Five

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Eu não deveria ter aceitado esse celular, de todas as regras que me foram impostas, tenho quebrado todas. As possibilidades de que fosse pego com esse aparelho e esperar uma punição severa, somando por estar em contato com alguém da segunda família poderia ser considerado traidor.

Mas eu já não conseguia tirar Vegas da cabeça, quanto mais ouvia sobre seus piores defeitos, ficava intrigado e curioso para ver por mim mesmo, será que ele seria tão ruim assim? Eu estava confuso, era um jogo perigoso demais para me envolver, mas Vegas tinha um magnetismo que estava me atraindo lentamente para a cova do leão.

Muito antes daquela noite eu já tinha certa curiosidade sobre a segunda família, porque apesar de manterem uma relação cordial, de longe se notava a verdadeira hostilidade entre esses familiares. Tankhun e Kim já não tinham papas na língua e viviam em pé de guerra com os primos, já Kinn sabia disfarçar melhor o desprezo que tinha por Vegas, e este também era um excelente ator, me envolver com ele significava que não poderia confiar cem por cento em suas palavras, era mais fácil deixá-lo acreditar que estava no comando e descobrir quais eram suas intenções.

Desde que eu o vi pela primeira vez, senti que havia algo a mais, um mistério em torno de cada sorriso, de cada ação e todo cuidado que ele apresentava ao executar cada uma delas, só mostrava o quanto meticuloso poderia ser, e isso era muito atraente e muito inteligente se não fosse por alguns deslizes. Ele era meu tipo, por isso que acho que inconscientemente facilitei esse nosso envolvimento, e ao prová-lo só tive certeza do quanto eu poderia ser uma dessas pessoas as quais foram suas vítimas no amor, alguém como ele seria capaz de amar?

“Pete caralho, porque demorou tanto?” Porsche estava na entrada do dormitório, mal humorado porque provavelmente havia brigado com Sr.Kinn.

“Você desaparece com o nosso chefe e ainda tenho que estar aqui para te receber depois?” Falei em tom zombeteiro, Porsche odiava quando eu o fazia para provocá-lo.

“Pete, que caixa é essa?” Me perguntou curioso apontando para a caixa em minhas mãos. Maldito Vegas sempre me colocando em situações complicadas.

“Comprei um celular para falar com meus avós.” Respondi, confesso que essa desculpa eu já tinha em mente, porque Porsche claramente iria descobrir sobre o aparelho. “Como você é quem faz as regras nessa mansão, poderia conversar com o Sr Kinn a respeito de liberar o uso de telefone.” Pedi para ele, enquanto destrancava a porta.

“Ah, eu tenho um celular também, acho que Kinn não vai se importar.” Respondeu em tom tão íntimo, que me senti um pouco culpado por estar mentindo descaradamente assim, mas a questão aqui era muito diferente, em uma situação hipotética entre Porsche e Kinn ou meu envolvimento com Vegas, acredito que ninguém iria entender a minha situação, a qual nem eu sei descrever no momento.

“Então...” Continuei para que ele falasse.

“Então o quê? Acho muito injusto a gente trabalhar igual uns cachorros e não ter sequer um celular, preciso saber como anda Chay.” Ele enrolou, terminando de falar ele se aproximou cheirando o ar em volta de mim.

“Esse cheiro é o mesmo que senti aquele dia, Pete você tem trazido alguém escondido? Tem uma amante? Se bem que é perfume masculino.” Perguntou malicioso.

“Virou especialista em perfume agora?” Perguntei.

“Porque eu quero saber como está a vida amorosa do meu amigo Pete, sabe tem muito tempo que te conheço e não vi você saindo com ninguém, isso pode fazer mal para seu cérebro.” Disse sorrindo, imediatamente dei um tapa em Porsche.

“Você quer é uma fofoca pra contar pro Arm e Pol.” Respondi abrindo a porta do dormitório. “Porsche me diga uma coisa, seja bem sincero. O que você achou do Sr.Kinn quando se conheceram?”

“Bem... ele foi bem insistente em me ter como guarda-costas, no início achei que ele era uma pessoa muito ruim, não tinha contato com a máfia então para quem vê de fora, é difícil não pensar assim.” Sentou-se no sofá suspirando.

“Então o que você acha da segunda família?” Não sei porque eu senti a necessidade de saber o que ele pensava a respeito.

“Eles são estranhos, quero dizer que Vegas tentou várias vezes me levar para ser guarda-costas da família dele, claro que para atingir Kinn, todos sabem da história dele com tudo que envolve a primeira família.” Disse sincero.

“Filho da puta.” Pensei alto, Porsche ficou confuso.

“Nada não, é que ele foi um filho da puta mesmo." Ouvir aquelas coisas me deixou inquieto.

“Você está aqui a mais tempo, porque me pergunta sobre essas coisas? Deveria saber mais que eu.” Ele falou.

“Perguntei porque queria saber o que você pensava sobre isso, porque parece que as chances de começar um conflito entre as famílias são grandes.” Contornei.

“Acredito que não. De qualquer forma, não devemos nos preocupar com isso, vá dormir.” Bateu levemente no meu ombro e caminhou em direção ao seu quarto.
E se fosse apenas um plano de me usar para afetar Kinn? Meu coração começou a se apertar quando Porsche falou sobre as tentativas falhas de Vegas, mas também senti um pequeno conforto por não ter dado certo.

Alguma vez ele já tentou fazer algo por si mesmo e não para prejudicar outra pessoa? Vegas começou se infiltrando em minha cabeça, antes eram apenas pequenos pensamentos aleatórios, depois mais tarde despertando sentimentos confusos como naquela noite, e eu não gostei nada disso. Estive num impasse desde que o vi naquele momento de fragilidade, raiva e indignação, não conversamos, mas eu sabia o que se passava em sua cabeça naquele surto de raiva, eu estava perto quando vi Vegas entrando naquele evento, as pessoas começaram a dizer todo tipo de coisa sobre ele, e o comparando com Kinn.
Respirei fundo algumas vezes antes de tomar coragem e ligar o celular, vasculhando os contatos, encontro apenas um chamado ‘V’.

Meu coração começou a ficar disparado de nervosismo e algum sentimento que não iria saber definir, aceitando esse presente eu automaticamente concordei com o que poderia vir a seguir, mesmo que eu possa ser apenas um guarda-costas da família principal não permitiria me colocar em uma posição que iria prejudicá-los.

O telefone tocou, me fazendo assustar com o barulho repentino, Vegas era tão rápido.

V: “Pete?” Ouvi sua voz suave me chamando do outro lado da linha.

Eu: “Estou aqui.” Tentei parecer tranquilo.

V: “Bom saber.” 

Pete: “Porque me deu um celular?” Perguntei temendo sua resposta.

V: “Queria me comunicar com você, não posso?” Perguntou sorrindo. “Eu pensei muito em você durante essas últimas semanas.

Pete: “O que um guarda-costas teria de tão interessante para você ter todo esse esforço?”.

V: “Tudo.” Aquelas palavras me arrepiaram.

Pete: “O que quer dizer com isso?

V: “Quero você aqui comigo, poderia tê-lo levado naquela hora, mas prefiro que você se entregue a mim.”, tão seguro de si.

Pete: “...” Fiquei em silêncio, a maneira como ele ditava as coisas me deixava cada vez mais animado e confuso, sempre esses dois sentimentos misturados.

V: “Amanhã levarei um documento às oito horas da manhã. Dê um jeito para a gente se encontrar.”

E Desligou antes que eu pudesse responder.

Poderia escrever um livro em como se meter em uma enrascada com Pete Phongsakorn, estava me custando acreditar que Vegas queria estar novamente comigo, não por ter uma autoestima baixa ou algo parecido, mas que a possibilidade de ele ter gostado e querer mais me assombrava, até que ponto poderíamos levar essa situação entre nós dois?

O beijo necessitado dessa noite...e seu cheiro novamente impregnado em mim estava trazendo à tona memórias daquela vez, me equivoquei em pensar que Vegas seria apenas meu por uma noite, e não sabia como me sentir sobre isso.

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