Capítulo 9

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Não sei por que continuo dando satisfações a Jongho depois de cada novo desastre. Nunca me sinto melhor depois de nossas conversas. Jongho tem um jeito de destacar meus erros que os faz parecer ainda piores do que eu imaginava. 

Mas estou tão perdido agora, sentado sozinho no sofá da minha sala escura. Jongho é a única pessoa em todo o mundo que tem a mínima noção do que estou passando. Estou flutuando pelo espaço e ele é a voz da central de comando no meu fone. Posso não concordar com suas táticas, mas, sem ele, há uma boa chance de eu nunca voltar para casa. 

Atualizo Jongho sobre o que aconteceu na casa da família Jung. Como sempre, não consigo prever onde ele vai focar sua próxima crítica. 

— Os pais dele acham que vocês se pegavam. Você sabe disso, não sabe? – Jongho fala durante a ligação. 

— Como assim? Por que pensariam isso? 

— Hum. Vocês eram melhores amigos, mas ele não queria que você falasse com ele na escola? E, quando falou, ele te encheu de porrada? Essa é a fórmula para namoro gay secreto no ensino médio. 

— Ai meu Deus. 

— Eu te falei o que fazer. O que eu disse? Concorde com a cabeça. E só. 

— Eu tentei. Você não entende. É diferente quando encaram seus olhos. Fiquei nervoso. Só comecei a falar e depois que comecei... 

— Não conseguia parar. 

Suspirei alto. 

— Eles não queriam que eu parasse. 

É verdade. Acho que eu não tinha me dado conta até então, mas parece que eles estavam me ajudando no processo, preenchendo as lacunas quando eu não sabia aonde a história deveria ir em seguida. Não quero botar a culpa neles, óbvio. Sei que é tudo culpa minha, mas também sei, pela cara que fizeram, que queriam que eu continuasse. Precisavam que eu continuasse. 

A questão é que tentei contar a verdade a eles. Até contei, na verdade. Falei para os pais de Yunho que não foi ele quem escreveu a carta. Falei isso para eles, diretamente, mas eles não me deram ouvidos. 

— Então, o que mais você mandou pra casa do caralho? 

— Tenho quase certeza que Wooyoung me odeia. Ele acha que eu e o Yunho estávamos nos drogando juntos. 

— Você é ótimo, sério mesmo. E o que mais? 

— Nada. 

— Nada? 

— Assim, eu disse que trocávamos e-mails. 

— E-mails... 

— É. Falei que eu e o Yunho trocávamos e-mails. E que ele tinha uma conta de e-mail secreta. 

— Ah, claro, uma daquelas contas de e-mail secretas. Óbvio. Pra mandar fotos dos paus. 

Para Jongho, tudo não passa de uma grande piada. Realmente não sei por que continuo recorrendo aos conselhos dele. 

— Não, só disse que ele tinha um e-mail secreto e que a gente se falava por lá. 

— Tipo, sério mesmo? Você não tinha como piorar ainda mais as coisas? 

— É muito ruim? 

— Eles vão querer ver os e-mails, seu idiota. 

— Ah, não. 

— Ah, sim. 

— Que merda. 

É claro que vão querer ver nossos e-mails. Qual é o meu problema? Sério. Por que me iludo pensando que o pior que pode acontecer já aconteceu? As coisas sempre podem piorar, essa é uma certeza, é assim que a vida funciona. Você nasce e vai envelhecendo e ficando grisalho e doente e, não importa o esforço que faça para reverter o processo, você vai morrer todas as vezes. Repito: pior, pior, pior e, então, a morte. Tenho um longo caminho pela frente para chegar ao pior de tudo. Esse é só o começo. 

Sincerely, Me.Onde histórias criam vida. Descubra agora