• Capítulo 16 •

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   O sono agitado que embalou Maraisa sem que ela percebesse a fez também despertar repentinamente, seus olhos se abrindo de supetão para ver o vazio sem foco.

   Seu corpo inteiro parecia inerte demais, e, assim que ela encarou o teto, todos os acontecimentos do dia anterior pesaram nela como uma bigorna. Sentiu tudo e não sentiu nada. Sentiu um aperto doloroso no peito em conjunto com uma mágoa absurda, mas também sentiu ressentimento, uma mistura de decepção, ódio e nojo. Ao mesmo tempo, no entanto, sentiu um vazio estarrecedor. Tudo e nada no sentido literal.

   Olhou em volta pelo quarto para encarar a já familiar vista e percebeu a ausência de Marilia no momento que captou o barulho do chuveiro. Se espreguiçou e coçou os olhos para afastar os últimos resquícios de sono. Não moveu um centímetro para se levantar. Ela não queria. Tudo estava muito mais entorpecedor do que ontem, como se fosse possível. Queria ficar na cama o dia inteiro. Ela não queria lidar com a realidade.

   O quarto ainda estava enterrado em um breu e era impossível saber se o dia já havia amanhecido ou se Maraisa despertou aleatoriamente no meio da madrugada. Se esticou, sem olhar, e tateou a mesinha de cabeceira até encontrar seu celular. Ligou o visor e o relógio marcava sete e meia da manhã. Bocejou. Colocou a sequência numérica e desbloqueou o aparelho – já havia memorizado a data de seu casamento – e ficou parada na tela inicial por um tempo antes de decidir abrir o WhatsApp por curiosidade.

   Algumas pessoas já haviam enviado mensagem para ela naquele horário, e ela fez uma careta. Bruno estava no topo por ter enviando por último, às 07:26. Abriu o chat e viu que tudo que ele tinha enviado era o horário da reunião que conversaram ontem – 11 da manhã –. Maraisa mal acreditou, parecia uma década desde que havia atendido a chamada de vídeo do Bruno e conversado com ele, mas foi na tarde anterior. Os acontecimentos da noite tomaram tanto protagonismo que mal se lembrava do que tinha feito pela manhã e pela tarde do Domingo.

    Agradeceu ao Bruno e voltou pra tela inicial, vendo que sua irmã também tinha enviado mensagem. Na verdade, várias, e não cogitou nem um segundo pensamento antes de ver o que era.

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Minha Metade [06:57am]: Bom dia amor da minha cida. Já acordou???
Minha Metade [06:57am]: Vida** kkkk
Minha Metade [06:57am]: Vc tá melhor? Pode falar comigo, vc não está sozinha.
Minha Metade [06:58am]: Passei a noite inteira preocupada com vc e ligada no celular pra caso vc mandasse mensagem. Vc não mandou foi um bom sinal, né?
Minha Metade [06:58am]: E a Lila? Ela tá bem também? Ontem foi péssimo pra todo mundo. Que domingo hein.
Minha Metade [06:58am]: Quando acordar, manda mensagem. Tô quase indo aí só pra te acordar e perguntar se cê tá bem.
Minha Metade [06:59am]: Vão pro escritório hj viu, não esqueçam.
Minha Metade [06:59am]: Tô preocupada com vcs. Manda notícias logo!!
Minha Metade [07:00am]: Até mais tarde, te amo muito muito ❤️

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   Maraisa se sentiu imediatamente acolhida e mais leve lendo aquelas mensagens. Era quem sempre iria precisar do lado: sua irmã. Ficou pensando no que responder; nunca gostou de mentir pra Maiara mas também nunca gostou de deixá-la preocupada. Suspirou e deixou os dedos trabalharem na primeira coisa que lhe veio a mente: “Bom dia, metade. Eu também amo muito você. Já tô com saudades. Conversamos mais tarde, pode ser?”.

   Leu todas mensagens da sua gêmea mais uma vez e mal percebeu que seus lábios repuxaram em um sorriso triste ao se lembrar de Lauana. Sempre que Maraisa acordava, não importava o quão cedo fosse, tinha uma mensagem de bom dia da amiga. Quando ia para o Brasil visitar a família, Lauana enviava mais ou menos a mesma coisa que Maiara mandou hoje – “Você está bem? Manda notícias! Fico preocupada com você. Te amo muito” – no mínimo umas 5 vezes por dia. Seu coração doeu com a lembrança.

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