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O caminho de ônibus para a casa dos Jung demora quarenta minutos. De carro, levaria metade do tempo, mas eu não dirijo.
No começo, mal podia esperar para tirar minha carteira de motorista, estava ansioso para ter o poder de ir aonde eu quisesse. Porém, qualquer noção idealizada que eu tinha de dirigir logo foi arruinada. Na autoescola, mostram vídeos horrorosos de acidentes de carro e estatísticas assustadoras sobre taxas de mortalidade, depois entregam uma carteira de aprendiz e botam você atrás do volante.
Claro, tem um “especialista” ensinando no banco do passageiro, mas quem está no comando é você, sofrendo para lembrar todas as regras que aprendeu, e então, exatamente quando está pegando o jeito, você percebe que, por mais que dirija de maneira impecável, ainda precisa confiar que os outros vão dirigir assim também.
Mas não dirigem. A rua é um caos. Parece que ninguém usa as setas nem chega a frear direito, tampouco dá preferência aos pedestres. O sinal mal ficou verde e a pessoa do carro de trás já buzina. Depois, tem animais soltos na estrada, policiais esperando em toda curva e motoristas dando uma olhada no celular. É um milagre que as pessoas cheguem a qualquer lugar sem se ferir ou ferir os outros, porque muitas das piores coisas que podem acontecer — paralisia, desfiguração, lesão cerebral, homicídio culposo, afogamento, decapitação, pulverização, incineração, hemorragia enquanto a ambulância não chega — acontecem dentro de um carro.
No dia da minha prova prática de direção, me tranquei no banheiro. Do outro lado da porta, ouvi minha mãe falar não tão baixo ao celular: “Que tipo de adolescente não fica feliz em tirar a carteira de motorista?”. Em algum momento, ela tentou me passar o telefone. “Seu pai quer falar com você.” Senti ódio dela por ter ligado para ele.
Quando finalmente abri a porta, minha mãe chorava. “A gente não pode continuar desse jeito”, ela disse. “Você não precisa se sentir assim. Não quer se sentir melhor?” Devo ter dito que sim, porque, uma semana depois, tive minha primeira consulta com o dr. Park. Alguns meses depois, com a ajuda do meu querido Lexapro, consegui tirar a carteira de motorista, mas nunca a uso. Felizmente, não temos dinheiro para um segundo carro.
Os Jung moram na parte mais nova da cidade, onde as casas e os gramados são maiores e as entradas de carro mais largas. Quando o ônibus passa pela entrada do parque Ellison, vejo a placa iluminada de BEM-VINDO que passei boa parte do meu verão arrumando. Sempre soube que Wooyoung morava perto do parque, mas não sabia exatamente onde. Devo ter passado pela rua dele todos os dias a caminho para o trabalho sem saber.
É uma caminhada curta do ponto de ônibus até a casa, mas, ainda assim, quando chego, minhas axilas estão encharcadas e o papel em volta do meu buquê de flores está empapado com o suor das minhas mãos. Na entrada, arranco o papel das flores e o enfio no bolso da calça.
A casa da família Jung fica em um lugar tranquilo entre duas árvores majestosas, no fim de uma rua larga e sem saída. A porta da frente é pintada de vermelho, como nos contos de fadas. Está na hora de tocar a campainha, mas, por algum motivo, não consigo levantar o braço. Essas flores deveriam ser para Wooyoung, como um gesto do meu afeto ou algo parecido, mas, em vez disso, vou entregá-las para a mãe dele por ter perdido o filho. O único motivo para eu estar aqui é porque Yunho não está. Como deveria me sentir em relação a isso?
Estou tão ocupado não tocando a campainha que mal noto quando a porta se abre e revela a mãe de Yunho com um sorriso confuso no rosto.
— O que você está fazendo aí fora? — ela diz.
— Boa noite. Quer dizer, boa tarde, sra. Jung.
— Entra. E, por favor, me chama de Krystal — estendo as flores. — Ah. Que gentil, San. Obrigada.

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Sincerely, Me.
Teen FictionChoi San sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, ele decide seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola fosse um pouco melhor. Entret...