• Capítulo 10 •

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    O resto do dia passou como o vento, rápido e imperceptível. Maraisa fizera questão de evitar Marilia o tempo inteiro, se esquivando de contato, de conversas, de momentos. Só falava o extremamente necessário e apenas quando Mendonça quem puxava a conversa. Foi estranho. Mas a vida dela estava estranha, então não era como se o fato de fazer o que sempre fizera — (tentar) ignorar a existência de Marilia — fosse um determinante fator de estranheza.

    Maraisa passou as horas seguintes com fones de ouvido e escutando e reescutando quantas vezes fossem preciso as músicas do repertório das Patroas para a tão falada turnê. Ela estava empenhada. E Marilia, por outro lado, passou quase a tarde inteira no quarto lendo um livro que Maraisa não se interessou em saber qual era, mas parecia importante devido a quantidade de anotações que ela estava fazendo. Sendo assim, preferiu deixar a loira, que estava super concentrada, sozinha e desceu para a sala de estar.

    Seu celular, ao lado da sua coxa sobre a poltrona, começou a emitir um som contínuo que indicava ligação. Maraisa suspirou e pegou o aparelho, vendo que o tal de “Brunão Cabeça de Moranga” estava solicitando uma chamada de vídeo. Pensou se deveria atender ou não — ela não fazia a menor ideia de quem era — mas, por fim, quando a ligação estava quase caindo, ela deslizou o botão verde para cima e atendeu.

    — Boa tarde, minha cantora!

    Um rapaz com um boné e uma taça de suco na mão abriu um sorriso largo quando a imagem de Maraisa apareceu. Ele parecia estar em uma varanda de algum lugar.

    — E aí... Bruno — cumprimentou, meio sem graça, tentando soar casual.

    — E aí, como está a folga das minhas patroas? — ele virou a câmera para mostrar a paisagem natural que o acompanhava. Realmente parecia uma varanda de algum hotel. Era lindo e beira mar. — Por aqui eu tô torcendo para que amanhã demore a chegar.

    — Que lindo! — Maraisa disse para a vista, encantada. — Você tá aonde mesmo? — perguntou com cautela.

    — Copacabaaaana, minha cantora — disse com uma animação que fez Maraisa abrir um sorriso. — Liguei pra saber como você tá. E a Marilia? Descansaram?

    Maraisa apoiou o queixo na mão que estava livre, observando o rapaz desconhecido. Será que eram muito próximos? Tinha a sensação que sim.

    — Ah, eu tô legal — disse com um manear de cabeça.

    O rapaz semicerrou os olhos.

    — Iiiih, que vozinha é essa? Aconteceu alguma coisa?

    — Não. É só que também tô triste que amanhã já é segunda — deu de ombros, torcendo pra soar convincente.

    — Nem fale, minha patroa. Eu ainda nem acredito que você me deu um fim de semana inteiro sem você. Até em folgas e feriados sou obrigado a passar 24h te servindo de babá — brincou.

    Maraisa riu. O rapaz trabalhava pra ela, então? Mas com certeza eram muito mais amigos do que chefe e funcionário, senão nunca que estariam tendo uma conversa com aquele teor.

    — E o trabalho do contratante pra amanhã ainda tá de pé? se levantou e saiu da varanda onde estava. A iluminação alterou e deu a entender que entrou de volta para o quarto do hotel.

    Maraisa não fazia a menor ideia de que trabalho era aquele, mas balançou a cabeça e fingiu que sabia.

    — Até o momento, sim. Você lembra do horário?

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