Three

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Eram duas da manhã quando finalmente paramos para descansar, exaustos de duas rodadas intensas. Vegas tinha muita energia acumulada e eu também estava muito necessitado para não aproveitar tudo o que ele estava me dando. Seus braços me seguraram em seu peito e não trocamos mais frases, não fazia nem sentido continuar como se nossos destinos não fossem fodidos o suficiente para saber que seria apenas aquela noite.

“Você tem cigarros?” Perguntou quando enfim decidiu levantar-se da minha cama.

Ele estava calmo, como se horas atrás não tivesse socado a parede do estacionamento até suas mãos sangrarem, não tive tempo que respondê-lo, ele encontrou a caixa com os cigarros em cima da mesa que estava ao lado da pistola e o restante de minhas coisas, ele estava agindo com intimidade e isso me deixava um pouco confuso.

Pude observar as curvas de seu corpo desnudo e as marcas que fiz durante o sexo, principalmente em seu ombro e pescoço, não sei porque me senti orgulhoso.
Ele tragava a fumaça do cigarro enquanto observava a paisagem pela janela, de longe era a visão mais bonita que já tive de alguém, esculpido como um verdadeiro colírio para os olhos, sexy era pouco para definir Vegas.

No início tive inveja da liberdade que ele apresentava na frente dos outros, mas agora não passava apenas de uma máscara na qual ele sabia muito bem como colocar. Ouvi todos os tipos de coisas sobre Vegas durante esses anos trabalhando para essa família, as pessoas os descreviam com adjetivos como invejoso, burro, incapaz e que jamais seria como Kinn, também sobre como transava descaradamente com todos os ex namorados do meu chefe e que era capaz de atrocidades com as pessoas.

Que era sádico.

E eu acreditava que não fosse tão distante do que um integrante da máfia faz, principalmente para nós os subordinados, o trabalho sujo acabava sempre sobre nossa responsabilidade, havia uma imensa lista de torturas, mortes e desaparecimentos em nosso currículo, ter um sangue frio como as pessoas descreviam Vegas, era perfeito para essa vida. Mas o lado sujo era da segunda família, por isso sempre eram vistos como subordinados também.

“Sr.Vegas, a festa deve estar quase acabando.” Falei observando o homem à minha frente.

“Já tive o suficiente essa noite.” Respondeu tragando o cigarro, e virando-se para me encarar. Seu olhar brilhante e indecifrável como sempre, esse Vegas eu não conhecia. “Você foi tão prestativo, que talvez eu deva pedir para que Tankhun te recompense. Quem diria que seu guarda-costas favorito seria tão bom em servir um integrante da segunda família.”
Eu ri.

“Eu acredito que você sabe que as melhores coisas acontecem em segredo.” Me levantei caminhando em sua direção.

Ele tinha um pequeno sorriso no canto de seus lábios, cheguei perto dele novamente e Vegas me puxou para si e colando nossos lábios, ele sabia beijar tão bem que poderia passar o dia sentindo o seu gosto de cigarro, em tão pouco tempo senti que poderia me viciar nessa boca, a qual eu nem poderia pensar em circunstâncias normais.

“Você tem que ir.” Eu sussurrei em seu ouvido. "Mas antes preciso fazer o curativo de verdade" Peguei gentilmente em suas mãos e o guiei para a cadeira vazia.

"Porquê simplesmente não me ignorou? Os outros antes de você fizeram muito bem." Ele comentou baixinho.

"Eu deveria?" Respondi com uma pergunta, pegando a caixinha de primeiros socorros, ele estava novamente com aquele olhar. "Eu não sou tão idiota quando eles, e eu não estava aguentando ver você se machucando dessa forma." Olhei em seus olhos.

"Você é gentil." Ele disse para mim, peguei sua mão e coloquei o produto para limpar ferida, Vegas não fez nenhuma careta de dor ou reclamou disso, apenas me observava. "Não dói?" Lhe perguntei.

"Se surpreenderia com a minha capacidade de tolerar a dor."  Ele falou de uma maneira vazia.

"Às vezes sentir é necessário, e mais saudável Vegas." Tentei argumentar.

"A coisa mais saudável da minha vida foi ter te conhecido, Pete." Ele falou me deixando completamente sem palavras. “Obrigado pelo curativo.” Continuou em resposta, selou meus lábios pela última vez sorrindo.

Vestiu suas roupas e saiu sem mais palavras, fiquei um bom tempo refletindo tudo o que havia acontecido nessas últimas horas.

·

Me olhei no espelho e encarei cada marca que ele fez no meu corpo, acariciei cada marca como se fosse Vegas ainda ali, senti que essa noite jamais sairia da minha cabeça. O sexo um pouco bruto me fez perceber que talvez eu gostasse das coisas mais intensas, o corpo dolorido era lembrança de que Vegas havia tomado para si, como ninguém tinha feito antes, mas eu não poderia desejar mais.

Tomei banho assim que criei coragem para levantar.
Porsche voltou para o quarto por volta das três da manhã, eu já estava começando a pegar no sono.
“Nossa eu vou matar o Kinn, você acredita que ele me fez ficar até o final da festa e…" Porsche chegou falando, mas parou para observar o quarto que estava uma bagunça. “Pete passou um furacão aqui?” ele me olhou desconfiado.

“Talvez” Respondi.

Ele pareceu pensativo, desconfiado como sempre havia sido.

Agradeci por ter expulsado Vegas naquele momento, mesmo contra minha vontade, mas esqueci que havia algumas coisas suspeitas, como por exemplo meu uniforme que estava jogado no chão com marcas de sangue, Vegas deve ter manchado enquanto brincava comigo naquele saguão, como eu pude vacilar desse jeito?

“Sua roupa tem sangue, o que aconteceu? Você se machucou?” Fiquei nervoso e no final apenas saiu.

“Meu nariz sangrou e fiquei um pouco tonto, então pedi para que Arm assumisse comando dos guardas em meu lugar, agora está tudo bem.” Disse sorrindo.

Porsche pareceu ter acreditado no momento e não quis mais questionar. Ele demorou muito no banho, assim comecei a arrumar as coisas que ficaram fora do lugar, e fiz uma nota mental de comprar uma carteira de cigarro na manhã seguinte, porque eu estava louco para fumar e Vegas tinha pego o último da caixa. Levei minha roupa manchada de sangue para a lavanderia, era madrugada e todos dormiam, coloquei todos produtos na máquina e peguei a última lembrança dele, me senti um idiota por ficar lembrando o tempo todo de Vegas, seu cheiro forte ainda estava ali na camiseta, não pude evitar de cheirar antes de desfazer daquela peça, todas as sensações voltavam ao meu corpo quase que me fazendo reagir novamente, e eu tinha que me controlar.

Porque aquela era a primeira e última vez que estivemos juntos.

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