• Capítulo 42 •

314 37 124
                                    

    Horas mais tarde, por volta das 3 da manhã, indícios de um breve despertar se manifestaram em Marília. Ficou inquieta na cama e uma dor pulsante latejou em sua cabeça. Lentamente entreabriu os olhos e piscou para se acostumar à luz.

    De início, Marília não teve ideia de onde estava ou o que tinha acontecido nas últimas horas. Se sentia presa entre correntes temporais. Com um murmúrio de dor, ela buscou uma posição mais confortável na cama. Foi quando avistou Maraisa perdida em pensamentos, sentada na poltrona próxima e com o olhar vidrado no teto.

    — Maraísa? — Marília conseguiu sussurrar. Sua garganta estava seca e sua voz saiu falha.

    Nem mesmo uma explosão faria Maraisa acordar do transe, mas surpreendentemente a voz frágil de Marília fez ela levantar-se na mesma hora. Um sorriso puro se desenhou nos lábios quando encontrou sua mulher olhando-a com as sobrancelhas juntas.

    — Ah, Lila... — A voz de Maraísa saiu suave, como uma carícia. — Que bom que você acordou! Como está se sentindo, hum?

    Marília abriu um sorriso débil, ainda aérea. Olhou ao redor e se assustou quando enfim teve consciência de onde estava. Hospital?! O que tinha acontecido?

    — Onde… O que… O que aconteceu? — Marília perguntou, ainda baixinho.

    Maraisa estava toda sorridente, fitando os castanhos dos olhos de Marília. Todos os pensamentos conflitantes desde a chegada daquelas flores se calaram, e só o que lhe importava era aquela loira.

    — A gente tá no hospital, você piorou e tive que te trazer. Mas está tudo bem agora, Lila. Está tudo bem — Maraísa respondeu. — Vou chamar o médico pra te ver. Não tente levantar! Tá me ouvindo, né? Não tenta.

    Maraisa saiu e Marília encarou o nada, tentando ignorar a dor na cabeça. Alguns flashes desconexos de seu mal estar, ainda no quarto de hotel com Maraisa, começaram a surgir em sua cabeça. Ela estava confusa. Nada parecia estar ao seu alcance.

    — Marília, fico feliz que esteja desperta — uma voz soou.

    Marília, ainda sonolenta, virou o rosto. Sua visão estava levemente turva. Avistou de relance um médico e dois auxiliares, e estes foram na direção dela no intuito de verificar seus sinais vitais.

    Enquanto isso, Maraisa avisou pra Maiara que Marília acordou, e guardou o telefone no bolso antes da irmã conseguir visualizar a mensagem. Quis se aproximar da cama de Marília pra lhe oferecer um apoio silencioso, mas seus pés não obedeceram. Os receios a impediram de se aproximar.

    Maraísa recuou alguns passos, criando uma distância que nem ela mesma compreendia. Ficou observando de longe. Não parecia a esposa, não parecia a Maraisa de segundos atrás ou a mesma Maraísa quem tinha levado Marília ali. Parecia somente uma mulher desconhecida, indiferente.

    Marília notou ela recuar, mas tentou disfarçar que ficou afetada.

    — Parece tudo ok, sinais vitais normais e as pupilas não estão dilatadas. O que está sentindo? Alguma dor forte? Náusea? — doutor Eduardo perguntou, devolvendo o estetoscópio pro pescoço.

    — Minha cabeça... tá doendo tanto que eu tô tonta, e... hum, meu estômago dói também — Marília revelou, a voz fraca. — Tô… tô cansada. Sinto que passei... umas duas semanas sem dormir.

    Maraísa sentiu o peito apertar de preocupação, mas continuou no mesmo lugar. Ela não conseguia entender seus próprios sentimentos. Por que sentia aquele bloqueio tão grande quando Marília estava bem ali, acordada e podendo lhe escutar? Por que não conseguia mais sequer segurar sua mão, agir como alguém normal? Por que não agia igual estava agindo quando Marília estava dormindo?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 18 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Jogo da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora