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A noite de ontem foi um baque para mim. Ficar ali sentado, vendo Wooyoung se abrir. Não conseguir ser sincero com ele foi agonia pura.
No entanto, estou disposto a aprender a lidar com essa agonia para continuar com ele. Ele significa muito para mim. É doce, diferente, engraçado, brilhante, intenso, inseguro, mas ambicioso, volátil e talentoso.
Tem uma voz e algo a dizer, e também está interessado no que eu tenho a dizer, ainda que sejam besteiras sobre árvores e pássaros. Ele acha que minhas idiossincrasias são um charme. Também acha fofo o jeito idiota como me visto. Fala que meu quarto tem um “charme infantil”. Não liga de segurar minhas mãos suadas. Me desafia. Me faz pensar duas vezes antes de pedir desculpas. Me força a experimentar outros sushis além do Califórnia, que é o que sempre peço. Quer que a gente use fantasias que combinam para o Halloween — acabamos nos decidindo por uma versão adaptada de Bonnie e Clyde; já comprei meu chapéu fedora.
Ele me enche de um tipo de confiança que me faz ter vontade de voltar a dirigir. Quer conhecer todas as minhas partes, onde moro, como eu era quando bebê, quem é minha mãe. Se importa com meu futuro. Tenta fazer seus pais pagarem meus estudos. Wooyoung e eu podemos acabar indo à mesma universidade, não há motivos para não ficarmos juntos por muito tempo.
Antes, eu achava a ideia de uma alma gêmea a besteira mais ridícula que já tinha ouvido, mas talvez não seja. Talvez seja algo além de nossa compreensão e, talvez, Wooyoung seja minha verdadeira alma gêmea. Ele pode ser meu marido no futuro. Por ele, eu deixaria de lado todos os meus receios sobre casamento, ignoraria todas aquelas estatísticas deprimentes sobre divórcio e até o exemplo dos meus próprios pais.
Não há nada que eu não faria por ele.
E não apenas por ele. Pelos Jung também. Eles me proporcionaram tanta coisa. Me receberam de braços abertos em sua casa e em sua vida. A generosidade, o apoio e o acolhimento deles me espantam. A orientação e a confiança de Jihoon. O amor de Krystal, seu abraço. Wooyoung me disse o quanto sua mãe gosta de me ter por perto. Como está “obcecada” pelo que fiz. Como levo… Yunho junto comigo.
As mentiras.
Não importa o quanto eu diga a mim mesmo, nunca consigo fugir das mentiras. Se ao menos eu conseguisse encontrar um jeito de explicar tudo. Talvez os Jung pudessem entender. Talvez todos pudessem entender.Mas já repassei isso na minha cabeça, várias e várias vezes, a decisão de contar toda a verdade sem deixar nada de fora e, toda vez que imagino, chego à mesma conclusão apavorante: tudo vai acabar. Vou voltar à estaca zero. Sem os Jung. Sem Wooyoung. Sem amigos. Sem ninguém. Sem nada. Completamente solitário.
E, além disso, eles vão ficar sozinhos de novo. Deixados com o mesmo nada. Sem consolo. Sem esperança. Vão ficar sem tudo que tiveram nessas últimas semanas. Isso os deixaria de novo devastados, como estavam quando os conheci. Antes de nos unirmos nessa comunidade de almas excluídas.
Antes de tudo mudar para melhor. Para nós todos.
É hora de voltar ao foco.
Me sento na cama, mando um convite para uma chamada de vídeo com Yeosang. Para a minha sorte, ele já está on-line. Nem sei se ele precisa de sono.
— Bom dia — digo, quando o rosto dele surge na tela.
— Pois não? — diz, sem nem tirar os olhos da mesa.
— Yeosang, andei sendo um péssimo copresidente, desculpa. Você tinha toda razão. Mas estou de volta agora. Vou voltar a me dedicar para fazer o possível para que o projeto seja um sucesso. — Porque a alternativa é muito apavorante.

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Sincerely, Me.
Teen FictionChoi San sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, ele decide seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola fosse um pouco melhor. Entret...