• Capítulo 21 •

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    Como esperado, Maraisa não conseguiu dormir direito. Ficou por horas revirando na cama, tentando fazer sua cabeça calar a boca, mas não adiantava. Sentava, deitava, virava para um lado, virava para o outro, observava Marilia, observava o teto e nada de conseguir pregar os olhos. Pensou por minutos incessantes na discussão com Marilia – e mais ainda no que precisaria dizer para que ela a escutasse –, pensou em Danilo, em Lauana, pensou na sua vida antes dessa loucura, pensou na família, nos amigos, e a ansiedade por finalmente ir ao médico também estava a consumindo.

    Tentou ignorar o fato de que já havia percebido que Marilia gostava de dormir abraçada nela durante a noite mas naquela madrugada ela nem chegou perto, ela se mantivera no outro extremo da cama como se querendo dar o espaço que Maraisa pediu. Não que Maraisa fizesse muita questão, na verdade, mas era uma observação interessante pra ela. Muito tempo depois, no entanto, por volta das 4 horas da manhã, ela finalmente conseguiu pegar em um sono agitado, mas que de nada adiantou por ter colocado seu alarme para às 6 horas em ponto.

    Quando o som do alarme adentrou seus ouvidos de forma dolorosa, Maraisa resmungou, sem conseguir abrir os olhos por um momento e sentindo tudo pesar. Ela precisava de mais 5 minutos ou mais 5 horas, não sabia dizer. Se virou, pegou o celular e desligou de imediato, não querendo importunar o sono de Marilia no mínimo. Passou alguns minutos encarando o teto, tentando arrumar forças de onde não tinha para levantar, mas por fim conseguiu, entrelaçou as mãos e esticou os braços acima do corpo.

    Coçou os olhos sonolentos e se virou para pegar o celular que ficou na cama quando se levantara. Só então reparou que na verdade estava sozinha. Maraisa parou por um momento. A cama estava vazia, Marília não estava deitada ao seu lado. Estranhou de imediato, escaneando cada canto do quarto como se ela fosse estar em algum deles. As duas horinhas que Maraisa cochilou foi o tempo que ela saiu. Estalou a língua e passou a mão pelo rosto, irritadiça. Seu sono estava muito leve, agitado, então Marilia ter conseguido sair sem despertar Maraisa tivera de ser uma tarefa árdua com dedicação.

    Ficou alguns segundos apenas olhando o lado que parecia intocado onde Marilia dormiu antes de se lembrar que um dos argumentos que ela usara para não escutar Maraisa fora que era tarde e tinha que trabalhar cedo. Impressionantemente, antes mesmo das 6 da manhã já estava fora de casa... Conveniente? Estava claro que Marília estava a evitando.

    — Que merda! — exclamou e acabou batendo na mesinha de cabeceira com um punho fechado, tentando descontar só um pouco da raiva.

    Maraisa respirou fundo para ter um pouco de calma e passou a mão no cabelo. Calma, vai ter tempo de conversar com ela e você vai poder se livrar da culpa, vai ficar tudo bem, Maraisa insistia mentalmente. Respirou fundo mais uma vez e assentiu sozinha. Sim, vou conseguir falar com ela. Tirou os pensamentos de Marilia para que não atrapalhasse todo seu dia e pegou o controle para abrir os blackouts e iluminar o quarto com luz natural. Foi tomar um banho frio e demorado que nada ajudou para que ela se sentisse desperta, e ao se vestir colocou uma calça jeans clara, uma blusa branca ombro a ombro com mangas longas e um tênis da mesma cor.

    Parou na frente de uma coleção de bonés que estava no closet. Pensou em pegar um, mas os que estavam à mostra eram diversos modelos de cor que estampavam a logo da Maiara&Maraisa na frente; outros amarelo e também na cor preta com um símbolo que ela não reconhecia – duas flechas que se cruzavam e nos 4 espaços que ficaram vazios alguns símbolos se faziam presentes –, mas que na lateral tinha o nome “Marilia Mendonça”; e o outro tinha um “Patroas” na frente e uma barra carregada em 35% abaixo. Em resumo: não tinha um básico o bastante para que a imagem dela não fosse ligada àquele mundo. Não que estivesse à mostra, pelo menos, e ela não tava lá com muito tempo de procurar.

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