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A garçonete pergunta se quero mais, mas acho que já tomei muito café hoje. Se meu pé bater com mais força no chão, os donos do Capitol Café podem colocar os danos ao edifício na minha conta.
Normalmente, não consumo cafeína — o dr. Park me aconselhou evitar —, mas eu podia escolher entre uma bebida com café ou a água da casa, e como Wooyoung disse que seria melhor para ele se eu gastasse dinheiro enquanto estivesse aqui… Não posso bancar um jantar, então, sim, me passe o creme e o açúcar.
Ele está no palco agora, afinando o violão. Tecnicamente, não chega a ser um palco. É só uma área com um microfone e duas caixas de som.
Estou mais nervoso do que Wooyoung e é ele quem vai se apresentar, só quero que a noite dê certo. O lugar está bem vazio. Tem um casal de idosos jantando, outro artista esperando nas coxias e algumas pessoas com notebooks, ocupando banquinhos. Mas ainda está cedo.
A voz dele ressoa:
— Olá — e todos erguem os olhos, e ele se afasta do microfone. — Opa, desculpa.
Alguém desliga a música tranquila que tocava ao fundo. O palco, ou o que quer que seja aquilo, é todo de Wooyoung. Ele toca um único acorde, testando o som. Paro de mexer o joelho, com medo de que o barulho interfira na apresentação dele. Wooyoung respira fundo, fecha os olhos, e começa.
É um estilo diferente daquele com que estou acostumado. Normalmente, seu violão acompanha dezenas de outros instrumentos para formar um som suntuoso. Aqui, é fraco e simples. Apenas uma dissonância baixa e singela.
Então ele abre a boca e minha apreensão dá lugar ao fascínio. Ele não é sedutor ou gracioso. É quase como se estivesse conversando com a gente, mais do que cantando. É bruto, vulnerável e sincero. É tudo que ele é, só que menos reservado.
À medida que relaxo na cadeira, Wooyoung também vai relaxando no palco, a timidez que percebi no início diminui. Sua voz fica mais musical, se transformando em um tom mais alto e sedoso no refrão e saindo com força total na última estrofe. Acho que ele está tocando um cover. Já ouvi essa música antes, mas não dessa forma. Ele a transformou para ser só dele.
Quando acaba, bato palmas. Ele ergue os olhos e, agora que parou de tocar, está tímido de novo. Não ligo se sou o único batendo palmas. O casal de idosos sorri para mostrar que gostou, e o resto do salão está distraído. Wooyoung parece não perceber nem se importar, está fazendo seu som ali em cima. É ainda melhor do que o ver se apresentar na banda de jazz. Muito melhor.
A próxima música também é um cover. Meu bolso vibra. Entre uma música e outra, olho para ver de quem é a mensagem. É de Yeosang, mas não tenho tempo para ler. Wooyoung está apresentando a próxima música.
— Agora vou tocar uma música que compus — ele anuncia. — É completamente inédita e acho que eu vou acabar estragando tudo, mas que seja. Se chama “Only Us”.
Fico tenso outra vez. É como a ver se pendurar de uma grande altura sem cinto ou rede de segurança embaixo. Lembro de como me senti ao entrar naquele palco para fazer meu discurso na frente da escola inteira. A lembrança acelera meu coração. Tento deixar os pensamentos negativos de lado, não há nenhuma plateia intimidadora aqui. Wooyoung tem tudo sob controle.
Ele começa com um dedilhar delicado. O ritmo que está criando parece familiar, mas novo ao mesmo tempo. A música soa esperançosa, acabou de começar e eu já gosto. Passo a gostar mais quando escuto a letra. Quando ele chega ao último refrão, quase sei as palavras de cor.
E se formos nós?
E se formos nós e apenas nós?
E o que veio antes não contar mais nem importar
Podemos tentar?
E se for você? E se for eu?
E se for tudo que precisamos que seja?
E que o resto do mundo se desfaça
O que você acha?

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Sincerely, Me.
Ficção AdolescenteChoi San sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, ele decide seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola fosse um pouco melhor. Entret...