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Meu pé é um aparador de grama. Estou chutando uma parte do gramado que tomou conta da calçada no ponto de ônibus. Os calouros observam com cuidado e surpresa. Reconheço cuidado e surpresa quando vejo. Eles podem achar que sou alguém que odeia grama. Não é o caso.
É que meus remédios não estão conseguindo me ajudar muito esta manhã. Não consigo me acalmar. Estou prestes a enfrentar o pelotão de fuzilamento, e não há nada que eu possa fazer a respeito.
Implorei para minha mãe me deixar faltar, mas convencer uma enfermeira de que você está doente exige poderes de persuasão que não tenho. A verdade é: me sinto doente. Olhei o relógio de hora em hora durante a noite toda. 1h11. 2h47. 3h26. Quando o despertador finalmente tocou de manhã, parecia que eu tinha acabado de pegar no sono.
Seonghwa não ajudou muito. Acabei indo à sessão de terapia ontem, peguei um ônibus até lá depois da aula. Digitei uma carta nova que parecia animada e inofensiva, e fiquei observando enquanto ele a lia no meu notebook, sem falar nada.
Tentei ser sincero. Falei vagamente sobre um determinado problema que estou passando.
— Alguém tirou uma coisa de mim — eu disse a ele. — Uma coisa particular, e tenho medo do que pode acontecer se eu não pegar essa coisa de volta.
— Vamos analisar as possibilidades – Seonghwa falou. — Se esse objeto não for devolvido para você, o que é o pior que pode acontecer?
A resposta verdadeira: Yunho publica minha carta na internet para toda a escola ver, incluindo Wooyoung, e agora todos sabem que escrevo cartas vergonhosamente sinceras para mim mesmo, o que é totalmente bizarro e perturbador, e todos os dias que já eram difíceis de viver passam a exigir um trabalho ainda mais árduo, e me sinto ainda mais sozinho e maluco do que já me sentia, o que eu não pensava ser possível quando fui para a escola ontem. A resposta que dei ao dr. Park:
— Sei lá.
Porém, até agora, pelo que vejo, o pior não aconteceu... ainda. Não há sinal da minha carta na internet. Procurei meu nome e nada apareceu. Ninguém está falando sobre ela.
O último post de Choi Jongho: O que é um peido pra quem tá cagado?
Kang Yeosang escreveu: Na África e na Ásia, as crianças precisam andar cerca de seis quilômetros por dia para buscar água.
Jungkook curtiu uma foto de uma modelo de biquíni e começou a seguir o cereal Frosted Flakes.
Outra comida me vem à mente: purê de batata. No ano passado, aconteceu uma briga entre Son Chaeyoung e Kim Dahyun durante o almoço. Ninguém sabe como começou, mas todos se lembram do que Chaeyoung disse para a Dahyun antes de pular em cima dela: "Vou enfiar esse purê de batata...". Chaeyoung não terminou a frase, então não se sabe se ela estava se referindo à entrada da frente ou dos fundos de Dahyun. Isso deu início a um movimento. As pessoas começaram a mandar purê de batata para a casa de Dahyun. Faziam gestos imitando atos explícitos com purê de batata na hora do almoço.
Na nossa escola, se você quer que alguém dê o fora, é só falar "purê de batata". Pode usar também o emoji de nuvem, que é o mais visualmente parecido. A carta que Yunho roubou de mim é o meu purê de batata. Nunca vai desaparecer se for publicada, vai me seguir aonde quer que eu vá.
O ônibus aparece na esquina. Dou uma folga para o meu pé e começo a me perguntar se meu conceito de "o pior que pode acontecer" é ingênuo e pouco criativo. Talvez eu não esteja pensando como um verdadeiro sociopata. E se Yunho decidir agir à moda antiga?
Ele pode, por exemplo, imprimir cópias da minha carta e as colocar dentro do armário dos alunos. Ou talvez esteja distribuindo pessoalmente na porta da escola agora mesmo. Faz sentido. Ele achou que minha carta era uma armação para que ele parecesse doido e, agora, para se vingar, vai deixar claro para todo mundo na escola que o verdadeiro doido é quem escreve cartas esquisitas para si mesmo. Este cara: Choi San.

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Sincerely, Me.
Teen FictionChoi San sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, ele decide seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola fosse um pouco melhor. Entret...