Capítulo 15

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Hoje estou passando pela Área no refeitório e escuto meu nome. Não sei ao certo quem batizou o lugar de “Área”, mas é a fileira de mesas no meio do salão onde todas as pessoas populares da escola sentam. Se um caminhão caísse do céu bem naquele lugar, toda a alta sociedade da escola seria exterminada de um só golpe. (Depois de ler Macbeth ano passado, passei a sempre dizer “de um só golpe”.) 

Sentado na frente e no centro da Área está o novo casal do momento, conhecido como Jikook: formado por Jeon Jungkook e seu novo namorado, Park Jimin. O pobre Kim Taehyung foi banido para uma das mesas periféricas. É uma simples questão de seleção natural, imagino. Enquanto passo pelo famoso casal, Jungkook acena e diz: 

— Fala, Choi. — Jimin me encara nos olhos, coisa que nunca fez nos três anos em que estudamos na mesma escola. 

Tudo que faço é ficar olhando para eles em silêncio perplexo. Ainda não estou acostumado com essa história de não ser invisível. Muita coisa mudou desde que fiz aquele discurso, finalmente escapei da indiferença. Agora sou simplesmente Choi San. 

Passo pela Área e sigo até a mesa de Jongho. Ele está comendo uma batata do tamanho (e do formato) de uma calculadora. Me agacho perto da cadeira dele. 

— Precisamos de mais e-mails — informo. — Pode me encontrar depois da aula? 

— Hoje não — Jongho diz. — Tenho dentista. 

— Tá. Amanhã? 

— Talvez. 

Não tenho tempo para brincadeira. Como um capitalista em ascensão, Jongho sabe que é um erro fatal quando não se tem oferta suficiente para atender a demanda. 

— A não ser que você prefira me ensinar a fazer — digo. — Já vi você fazendo. Aposto que consigo dar um jeito. 

— Ah, é? — ele ri. — Você acha? Então fique à vontade, cara. — Uma alegria perversa se materializa em seu rosto. — E não se esqueça de acrescentar o desvio de TMG, senão todas as conversões de fusos horários vão pirar completamente. 

Talvez não, então. 

— Bom, pode me encontrar amanhã ou não? 

Jongho endireita a postura. 

— Sim, senhor. Me apresentando às mil e setecentos TMG menos quatro. 

— Não faço ideia do que você está falando. 

Jongho revira os olhos. 

— Às cinco. 

— Melhor às quatro, na verdade. Tenho planos para a noite. 

Deixo Jongho enquanto ele saboreia a última mordida da batata e finalmente chego à minha nova base de operações: a mesa de Wooyoung. Tem um grupo bem eclético aqui: Alguns músicos da banda de jazz, um garoto do time de golfe da escola — que eu nem sabia que existia. Uma menina relativamente gótica. A goleira reserva do time de futebol. A srta. Lee foi substituída permanentemente por um treinador e um professor de educação física; pelo que disseram, ela tinha sido filmada ridicularizando agressivamente, por nome, diversos alunos de grandes proporções. E, finalmente, Yeonjun, que me parece ser o amigo mais próximo de Wooyoung. Não tenho certeza quanto a isso, porém, e tenho a impressão de que o próprio Yeonjun também não sabe definir sua relação com o Jung. Descobri que a apatia de Wooyoung não é direcionada só a mim. 

Yeonjun é o primeiro a perceber minha chegada. 

— Você vai usar uma roupa, San? 

Olho minhas roupas. A não ser que tenha esquecido alguma coisa, tenho quase certeza de que estou vestido, como sempre. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora