Twenty

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VEGAS POV

"Ele já abandonou a mim e Macau, se algo acontecer com Pete, eu o matarei com minhas próprias mãos." Disse com ódio.

Meu pai já havia extrapolado todos os limites, me doía pensar que ele não se importava comigo e meu irmão. Desde que mamãe morreu não tínhamos mais afeto de ninguém naquela casa, era um inferno estar sobre o mesmo teto que Kan Theerapanyakul, ele me humilhava constantemente e quando não usava minha sexualidade, procurava outras formas, desde que estivesse satisfeito em nos ferir, ele nunca ficou orgulhoso de mim, na verdade apenas me alimentava de um ódio cegante contra as pessoas e todos que se aproximavam de mim, ele dava um jeito de sumir, todos que eu começava a nutrir algum tipo de sentimento ele começava a dizer que eu não deveria ter uma fraqueza, mesmo na merda ele ainda dava um jeito de me machucar, ele pegou meu coração e provavelmente iria despedaçá-lo seu eu não chegasse a tempo.

No início, eu realmente queria ajudar meu pai a derrubar a primeira família, mas fui percebendo que eles estavam querendo nos arrastar de qualquer maneira para essa briga, tanto Kinn e a mim, dois idiotas que seguiam cegamente as ordens do pai.
Graças a Pete eu fui começando a ter minhas próprias vontades, não ligo para quem vai ser chefe dessa família que se foda Kinn, meu pai e o resto, eu só o queria de volta em segurança. Meu coração estava doendo muito com a possibilidade de nunca mais vê-lo, de conversar e sentir o conforto de seu abraço.
Eu não deveria deixar minhas emoções tomarem conta de mim, nesse momento eu me parecia muito com meu pai.

"Calma Vegas." Disse Kim se levantando de sua poltrona. Ele carregava consigo um tablet. "Temos a localização de Pete, antes de você chegar papai e eu já havíamos mandado um pessoal para verificar, estamos esperando o sinal para poder encurralar seu pai e trazer Pete de volta, mas para isso você trabalharia com a gente?" Perguntou sério.

"Por Pete." Respondi.

"Você realmente ama ele." Tankhun falou baixinho, todos sabiam que eu me recusaria a estar lado a lado com essa família, mas por aquele que eu amo eu poderia ir ao inferno. "Mas não significa que vou deixar Pete se envolver com um cachorro igual a você!" Disse apontando para mim.

"Isso quem decide é somente ele." Direcionei um sorriso em sua direção, era fácil provocar meu primo.

"Chega de provocação." Porsche interrompeu.

"Vegas está ferido, não recomendo que vá com a gente." Tio Korn falou.

"Eu vou sim! Não ligo pra esse ferimento, eu só quero ver meu pai e ter certeza de que Pete está inteiro." Respondi. "Tenho um plano que pode funcionar muito bem."

Esperar uma resposta dos caras de Kim estava me deixando aflito de uma forma tão intensa, sinto todo o estresse afetar meu corpo. Sai para o jardim que estava cheio de rosas, era tão diferente a forma como as duas famílias ostentavam suas riquezas, papai jamais deixou qualquer tipo de flor nascer naquele jardim.

Era doente como se recusava que qualquer coisa que parecesse delicado entrasse em nossa casa, ele dizia que estava criando verdadeiros homens, mas quando descobriu que sou homossexual e desconfiava de Macau também acho que quase teve uma síncope.

Pete era como um girassol, alegre e radiante. Tinha convicções tão fortes que ninguém poderia abalar, era leal àqueles que amava e seu sorriso me lembrava um dia quente de verão, não podia evitar de sorrir quando lembrava daquela tarde onde dissemos um ao outro que tínhamos sentimentos crescendo dentro de nós. Acendi o cigarro um pouco melancólico, porque diabos tinha que ser tão difícil estar nessa vida? Correndo risco o tempo inteiro de sermos mortos.

Em outra vida eu gostaria apenas de ser um universitário comum que talvez se apaixonasse por ele à primeira vista e nosso único problema fosse conversar sobre nossos sentimentos, e a ressaca depois de uma noite de bebedeira, mas que no final conseguíssemos nos resolver e ficar juntos como deveria ser. Cada tragada me deixava um pouco menos estressado, nem o braço recém baleado doía tanto quanto essa situação,  apenas Pete em meus braços poderia me dar a paz que eu precisava.
Minutos se passaram quando vi uma movimentação vinda da casa principal.

Era hora de trazer Pete pra casa.

Corri para dentro a tempo de ver toda a família se reunindo com proteção, armas e tudo o que poderia ser útil, eu só precisava de uma arma. Os carros estavam a postos na entrada e os seguranças se reuniram para escutar a ordem do chefe, tio Korn estava com uma aura assustadora e satisfeita, mesmo não tendo muito apreço ao meu pai, eu não queria que as coisas acabassem dessa maneira.

Tudo o que eu sempre tive na vida era ele e Macau, agora Pete. Mas eu ainda tinha um desejo de que ele pudesse perceber que estava sendo um péssimo pai e começasse a agir de acordo, mas seria um tolo em nutrir esperança, como esperar que um animal morto voltasse a vida milagrosamente.

"Ainda acho que você deveria ficar na área de proteção com os guardas, receio que com esse braço ferido não poderá fazer nada." Kinn avisou.

"Estamos perdendo tempo Kinn, não tenho tempo pra ficar choramingando se sou incapaz ou não." Respondi.

Entramos na van em direção ao local onde estavam Kan e Pete, Kan era o homem que me colocou no mundo e não merecia ser chamado de pai. De acordo com Kim, estavam numa fazenda isolada em Chonburi, cidadezinha que não ficava longe de Bangkok. Cada minuto que passava eu sentia uma agonia crescendo em meu peito, como Pete deveria estar? Será que meu pai estava machucando ele? O que me consolava era que meu pai estava usando ele como moeda de troca, então vivo com certeza ele estaria.

"Vai mais rápido porra!" Kim disse para o motorista que acelerou a van. "Vegas, meus homens disseram que seu pai está com poucos guardas, você notou algo quando chegou em casa?"

"Ele levou os melhores, de acordo com minha conta são dez. Não mantemos tantos guardas como vocês, mas é bom se preparar porque ele não vai facilitar." Adverti.

"Não se preocupe, sou especialista em passar despercebido." Soltou um sorriso sarcástico, Kim era o mais perigoso desses irmãos, mesmo que passasse uma imagem muito tranquila, todos deviam ter bastante cuidado com quem anda muito na sombra, era fato.

Depois de quarenta minutos chegamos no local, a van foi estacionada numa boa distância para que não fossemos vistos. Era realmente um local muito isolado, a floresta densa ocupava todo o caminho, então tivemos que colocar roupas especiais que cobriam todo nosso corpo. Dessa vez quem liderava era Kim, desde quando ele se envolvia nos negócios dessa família ? Mas não era hora de pensar em coisas triviais.

"Arm você está responsável por dar as coordenadas, e procurar uma brecha para que possamos invadir a casa. Pol, você irá liderar os guardas para abater aqueles que estão de guarda no portão, deve esperar o sinal de Vegas" Ambos assentiram, esses eram amigos de Pete. Me sentia confortado em saber que estavam dispostos a se arriscarem dessa forma por ele.

"Ok, chefe." Responderam em uníssono.

"Você conhecia essa propriedade?" Me olhou Kim.

"Eu vi uma planta dessa casa, mas nunca soube que meu pai havia comprado." Respondi sinceramente.
"Posso ir na linha de frente com Pol." Me ofereci.

"É perigoso Vegas." Kim falou preocupado. "Tem certeza de que quer fazer isso?"

"É Pete quem está lá…" Disse baixinho.

"Entendo sua preocupação, se alguém tentasse chegar perto de Chay, a morte seria um dos menores problemas." Disse com uma aura assassina, esse com certeza era um verdadeiro Theerapanyakul com todas as características necessárias para ser o líder: Frio, calculista, sádico e inteligente. "Use nosso microfone no bolso da camiseta, use uma palavra como "polo" quando nossos homens poderem entrar na casa."
Sorri em resposta.

Ele me entregou mais uma arma, que coloquei na cintura. E olhei em direção a Pol que aguardava a ordem para poder seguir em frente. A visão da pequena mansão mostrava que havia apenas dois guardas na entrada, para essa parte Pol estava liderando um atirador de elite, este especializado em atirar de longa distância, Arm deu o sinal.

Um tiro foi disparado, foi possível enxergar o corpo caindo no chão e seu parceiro confuso sem saber o que fazer. O segundo derrubou aquele restante indicando que era hora de invadir aquele lugar.

Eu jamais pensei que estaria de acordo em trabalhar com a primeira família, sem dúvidas meu pai iria morrer de desgosto quando me encontrar, não me importava com mais nada. Caminhei em direção aos corpos e verifiquei a área para ver se não tinha mais guardas, abri a porta e havia sons de pessoas conversando, fiz o sinal para que Pol se aproximasse com os outros e ficassem atentos ao meu sinal para entrar.

Caminhei por um corredor e encontrei mais subordinados de meu pai, que me olharam com surpresa.

"Onde está meu pai? Pete está aqui?" Perguntei para um deles.

"Sr.Kan está na sala de jantar, o guarda costas miserável está com ele." Disse o insolente. Não pensei duas vezes antes de atirar nesse desgraçado, o silenciador era perfeito nesses momentos para não atrair atenção.

"Como ousa abrir a boca para falar de Pete seu verme?" Falei para o corpo imóvel à minha frente, os outros guardas me olharam assustados, mas não tiveram coragem de falar nada. "Polo" falei em sinal de alerta para que entrassem.

Procurei por muito tempo até achar a sala de jantar na qual aquele maldito falou, meu pai estava sentado comendo despreocupado. Como poderia estar com bom humor enquanto sua vida estava em jogo? Talvez porque achasse que ter Pete com ele fosse garantia de alguma coisa. Me ajustei para ter uma visão mais ampla daquele cômodo, Pete estava preso na cadeira do outro lado da mesa. Meu coração pulou quando o vi, mas logo esse alívio começou a se transformar em raiva, havia hematomas por todo seu rosto.

Não podia esperar mais, entrei naquele cômodo, Pete me olhou assustado, mas não falou nada.

"Filho?" Meu pai disse surpreso. "Como chegou aqui? Está sozinho ou trouxe pessoas com você? " Perguntou curioso.

"O celular do Pete tem rastreador, eu coloquei. E não, não trouxe ninguém." Menti, olhando friamente para aquele que um dia foi meu pai.

"Ah, vocês dois…amantes são terríveis, acabam por ser um ponto fraco na sua vida. Vegas porque você é tão imbecil? Não te criei para ser assim!" Começou a alterar o tom de voz, Pete observava tudo calado.

"Mas por burrice unicamente sua, agora está sendo caçado pela família principal. Se eu sou imbecil você foi a pessoa que criou esse termo!" Perdi a paciência.

"Tão rebelde, talvez eu tenha que te ensinar a me respeitar. Começando por matar esse guarda inútil!" Sacou a arma apontando para Pete.

Meu coração quase parou por um momento, tirei a arma que estava na cintura e apontei para ele no mesmo instante, caminhei em direção a Pete que estava quieto.

"Você teria coragem Vegas? De atirar no seu próprio pai?" Perguntou num tom autoritário e um pouco incrédulo.

"PAI?" Gritei indignado. "QUANDO VOCÊ FOI UM PAI DE VERDADE?" Perguntei tentando segurar as lágrimas que se formavam nos meus olhos.

"Filho da puta!" Me xingou.

"Se tentar encostar em Pete novamente eu juro que vou te matar. Pai eu não estou de brincadeira." O ameacei, onde estavam o resto dos guardas?

Me aproximei de Pete e o desamarrei, suas roupas estavam rasgadas e haviam alguns ferimentos que não foram cuidados em várias partes de seu corpo, me senti novamente um merda por ter deixado ele exposto ao perigo dessa forma.

"Você está bem meu amor?" Perguntei baixinho, ainda sentindo o olhar de desaprovação deste homem. "Ele fez algo contigo?" Perguntei ainda sem resposta da primeira pergunta.

"Calma Vegas, esses ferimentos foram de quando tentei resistir ao sequestro, seu pai só me manteve amarrado aqui." Disse ele um pouco triste, acariciou meu rosto sabendo que seu toque é necessário para me acalmar.

"Você é um traidor mesmo, fiz muito bem em deixá-lo de fora porque jamais seria capaz de liderar a segunda família." Kan cuspiu seu veneno. "Eu deveria matar vocês dois." Falou descontente, apontando a arma para nossa direção, coloquei Pete atrás de mim virando seu escudo.

"Irmão!" Ouvi a voz do tio Kan entrando naquele cômodo. "Como teria coragem de matar seu próprio filho?" Perguntou com uma falsa calmaria.

"Você e seu bando o corromperam, ele se tornou fraco e um traidor!" Kan falou nervoso, e logo olhou para mim eu podia enxergar um pouco de dor em seus olhos, mas nada de comparava com a dor que ele estava me causando por todos esses anos.

"Você sempre culpando os outros pela sua própria incapacidade Kan, sempre foi assim. Vendeu informações da família para nossos rivais, achou que eu não descobriria?" Korn falou deixando até a mim confuso, tinha mais?

"Vocês merecem todos cair, um por um." Meu pai disse friamente.

Ele estava tão encurralado, indefeso e sem como reagir. Eu não queria presenciar mais nada desse absurdo, ele morreu no momento em que teve a ideia de tentar matar Pete, quando decidiu que ser o líder da segunda família era mais importante do que cuidar de seus próprios filhos, quando nos abandonou sem se importar se nos matariam. Eu estava tão triste, querendo ou não ainda era meu pai.

Pete agarrou meu braço e me levou para a outra sala, não tentei lutar contra isso e segundos depois ouvi o disparo. Era tarde demais para implorar que ele virasse uma pessoa melhor, não haveria mais humilhações, agressões e eu fazendo coisas que não queria. Eu e Macau éramos órfãos, e iriam apenas restar lembrança de dor quando se fosse falar em Kan Theerapanyakul.

Não me sentia nem um pouco aliviado, meu corpo estava anestesiado.

Ele estava morto.

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