem devagar pra não despertá-lo e decidiu se virar pra poder se aninhar em seus braços e tentar cochilar mais. Era sábado, estava noiva, veio de uma semana estressante e merecia. Mas, quando se virou cuidadosamente, todo o ar foi arrancado brutalmente de seus pulmões quando viu que não era com Danilo que ela estava dividindo a cama.

    Por um segundo ela teve a plena certeza de que seu cérebro estava pregando peças, porque não era possível aquela cena estar diante de seus olhos. Mas ela reconheceria de longe a mulher de cabelos loiros que estava deitada ao seu lado ainda dormindo.

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