• Capítulo 30 •

324 48 391
                                    

    Quando terminaram o almoço e a sobremesa, Marco e César Filho foram para a sala de TV porque logo o jogo do Corinthians iria começar. Marilia, com uma animação óbvia, disse que iria se juntar a eles já já.

    Maraísa foi até a cozinha porque era onde Maiara e Marilia estavam agora, já que ela não queria lidar com o pai e o irmão porque sabia que eles não haviam esquecido do incidente mais cedo. E ela não estava nem um pouco com vontade de lidar com nada daquilo naquele momento, ela não estava ok o suficiente para tal feito.

    Além de Maiara e Marilia, mais ninguém estava na cozinha porque aparentemente tinham sido dispensados após o almoço. Maraísa pegou a conversa pela metade, mas conseguiu entender que Marilia estava tentando convencer a cunhada para que ela lhe deixasse comer os benditos rolinhos de camarão.

    — Mas cê é teimosa, viu? Deus que me livre! Quando você coloca um trem na cabeça, realmente cê não tira mais. Supera! — Maiara disse ao revirar os olhos.

    Maraísa apoiou as mãos sobre a bancada central da cozinha com uma risadinha baixa.

    — Não tiro mesmo! Você não cansa de ser chata, véi — Marilia reclamou, cruzando os braços.  — Que que custa?!

    Maiara respirou fundo.

    — Quer passar mal depois?

    — O depois é depois, eu gosto de viver o agora! — Marília retrucou.

    Maraisa se virou pra Marilia. A loira também estava apoiada na bancada central da cozinha, mas centímetros longe dela.

    — Maiara está certa, uai — Maraisa se pronunciou, relembrando o momento que Maiara mencionara a proibição de Marília sobre o crustáceo durante o almoço. — Onde já se viu ter alergia a frutos do mar e querer comer mesmo assim? Não inventa, nada de “viver o agora”!

    É, aparentemente Maraisa ainda não tinha aprendido a só mencionar algo quando tivesse certeza, quando soubesse onde estava se metendo.

    Marilia logo olhou pra ela e arqueou uma sobrancelha, confusa.

    — Quê? De onde foi que você tirou que eu sou alérgica a frutos do mar?

    Maraísa entreabriu a boca, e de repente deu um branco na cabeça. No mesmo instante direcionou seu olhar pra Maiara e a ruiva lhe devolveu um olhar tenso. Maraísa engoliu em seco e seu coração errou algumas batidas. Céus, quantas mais coisas erradas ela falaria só naquele dia? Não aprenderia nunca?!

    — Sei que o certo seria “restrição alimentar”, mas de certo modo é alergia sim — Maiara tentou salvar a pele da irmã, apoiando uma mão no queixo. — Você não pode comer nada remoso por conta desse seu... hum... dessa sua... cirurgia. Depois tá aí morrendo de dor que remédio nenhum passa, e tá reclamando! Você sabe que ainda sente dor com certas coisas, não vamos relaxar.

    Entretando, parecia que Marilia nem tinha prestado atenção no que a cunhada falou, porque ainda olhava pra Maraisa como se fosse uma pessoa de humanas encarando o mais complexo cálculo matemático.

    Maraísa estava inegavelmente nervosa sob seu olhar agora, mas ainda assim conseguiu prestar atenção no que sua irmã tinha falado, na tamanha hesitação de Maiara em falar “cirurgia” sobre a cicatriz de Marilia. Uma estalo na cabeça de Maraisa a fez pensar que, se ela estava certa sobre a interpretação da hesitação de Maiara, então tinha acertado quando vira a tal cicatriz da esposa e de cara descartara que tivesse sido feito por um profissional, um médico. Era a confirmação que ela precisava, apesar de não necessariamente precisar. Era óbvio.

Jogo da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora