• Capítulo 37 •

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"Por fim, Marilia se inclinou um pouco pra frente, apoiando os cotovelos nas pernas. Emitiu um suspiro raso e, com a voz baixa porém firme, ela revelou:

— Maraisa, nós nunca fomos a Copenhagen."

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    O silêncio, por mais ensurdecedor que ele pudesse parecer, e ao contrário do que por muitos pensado, tinha esplendores a dizer. Sempre carregava em sua (aparente) falta de palavras uma intensidade de sentimentos.

    Após escutar o que foi dito por Marilia, tudo que Maraisa conseguiu fazer foi encará-la com certo choque. E em silêncio. Se sentia completamente perdida. Era como se a mente fosse como um quadro branco recém apagado, porque pareceu desaprender qualquer idioma.

    — E-eu... — Maraisa começou, encabulada. Praguejou mentalmente por não conseguir pronunciar uma palavra sequer sem gaguejar.

    Haviam momentos na vida em que as palavras perdiam sentido ou pareciam inúteis e, por mais que pensemos em um modo de expressá-las, pareciam não servir.  A cabeça de Maraisa doía com o esforço de pensar em uma saída que parecia não existir.

    — Você já sabia... — Maraisa enfim sussurrou e escondeu o rosto nas mãos. Estava completamente atordoada. — Você estava me testando.

    Marilia a observava com uma calma que desnorteava Maraisa, mas por dentro estava um turbilhão. É de conhecimento geral que o fato de o mar estar calmo na superfície não significava que algo não estivesse acontecendo nas profundezas.

    — Mas isso é óbvio — Marilia retrucou, lutando pra não retesar o maxilar. — Então, o que está pensando em fazer? Prefere continuar achando que sou uma idiota e continuar mentindo, e quer que eu finja que tô caindo?

    Maraisa acabou recuando com o tom cortante de Marilia. Surpresa, confusão, hesitação... tudo se misturava no interior dela e tintilava feito moedas soltas.

    — Como que você...? Eu... Como? — foi tudo que Maraisa conseguiu dizer por ora, parando para reorganizar as palavras.

    Marilia ficou a fitando por alguns segundos. Sua cabeça fervilhava com tantas palavras não ditas, com tantas conclusões precipitadas. Apesar do silêncio que reinava na maior parte do tempo no quarto, sua cabeça estava o extremo oposto.

    — O quê? Como que eu descobri? — ela tentou e emitiu um riso seco, sem humor. — Você acha que eu não conheço a mulher com quem sou casada há anos? Acha que não conheço seu jeito de agir, de falar, que não conheço cada detalhe seu?

    Maraisa negou com a cabeça, juntando as mãos e apoiando o queixo nos polegares. Olhou pra Marilia em pura descrença.

    — Você... — Maraisa começou em um murmúrio. — Meu Deus, você sabia e em nenhum momento, em nenhum momento, me disse nada?! Me confrontou?! Por quê? Por que esse silêncio todo?

    Marilia enfim pareceu perder aquela calma toda e se levantou de uma vez, exasperada.

    — Você acha que a pergunta certa é por que eu não falei ou por que você mentiu pra mim?! — esbravejou com incredulidade.

    Maraisa ficou por um momento calada, tentando absorver a ideia do que estava acontecendo.

    — Que droga, Maraisa! Perdi a conta de quantas vezes eu te dei a chance de se virar pra mim e dizer. Já tanto perguntei e você mentiu! Não ia doer me contar, sabia?! — Marilia se virou pra ela, os olhos quase flamejando. — Posso ser compreensiva com qualquer coisa, faça o que quiser, mas não mente pra mim! Você pode me contar a pior verdade desse mundo, só não mente!

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