Capítulo 1

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Querido Choi San...

É assim que todas as minhas cartas começam. Primeiro vem o "querido", só porque é o cabeçalho de uma carta. É o padrão. Depois vem o nome da pessoa para quem você está escrevendo. No caso, eu mesmo. Estou escrevendo para mim. Então... é, Choi San.

Tem um milhão e dez coisas entre o nível subatômico e o cósmico que são capazes de abalar meus nervos todos os dias, e uma delas é o meu nome. Na verdade, "Choi" é o meu segundo sobrenome. Minha mãe, Kim Hyuna, queria que eu tivesse o seu sobrebome, e meu pai queria que fosse o dele, Choi.

Segundo minha certidão de nascimento, meu pai ganhou a batalha, mas minha mãe venceu a guerra, pois conseguiu que seu sobrenome viesse primeiro - apesar de nunca me chamar de nada que não fosse Choi San. Consequentemente, meu pai também não. (Spoiler: meus pais não estão mais juntos.)

Sou um Kim apenas na minha carteira de motorista (que nunca uso), nos currículos ou no primeiro dia de aula, como hoje. Meus professores novos vão falar "Kim-Choi San" durante a chamada, e terei de pedir a cada um para, por favor, me chamarem pelo meu outro sobrenome. Obviamente, isso terá de ser feito depois que todos tiverem saído da sala.

Minha mãe diz que sou um verdadeiro pisciano. O símbolo de Peixes são dois peixinhos amarrados um ao outro, tentando nadar em direções opostas. Ela curte essa besteira de astrologia. Baixei um aplicativo no celular dela que informa o horóscopo diário, e agora ela me deixa bilhetinhos pela casa com frases como: "Saia da zona de conforto"; ou dá um jeito de incluir a mensagem do dia em nossas conversas: "Encare um desafio novo. Um empreendimento com um amigo hoje parece promissor". Para mim é tudo besteira, mas acho que, para Hyuna, os horóscopos dão um pouco de esperança e orientação, que é o que minhas cartas supostamente deveriam me proporcionar.

Por falar nelas, depois do cumprimento, vem a parte mais importante da carta: o corpo do texto. Minha primeira frase é sempre a mesma.

Hoje vai ser um dia bom, e vou dizer por quê.

Uma perspectiva positiva gera uma experiência positiva. É esse o conceito básico por trás desse exercício de escrita. Tentei fugir no começo. Falei para o dr. Park: "Não acho que eu escrever uma carta para mim mesmo vá ajudar muito. Eu nem sei o que escrever". Ele se esticou, se inclinando para a frente em sua poltrona de couro em vez de ficar encostado nela de forma informal, como de costume. "Você não precisa saber. Essa é a intenção do exercício. Explorar. Por exemplo, você pode começar com algo como: 'Hoje vai ser um dia bom, e vou dizer por quê'. E continuar a partir daí."

Às vezes acho que a terapia é só papo-furado; outras, acho que o problema, na verdade, é que nunca consigo mergulhar de cabeça nela.

Enfim, acabei seguindo o conselho dele - palavra por palavra, literalmente (uma coisa a menos com que me preocupar), porque o resto da carta é a parte complicada. A primeira frase é só a abertura; depois tenho de sustentar essa frase com meus próprios argumentos. Tenho de provar por que hoje vai ser um dia bom mesmo que todas as evidências mostrem o contrário. Nenhum dia que veio antes deste foi incrível; por que hoje seria diferente?

A verdade? Não faço ideia. Então está na hora de soltar a imaginação, garantir que todas as moléculas de criatividade estejam bem despertas e prontas para trabalhar - Muitas moléculas de criatividade são necessárias para escrever um discurso motivacional incrível.

Porque hoje você só precisa ser você mesmo. Mas também ter autoconfiança. Isso é importante. E interessante também. Fácil de conversar. Acessível. E nada de ficar se escondendo. Mostre-se para os outros. Não de um jeito pervertido, não é para tirar a roupa. Só seja você mesmo - seu verdadeiro eu. Seja você mesmo, seja verdadeiro consigo mesmo.

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora