Nine

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Eram às sete da noite quando finalmente tive coragem para levantar e tomar um banho. Passei um bom tempo relembrando esta tarde e tudo o que fizemos, não deixei de sorrir com as últimas palavras de Vegas, ele realmente era aquele manipulador que eu sempre ouvi falar? Ou era somente uma máscara? Eu estaria caindo em uma armadilha? Acredito que eu me deixei prender nessa teia que era estar perto dele, ele era envolvente e sabia usar suas palavras, sempre tive uma tendência a ser muito curioso e tentar entender as pessoas, não tinha medo de entrar naquela escuridão.

Me disseram que eu iria acabar me afundando se continuasse a ser assim tão complacente.
Meu corpo dolorido me deixava mais animado, quem em sã consciência iria gostar de sentir um pouco de dor se também não estivesse perdido em seu próprio caos. Minha cabeça tentava encontrar a razão por ter me entregado tão rapidamente para Vegas, colocando em risco toda reputação que eu construí e até meu emprego, valia a pena me arriscar assim por alguém como ele?

Vegas era uma incógnita, eu sabia de todas coisas que ele já fez para prejudicar seus primos, sobre seu histórico fodido de transar com os ex namorados de Kinn e depois descartá-los como lixo e se Porsche fosse ingênuo teria caído na mesma ladainha, pensar nessas coisas que causava um desconforto. E eu não queria pensar sobre isso, mas este que conheci hoje era totalmente diferente.

Estava aminha boca bem reflexivo, um pouco inchada pelos beijos brutos de Vegas, minha atenção foi levada por um barulho estranho vindo do quarto. Eram sons de uma discussão, sei que era uma atitude um tanto invasiva, mas me aproximei encostei o ouvido na porta para escutar melhor.

“Porque você trouxe um guarda costas da família principal para essa casa?” A voz do homem era familiar, em tom severo que só poderia ser o Sr.Kan, segundo filho dos Theerapanyakul e o líder da segunda família.

“Pai, preciso dele para completar a missão, ele tem os contatos que precisamos para eliminar aqueles traficantes da nossa zona!” Vegas disse em tom baixo, essa era a única vez que o ouvi de uma maneira tão submissa.

“Você é um imprestável mesmo, não serve nem para completar o serviço sozinho. Kinn deve ter deixado você resolver isso por pena!” Disse o homem mais velho furioso, em seguida deu um soco em Vegas. 

“PAI!” Vegas gritou.

“Eu já sei que você o trouxe para foder aqui, seu viadinho de merda! Você é uma decepção, porque não pode ser um homem normal?” Ele cuspiu o veneno com desgosto.

Meu coração se apertou.

“Pai, vou conseguir resolver a situação e você vai me agradecer!” disse Vegas com raiva. “O que você tem a ver com as pessoas que eu fodo ou deixo de foder? Já se aproveitou muito disso quando me mandava pros seus clientes de merda!” ouvi outro tapa sendo dado.

“IMPRESTÁVEL!” O homem gritou, depois ouvi passos e uma porta sendo fechada com força.

Então era o verdadeiro lado de Kan Theerapanyakul, eu estava em choque com as coisas que eu havia acabado de escutar, sempre achei que eles tinham uma boa relação, pelo menos era o que eles aparentavam. Estive alguns minutos processando essa briga, pensando o que deveria fazer e como deveria conversar com Vegas, porque ele sabia que eu estava ali e provavelmente não iria querer ser visto dessa forma.

Ouvi barulhos de coisas sendo arremessadas na parede e gritos animalescos de Vegas agora. Abri a porta rapidamente e me dirigi em sua direção, segurei ele com muita dificuldade já que ele era mais forte que eu, coloquei meus braços em volta de seu pescoço, haviam lágrimas escorrendo pelo seu rosto, o puxei para meu abraço tentando acalmá-lo.

“Calma.” Eu disse enquanto Vegas tentava tranquilizar a respiração, eu nunca havia pensado que seu pai seria uma pessoa tão escrota a ponto de falar coisas apenas pra machucar os filhos dessa maneira.

“Por que ele me odeia tanto?” Ele perguntava como se estivesse conversando consigo mesmo. “Tudo o que eu faço é por ele e nada parece ser suficiente para satisfazê-lo.” Dizia com a voz falha.

Entendi naquele momento que nem em sua própria casa Vegas tinha paz, tudo não passava apenas de um teatro que era bem feito por Kan na frente dos outros, até fazia sentido se a gente parasse para pensar na rivalidade existente entre os primos, alimentados cegamente pela busca pelo poder, e Vegas era a vítima sempre comparado com Kinn até pelo próprio pai.

Quem não ficaria maluco?

“Vegas, você não é isso o que seu pai diz de você.” Falei em seu ouvido. Mesmo não conseguindo olhar em seus olhos, pude sentir sua raiva e tristeza, ele parecia que a qualquer momento iria explodir.

“Esse é o Kan, o verdadeiro Kan.” Ele disse baixo. “Odeia seu próprio filho porque sou gay, porque não faço nada para trazer prestígio para essa família, sou sua maior falha.” Respondeu com dor.

“Você é tão inteligente Vegas, ele só não vê isso.” Puxei ele para o pequeno sofá, pude finalmente ver seu rosto em desânimo, tão frágil e quebrado apenas com poucas palavras de seu progenitor. Seus olhos e nariz estavam vermelhos inchados pelo choro, parecia uma criança indefesa, me senti ainda mais triste o vendo dessa forma.

“Eu nunca vou ser como Kinn.” Respondeu imediatamente.

“Você não precisa ser Kinn, você é o melhor da sua maneira.” Falei passando a mão pelo seu rosto, sorri fraco para tentar mudar o humor dele.

“Tem certeza do que está falando? Não precisa ter pena de mim, todos me veem como um invejoso, nunca chegarei aos pés de Kinn, apenas um psicopata nojento que gosta de foder com os ex namorados dele. Tentei roubar Porsche dele e falhei.” Ele falou me encarando, como se quisesse me afastar, havia uma faísca de ódio em seus olhos.

“Porque você tem que pegar essas coisas e se projetar nelas? Quando poderia viver sua vida da maneira que quisesse, você é um irmão incrível e muito inteligente, a palavra de outras pessoas não deveriam ser aquelas que você deve escutar.” Falei sério, não queria ver ele daquela maneira alimentando uma vida na qual talvez ele nem perceba que não é a que ele quer.

“Você é uma gracinha, deveria te prender aqui para sempre, Kinn e Khun perderiam seu guarda costas e eu estaria muito feliz.” Ele disse forçando um sorriso tentando mudar o assunto.

“Para de graça, Vegas.” Disse um pouco tímido.

“Vou fazer você se viciar em mim e depois não será capaz de me abandonar nesse inferno.” Disse ele me abraçando.

Seu humor mudou de uma forma tão drástica, em um minuto parecia que iria matar alguém e noutro estava mais calmo e doce, esse Vegas que poucos iriam conhecer, isso me deixava pensando em que posição eu estaria em sua vida. Não sei se essa posição de amante iria ser aquela que iria me satisfazer, e ao mesmo tempo não estava exatamente ansioso para perguntar à ele, mas era necessário.

“O que estamos fazendo?” Perguntei para ele, tentando captar melhor seu olhar.

“Não sei Pete, você me deixou maluco.” Confessou. “Naquela noite você perguntou se eu estava bem, outros antes de você me viram e ignoraram, então eu fiquei intrigado. Já havia visto você muitas vezes com meu primo, mas foi naquela noite provando de você que eu vi o quanto era lindo, não me julgou em nenhum momento desde que estivemos juntos. Você é diferente.” Vegas falou com sinceridade.

“Isso é maluco demais, não sei porque eu me envolvi com você. Quando vi já estávamos nos agarrando naquele quarto.” Falei baixo.

“Você deu um voto de confiança em mim.” Pareceu significar muito para ele naquele momento, senti um meu coração se acelerando.

“Eu sabia que você poderia cumprir essa missão e estou aqui para te ajudar.” Falei sorrindo. “Vamos curar essas feridas e comer um pouco, estou faminto.”

“Se tiver com fome eu tenho algo muito bom aqui.” Sorriu apontando para sua virilha.

“Para de ser pervertido, pelo visto seu humor mudou muito rápido.” Comentei e ele sorriu. Ver Vegas sorrindo novamente aqueceu meu coração.

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