• Capítulo 17 •

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     Maraisa finalizou a leitura com mais dúvidas do que quando começou. Tinha vontade de destrinchar aquele caderno inteiro e fazer diversas perguntas para Marilia, caso ela estivesse na sua frente, para fins de entendê-la melhor, de conhecer o labirinto que ela era através da máscara que ela teimava em usar. Mas não podia fazer isso, não as perguntas, mas ainda poderia continuar lendo.

    Ajeitou a postura e virou a página para o próximo registro. Mal leu a primeira frase quando ouviu duas batidas na porta seguindo dela sendo aberta. Deu um pulo da cadeira e sentiu a alma saindo do corpo com o susto devido o seu foco estar exclusivamente fora do presente. Deu tempo apenas de fechar a caderneta e levantou a cabeça para ver Bruno parado na porta. Pelo menos não era a Marilia e suspirou aliviada. O que ela diria se a visse ali mexendo nas suas coisas?

     — Finalmente achei você! Tava te procurando pela casa toda — Escancarou a porta. — Sério que você ainda está assim? — Gesticulou em sua direção.

    Maraisa franziu o cenho e engoliu a pergunta “Assim como?”, e ao invés disso questionou:

    — Você não estava em Copacaba?

    Bruno fez uma careta e ajeitou os óculos.

    — Que humor azedo é esse, minha cantora? Não precisa me lembrar que hoje é segunda e a viagem acabou. Nem paga minha terapia — Maraisa sorriu com o tom dramático que logo abandonou sua voz na fala seguinte: — Eu disse a você que iria chegar de manhã bem cedinho.

    — Disse?!

    — Disse — afirmou. — Sinceramente, todo dia repenso esse meu emprego. Segunda sempre foi seu dia de folga, que invenção ridícula hoje ser uma exceção.

    Maraisa sorriu. Segunda-feira dia de folga... Acabou de descobrir ser uma tremenda privilegiada, para dizer o mínimo.

    — Fazer o quê — deu de ombros e orou para que Bruno fosse logo embora para que continuasse lendo o bendito diário. — Por que você queria me achar, Bruno?

    Bruno cruzou os braços e a olhou com repreensão.

    — Vim te achar pra ver se estava pronta porque Marilia está já já chegando. Mas tô vendo que nem dos pijamas você saiu — balançou a cabeça e Maraisa olhou para a própria roupa, esquecida das peças que vestia. — Cê não cansa de se atrasar não? Pelo amor de Deus.

    — Que horas são?

    — Adivinha, dona Inimiga-da-hora? — Bruno abriu um sorriso debochado. — Nove e cinquenta e sete.

    — Tá de brincadeira!? — Maraisa voou para longe do escritório, levando a caderneta azul consigo. — Marilia vai me matar! — constatou. Quase riu ao observar que aconteceu a única coisa que ela pediu que não acontecesse.

    Quando que se passaram duas horas? Com certeza demorou bastante ali no escritório, lendo tudo que lhe tinha à disposição sobre Marilia, mas não tanto assim. Não tinha como. Então só podia ter perdido completamente a noção do tempo enquanto estava enterrada sob os lençóis na cama, encarando o teto e tentando assimilar a enxurrada de pensamentos sobre sua vida. Impressionante que quando você menos percebe, os segundos escapam por entre seus dedos como grãos de areia que você não consegue mais agarrar.

    Voltou para o quarto e jogou o caderno de Marilia na cama às pressas, partindo para o closet.

    — Vai mesmo, se eu fosse você eu virava o flash logo — Bruno brincou, vendo Maraisa caçando roupas que gostaria de usar.

    — Mas ela disse que ia voltar pra casa de 10h ou 10:30 — apontou, tentando achar alguma vantagem para si mesma.

    — Não, cantora. Ela mandou mensagem pra mim e pra você dizendo que terminaria mais cedo e voltaria às 10, e que a gente esquecesse qualquer outro horário que ela deu. Tá doidona? — Bruno deu uma risadinha.

Jogo da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora