Capítulo 16

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Me manter conectado com os fãs se tornou parte da minha nova rotina. “Fãs” é uma palavra odiosa, eu sei, mas, sinceramente, não sei de que outro jeito os chamar. “Seguidores” também é esquisito. Estou com, pelo menos, cem novos seguidores em todas as redes sociais, desde a última vez em que olhei. Imagino que sejam outras pessoas solitárias que encontraram esperança em nossa pequena comunidade, da qual, por acaso, sou o porta-voz. 

O que com certeza sei é que todas essas pessoas parecem ter um desejo desesperado de se sentirem conectadas a alguém. Elas se sentem motivadas a compartilhar histórias incrivelmente pessoais. De quando não atingiram as expectativas de alguém. De quando pegaram dinheiro emprestado e não conseguiram pagar. De quando tiveram medo de que nunca fossem sair do orfanato. De quando perderam um filho. 

De quando traíram a única pessoa que estava sempre ao lado delas. De quando o trabalho de que precisavam foi para outra pessoa. De quando uma autoridade abusou de seu poder. De quando o propósito que as movia não parecia mais fazer sentido. De quando não conseguiam sair da cama ou de casa ou ir ao trabalho. De quando não sabiam para onde direcionar sua raiva. Ou como suportar o isolamento. Ou corrigir seus erros. Ou não desistir. 

Posso me identificar com quase tudo e, ainda assim, é algo muito maior do que eu. 

E quando essas pessoas me escrevem, elas não querem só falar; querem também ouvir. Estão interessadas em saber o que penso sobre as coisas. No começo, queriam saber mais sobre Yunho, mas agora também querem saber mais sobre mim e a minha vida, e não apenas as grandes coisas dramáticas, mas as mundanas também, como o produto que uso nos cabelos e onde compro minhas roupas. Não digo que é minha mãe quem cuida dessas coisas. 

Muitas pessoas perguntam a mesma coisa: “Por que você nunca posta uma foto sua?”. Sempre tive vergonha de fotos. Até onde sei, Yunho era igual. Também não tem muitas fotos dele. 

Surpreendentemente, Vivian Maier tirou centenas de fotos de si mesma. É surpreendente porque ela sempre foi uma pessoa muito reservada. Ela usava nomes falsos nos lugares e nunca contava sobre seu passado. Parecia gostar do anonimato e, no entanto, tirou um monte de selfies — muito antes de as selfies virarem moda. Se uma pessoa tão tímida e desajeitada como Vivian Maier conseguia tirar uma selfie, eu também devo conseguir. 

Arrumo o cabelo diante do espelho, depois me sento na cama e levanto o celular. Tiro algumas fotos e vejo os resultados. Pareço alguém se preparando para cometer um crime sexual. 

Apago e tento de novo. Dessa vez, fico em pé na frente da janela e aproveito um pouco de luz natural. Percebo que minha cama bagunçada aparece ao fundo. Mas meu sorriso não está tão ruim. Recorto a cama e transformo a foto em um close. Depois de alguns filtros, junto forças para compartilhá-la com o mundo. 

Guardo o celular e abro o notebook. Preciso terminar alguns trabalhos da escola antes de levar os novos e-mails para os Jung. Mas antes clico na minha foto recém-publicada e vejo se tem alguma reação. Minha foto já tem umas doze curtidas. Atualizo a tela e o número de corações aumenta ainda mais. Alguém já postou um comentário: 

Que gato! 

Embora eu esteja completamente sozinho, fico vermelho e meio que dou risada, meio fico sem conseguir respirar. 

— O que está vendo aí? 

É minha mãe, óbvio. 

— Nada — respondo, fechando o notebook. 

— Nada? Você estava sentado aí com um sorriso enorme no rosto. 

— Não estava. Impressão sua. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora