• Capítulo 15 •

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    A sala de estar girava com relatividade na visão de Maraisa. Ela se sentia atada a um carrossel em um parque dos horrores. Tudo no seu corpo doía, e sua cabeça estava instável com os pensamentos correndo soltos enquanto se forçava dolorosamente a se lembrar de verdade do que aconteceu com ela e Danilo, porque não podia ser aquilo. Não podia. Ele nunca faria aquilo com ela. Ele nunca... Mas Maraisa já não tinha mais certeza de nada. Ela não o conhecia como pensava. Tudo que viveu com ele foi uma grande mentira, então?

    Sua respiração estava ofegante e ela lutava para voltar a ter controle sobre ela, mas a cada segundo que passava, mais difícil ficava de fingir que seu mundo não acabara de cair.

    — Sua vez, irmã — Maiara avisou, ainda se referindo à brincadeira, com seus olhos atentos sobre Maraisa, notando a estranheza em seu comportamento.

    Maraisa baixou os olhos para o copo em suas mãos, sentindo seus olhos arderem com novas lágrimas se formando, e, sem aviso prévio, ela virou todo o conteúdo na boca, fazendo uma careta quando desceu como fogo em sua garganta. Tudo que aconteceu foi piorar sua tontura e agora estava enjoada.

    — Eita! — Marilia sorriu com divertimento. — Quer ficar bêbada, é?

    Maraisa olhou para Marilia, e a loira de imediato percebeu seus olhos úmidos e franziu o cenho, instantaneamente preocupada. Ela sentiu vontade de responder pra Marilia que sim, que precisava beber, que precisava esquecer por um momento. Quase riu do seu pensamento cômico. Pouco tempo atrás o seu maior pesadelo era ter esquecido tudo, e agora ela queria beber para esquecer a revelação dos últimos minutos.

    — Eu... — Maraisa tentou falar, mas sua voz saiu trêmula e falha e ela se amaldiçoou por não conseguir controlá-la.

    Fechou os olhos apertados e, sem que tivesse controle, diversos momentos com o Danilo invadiram sua visão escurecida como um filme. O momento que se conheceram, quando começaram a namorar, o primeiro 'eu te amo', as declarações, as promessas, o pedido de casamento... Mentira. Tudo mentira. Cada promessa, cada sorriso, cada carícia, cada noite juntos. Tudo uma grande e maldita farsa! Ela o amava, mas ele nunca a amou e agora ela sabia disso. Não se destrói a pessoa que você ama.

    — Maraisa, por que você está chorando? — a voz de Marilia estava assustada, e foi somente nesse momento que Carla sentiu uma lágrima serpentear pela sua bochecha.

    Ela se apressou a secá-la, como se assim pudessse também apagar essa visão da memória de Marilia, e quando tornou a abrir os olhos, viu a sua irmã olhando-a com uma atenção anormal e a loira de pé. Marilia veio em sua direção com cautela, mas imediatamente Maraisa se levantou antes dela se aproximar demais, fazendo a mulher parar de súbito.

    — Eu preciso respirar — sua voz saiu baixa e embargada e ela logo tomou o caminho conhecido que dava na cozinha externa da casa.

    O ar frio da noite contra seu rosto foi muito bem vindo, dando-a uma impressão de normalidade, e ela inalou profundamente o aroma natural. Agora Maraisa já permitia as lágrimas rolarem soltas pelo seu rosto. Quanto mais tentava não pensar em seu noivado e o jeito brusco como acabou, mais se lembrava e mais uma dor incandescente bombeava junto ao seu coração.

    Ela estava com os pés descalços, e sentiu um choque térmico quando eles se afundaram na grama gélida. Respirou fundo uma, duas vezes. Caminhou com passos lentos até o deque onde ficava a piscina e sentou na beirada dela. Parecia ser mais funda do que ela se arriscaria. Deixou os pés caírem na água e se impressionou com o fato de que não estava congelando como esperado, devido a friagem ali fora. Na verdade estava quente em um nível relaxante.

    Fico observando o ondular da água, mas sua cabeça estava tão longe. O aperto em seu peito tão profundo. Suas lágrimas queimando sua pele como brasas. Maraisa nem sequer percebeu quando sua irmã gêmea se aproximou e também sentou ao seu lado, colocando os pés descalços dentro da água igualmente a ela. Não percebeu a irmã a encarando ou seu semblante preocupado. Apenas notou sua presença quando Maiara enfim colocou sua mão sobre a dela, fazendo Maraisa ter um sobressalto pelo susto. Estava tão avoada que seu redor não passava de um mero borrão.

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