Capítulo 11

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Esta é a cama de casal em que Jung Yunho dormia. O piso de madeira que suas botas arranharam. As paredes brancas que ele fez de tudo para encher de coisas.

Estar em meio a pôsteres de filmes e bandas, artesanatos, e uma medalha de brincadeira que diz VESTI CALÇAS HOJE. Ao lado, uma foto de perto de uma mão com o dedo do meio levantado. O dedo do meio está pintado de preto com letrinhas brancas desenhadas. Só quando você coloca o rosto bem pertinho da foto consegue ler o que as letras brancas dizem: BU!

Estou assustado, sim. Mas já estava antes de entrar no quarto de Yunho. Krystal me disse para subir enquanto ela termina de preparar o jantar. Pelo jeito, de tanto pânico, cheguei uma hora antes do combinado. Eu me ofereci para ficar lá embaixo e ajudar a servir a mesa, já que ela parecia estar fazendo tudo sozinha, mas ela insistiu para eu subir e passar "um tempo a sós com Yunho".

Está quase vinte e sete graus lá fora, mas, dentro da casa dos Jung, estou tremendo. Essa mulher está prestes a ter o coração partido pela segunda vez, e agora sou eu quem vai parti-lo. Ela me disse de novo sobre como as mensagens entre mim e Yunho foram importantes para ela, como estão ajudando a mantê-lo vivo. Posso ver uma nova leveza nela hoje e, no entanto, aqui estou eu, prestes a tirar Yunho dela outra vez e me revelar uma péssima pessoa. Detesto fazer isso com ela, mas que escolha eu tenho? É pior continuar contando um monte de mentiras sobre mim e seu filho.

Por mais torturante que possa ser estar aqui no espaço privado de Yunho, talvez seja o mais próximo que já estive de quem ele realmente era. Além das diferenças óbvias entre o quarto dele e o meu — minha cama tem metade do tamanho da dele, meu piso é coberto por um carpete e minhas paredes são pintadas de verde-claro —, há algumas semelhanças impressionantes. Em nenhum lugar deste quarto há sequer uma alusão a algo relacionado a esportes. Sempre me senti diferente das pessoas da minha idade por não me interessar nem um pouco em praticar ou assistir a esportes.

Além disso, assim como eu, ele tem prateleiras abarrotadas de livros. Vejo O guia do mochileiro das galáxias, O apanhador no campo de centeio, O grande Gatsby, Os mistérios de Pittsburgh, e toda a coleção de Harry Potter. Nunca ouvi falar de alguns títulos, outros eu também tenho. Vejo uma edição escolar de Macbeth do nosso primeiro ano do ensino médio. Ele tem pelo menos meia dúzia de romances do Kurt Vonnegut. Alguns têm as classificações decimais de Dewey na lombada. Parece uma contradição: Jung Yunho em uma biblioteca.

Um dos títulos que tenho: Na natureza selvagem, de Jon Krakauer. Vi o filme, depois li o livro. É sobre um cara de vinte e poucos anos que tenta viver sozinho no Alasca. Quando o assunto era natureza, ele sabia muito bem o que estava fazendo. Teria se tornado um guarda-florestal ótimo. Infelizmente, acabou cometendo um erro fatal e morreu no meio do mato.

É uma sensação estranha, saber que eu e Yunho lemos o mesmo livro. É possível que eu tivesse mais em comum com ele do que tenho com a maioria dos meus colegas de escola. Se nós dois tivéssemos nos sentado na mesma mesa durante o almoço, poderíamos ter conversado sobre outros livros que lemos.

Vai saber, talvez poderíamos ter sido amigos de verdade. Coisas da vida.

Um dos livros de capa dura de Yunho não tem luva nem título. Eu o tiro da prateleira. É um caderno cheio de desenhos. São estranhos e perturbadores, mas também complexos e habilidosos. Um deles mostra um homem de galochas segurando um guarda-chuva. Ratos e aranhas estão caindo do céu. O chão e as árvores também estão cobertos de ratos e aranhas.

Uma legenda em baixo diz: Criaturismo. Chega a ser engraçado.

— Por que você está no quarto do meu irmão?

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora