Capítulo 6

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Quando chego em casa, mando mensagem para Jongho contando em um furacão de palavras o que aconteceu com a minha carta, como ela finalmente voltou para mim — por pouco tempo — através dos pais de Yunho, que achavam que era uma carta escrita pelo Yunho para mim e que agora pensam que eu e o ele éramos melhores amigos, e como essa ideia absurda foi corroborada quando perceberam a assinatura no meu gesso no último minuto. Depois que vejo tudo isso digitado na tela, a resposta de Jongho parece a única possível: 


Jongho:
Puta merda

Pois é. 

Jongho:
Puta merda do caralho. 

Pois é.
Tentei falar a verdade pra eles.
Tentei mesmo.

Jongho:
Puta merda do caralho. Porra.
Não acredito que isso aconteceu.
Tipo, o Yunho... ele morreu mesmo. 

Falei com ele há poucos dias. Agora nunca mais vou falar, ou passar por ele, ou ouvir boatos de que ele vandalizou a propriedade da escola. Nunca. 

Conheço aquele garoto desde que estávamos no fundamental. Ele desaparecia de tempos em tempos, e nunca fomos amigos nem nada, mas ele ainda fazia parte do nosso grupo como um todo, da nossa turma, do nosso ano. 

Nunca conheci ninguém que tivesse morrido antes. Todos os meus avós ainda estão vivos. Não perdi sequer um animal de estimação. Acho que a coisa mais próxima com que consigo me identificar é quando uma pessoa famosa morre. Você tem a impressão de que passou tanto tempo com ela, assistindo a seus filmes, ouvindo suas músicas e aí, quando ela morre, você sente uma perda de ar repentina e essa tristeza forte no corpo todo, mas então, logo depois, em poucos minutos, a sensação passa e você segue a vida. Mas faz horas que falei com os pais do Yunho e ainda não consigo amenizar o frio na barriga. 

Claro, a morte dele é apenas metade do motivo. A outra metade é a que está realmente me inquietando. Todo esse mal-entendido sobre sermos amigos. Preciso dar um jeito nisso logo.


Você vai ao velório? 


Jongho:
Não. Por que eu iria?

Sei lá. Não é a coisa certa a fazer? Acho que eu deveria ir. 


Jongho:
Você sabe que não era amigo dele de verdade, não sabe? 

Eu sei.
Mas você deveria ter visto a cara deles. A mãe...
E o pai me olhou de um jeito quando eu estava saindo... Acho que eles esperam que eu vá. 
O que eu devo fazer? 


Jongho:
Ficar em casa.
É isso que você deve fazer. 


Mas e se eu encontrar com eles depois e eles me perguntarem por que não fui ao velório do Yunho? 


Jongho:
Com que frequência você encontra os Jung? 

O que as pessoas vestem 
pra um velório? 


Jongho:
Porra, eu vou lá saber?
Meu povo não faz essas coisas.
A gente vai pra casa da pessoa e enche a barriga de pastrami e bagel.


Começa daqui a duas horas. Pode me encontrar lá?


Fico esperando a resposta de Jongho, mas nunca chega. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora