Capítulo 24

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Um ano depois…

Sentado em um banco, começo uma carta nova: 

Querido Choi San…

É assim que todas as minhas cartas começam. A rotina me conforta. 

Hoje vai ser um dia bom, e vou dizer por quê. 

Mesmo depois de todo esse tempo, mais de um ano, não importa quantas cartas eu escreva, sempre tenho dificuldades com o que vem depois dessa parte. Mesmo em um dia normal, quando não acontece nada, já é difícil. Hoje, porém, não é um dia normal. O dia de hoje pede o tipo mais sensível de resposta. 

Porque hoje, aconteça o que acontecer, você é você. Sem desculpas. Sem mentiras. Apenas você. 

E isso é suficiente. 

O eu que sou não é o mesmo que eu era. Assim como o eu que sou não é o mesmo que serei no futuro. Essas versões de mim eu não posso mudar ou prever. Nem sei ao certo se exerço alguma influência sobre o eu atual. Mas ele é tudo que tenho. Eu não deveria resistir a isso. 

Isso me lembra daquele ditado: “O fruto nunca cai longe da árvore”. Acho que quer dizer que somos apenas produtos de quem nos fez e não temos muito controle sobre isso. A questão é que quando as pessoas usam essa frase, ignoram a parte mais fundamental: a queda. Segundo a lógica desse ditado, o fruto cai toda vez. Não cair não é uma opção. 

Então, se o fruto precisa cair, a questão mais importante para mim é o que acontece quando ele atinge o chão? Ele cai sem nenhum arranhão? Ou é esmagado pelo impacto? Dois destinos completamente diferentes. Quando se pensa sobre isso, quem se importa com a proximidade da árvore ou o tipo de árvore que o gerou? O que realmente faz a diferença é como pousamos. 

Um dia de aula. É tudo que minha mãe me deixou faltar. Cheguei ao ponto de ônibus no dia seguinte e, para a minha surpresa, não ouvi nenhum sussurro. Ninguém me encarou no caminho para a escola. Nenhum olhar estranho no corredor. Alguém até me deu “parabéns”. Só fui entender o que a pessoa quis dizer com isso mais tarde, quando trombei com Yeosang. 

Ele me envolveu em um abraço. 

— Nós conseguimos — disse ele, à beira das lágrimas. 

— Nós? — perguntei. 

— Sim, nós. Não precisa guardar rancor. Sei que ameacei expulsar você do Projeto Yunho, mas precisei ser duro. Se eu não tivesse pegado pesado, você nunca teria me mandando a carta do Yunho e o pomar não teria sido financiado. 

A arrecadação de dinheiro. Tinha me esquecido completamente. 

— Yeosang. Precisamos conversar. 

— Claro. Temos muito trabalho a fazer. Daqui em diante, nós dois temos de estar na mesma página em relação a tudo. Co-presidentes de verdade, hein? Sério, San, preciso de você. Yunho precisa de você. 

A verdade ainda não tinha sido exposta. 

Imaginei que deveria ser eu a pessoa a contar para Yeosang enquanto ainda tinha a chance. Era apenas uma questão de tempo até os Jung repassarem minha confissão. 

— Você está livre depois da aula? 

— Agora sim, esse é o entusiasmo que eu estava querendo — Yeosang sorriu. — Com certeza. Depois te mando mensagem. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora