Capítulo 21

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Parece que viram um fantasma. É a cara das pessoas quando chego ao ponto de ônibus. Será que eu estou com uma expressão vazia e imaterial como estou me sentindo por dentro? Ou talvez seja apenas o fato de que passei semanas sem aparecer aqui e eles estão surpresos por eu estar de volta. Eu também estou surpreso. Mas, ao mesmo tempo, não. 

Menti para Wooyoung, dizendo que não precisava de carona para a escola hoje porque minha mãe me levaria. Depois do que aconteceu na noite passada, foi fácil para ele acreditar. 

Não dormi. Não consegui dormir. A manhã chegou. Pensei em matar aula, ficar embaixo das cobertas. Mas me obriguei a levantar. Minha mãe já tinha saído para o trabalho, não encontrei nenhum bilhete esperando por mim no espelho do banheiro, nem no balcão da cozinha e nem na porta da frente. 

Fico olhando para o teto durante a aula de inglês e faço um belo trabalho cravando um buraco na carteira durante a aula de cálculo. 

Só quero ficar sozinho, como sempre estive. Não quero ser incomodado ou notado ou interrogado. Mas é só um desejo. 

Quando estou indo para o almoço, do nada, Yeosang me aborda. Ele claramente ficou à espreita aqui na frente do refeitório, esperando pela minha chegada. 

— Por que Yunho se matou? — ele questiona. 

Yeosang vive falando de trabalho, mas hoje ele está com mais intensidade, e eu só queria que ele conseguisse dizer um simples “oi” antes de se jogar para cima de mim falando sobre… 

— Espera, quê? — digo. 

— Ele estava melhorando — diz, com uma pilha de papel nas mãos. — É o que ele diz para você em todos os e-mails. E aí, um mês depois, ele se mata? Por que tem tantas coisas nestes e-mails que não fazem sentido? 

— Porque às vezes as coisas não fazem sentido, está bem? As coisas são caóticas e complicadas. 

— Como seu namoro com o Wooyoung? — ele observa ao redor e acrescenta: — Sabe o que as pessoas estão falando sobre você? 

O que as pessoas estão falando? Nunca me passou pela cabeça que as pessoas poderiam falar algo sobre mim. Por tanto tempo, ser invisível tinha sido o normal. De repente, vejo minha situação como alguém de fora poderia ver: Choi San está saindo com o irmão do melhor amigo poucas semanas depois da morte dele. 

Merda, parece ruim mesmo. 

Tento afastar o pensamento da minha cabeça e me dirigir a Yeosang. 

— Por que está tão obcecado com isso? Quero dizer, você nem conhecia o Yunho.. 

— Porque é importante. 

— Importante porque vocês eram colegas de laboratório? Ou porque, sei lá, talvez isso conte mais um ponto extracurricular para suas candidaturas para a universidade? 

A expressão de Yeosang se transforma em algo que eu nunca havia visto nele até então: derrota. 

— Importante — ele murmura, com a voz tremendo — porque sei como é se sentir invisível. Assim como o Yunho. Invisível e sozinho e como se ninguém nem fosse perceber caso eu desaparecesse em um estalar de dedos. Aposto que você também sabia como era isso. 

Ele espera que eu diga alguma coisa. Como não digo, balança a cabeça e sai andando. 

Não me sinto mais vazio. Meu coração está batendo rápido, minha testa, suando. Yeosang despertou um reflexo primitivo em mim. Lutar ou fugir. Pela primeira vez, estou disposto a lutar. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora