E lá está ela.
Com o cabelo preso, a calça de alfaiataria e uma regata de alcinha tão fina que pode se romper a qualquer momento. Além desses, há outro elemento indispensável na sua composição, que observo de longe: os coturnos pretos. É absolutamente tudo que sei sobre ela, o que me deixa em terríveis maus lençóis. Não é muito esquisito eu estar obcecada por alguém que nunca nem cheguei perto?
Porque estou. Muito. Puta merda.
A gente não se esbarra com frequência e a distância é sempre a mesma: ela lá, bem longe, e eu babando daqui. A culpa não é minha (é, eu sou covarde), mas do tamanho da universidade. Eu não sei de qual curso ela é, mas não é o meu. Com isso, eu sempre preciso contar com a sorte de encontrá-la entre um bloco e outro.
E não adianta lembrar meu cérebro que tenho vinte e três anos, idade o suficiente para ter aprendido como me aproximar de mulher — mesmo que essa em específico seja extremamente bonita e com uma chance gigantesca de ser heterossexual. Jesus Cristo, eu só quero foder essa mulher.
E não, mandar uma foto dela em anônimo para a página de crushes da faculdade está fora de cogitação.
Em resumo, quando a gente se vê (ou eu a vejo) é uma emoção e tanto. Principalmente depois de dois meses de férias de final de ano da universidade. Sério, eu estou há muito tempo vivendo essa humilhação — desde que a vi no início do primeiro semestre do ano passado.
Ela não vai em festas organizadas pela atlética, não socializa... Nem é do meu bloco da faculdade, excluindo alguns cursos de opção, mas deixando outra pilha de opções — o que definitivamente não ajuda.
Tenho inúmeros defeitos, mas nenhum deles me dá coragem de me aproximar ou seguí-la até descobrir seu nome, como uma pré-adolescente apaixonada faria. Nem tenho uma amiga estereotipada, corajosa e sociável, que possa descobrir as coisas para mim.
Estou sozinha, jogada aos lobos. Não tenho contato algum que possa me ajudar, a maioria das mulheres só conheço porque fiquei, em algum momento da minha trajetória universitária. Isso, claro, ignorando todas que fiquei em um momento que nem o meu nome eu saberia dizer em voz alta, à beira de um coma alcoólico e pensando se deveria adicionar drogas sintéticas na minha lista de vícios.
Não, não adicionei. Café, álcool e cigarro já atingiram minha conta. Já estou envergonhando minha finada mãe demais.
E, mesmo que eu esteja sendo exagerada, não estou amando essa desconhecida. Só de pernas bambas, imaginando o tempo inteiro como seria estar com a cara enfiada nas pernas dela.
Maldita libido.
Se o destino não me empurrar no colo dela e fazer todo o trabalho, eu estou fodida.
— Te achei! — Lissa me assusta, se posicionando ao meu lado.
Saio do transe que só a Medusa me dá, virando o rosto para encontrar minha irmã mais nova, que não é nada parecida comigo. Da última vez que medi minha altura, era 1,61. A da minha irmã? 1,80. Herdei muita coisa da ascendência coreana: os olhos curvados, pálpebra única e um cabelo que parece estar sempre com frizz. Minha irmã se safou de herdar alguma merda do nosso pai, ela parece mais com nossa mãe (tem um cabelo liso bonitinho que o meu nem sonha).
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Nós em Nós ⚢
RomanceATENÇÃO: Essa é uma história poliamorosa, lésbica e +18. Possui conteúdo sexual, incluindo práticas de BDSM. Para saber mais, consulte o primeiro capítulo. Maitê nunca ousaria dizer em voz alta, mas tem alguém tirando seu fôlego nos últimos meses. P...