Algumas pessoas gostam de dizer que a gente paga o carma pelas maldades que fizemos em outras vidas. Passei a vida inteira escutando uma tia específica sempre justificando todas as mortes terríveis que aconteciam com as vidas passadas das vítimas. Acho isso patético. Como pode pagar por algo que você nem faz a mínima ideia do que é? Como eu posso ter tantas outras vidas se o meu eu é formado justamente por tudo que vivi até agora, sem vidas passadas e toda essa bobajada?
É desproporcional. Absurdo. É uma cadeia de pessoas pagando o pato por erros que não são seus. Eu não acredito nisso.
Quer dizer, tento não acreditar.
Porque há momentos que sinto que estou com uma garrafa inteira de carma acumulado.
Minha família é cristã. Eles vão à igreja todos os domingos, aos cultos da quarta-feira, ao culto da meia noite, ao da ceia de natal... A religião é o pilar principal deles. É o que nos mantém em pé. Eu, meus pais e minha irmã mais nova.
Se não fosse por isso, não sei... mas assim é: meu pai é o meu pior pesadelo. Ele fareja, tem as piores opiniões do mundo e me mantém em uma gaiola. Mamãe... eu não sei quantas vezes a ouvi ter uma opinião, mas 90% das vezes sinto que ela não gosta muito da minha existência. E Miriam é... não temos uma irmandade.
Acho que em algum momento meus pais perceberam que eu era diferente e me tornaram uma inquilina. Algo que eles só mantém por perto fisicamente para não escancarar tudo.
Porque o carma que eu provavelmente carrego é gostar de mulher. Eu nunca beijei ninguém, nunca disse isso em voz alta ou me permite entrar demais nesses pensamentos, mas meus pais sabem.
O dom divino de conhecer bem os filhos, mas usar de maneira errada. É por isso que mal tenho acesso à Internet, não tenho amigos e sou monitorada o tempo inteiro. É por isso que eu estou na droga de um curso que odeio e não faço a mínima ideia de quem eu para ter uma chance de me libertar.
Mas o carma... Acho que uma das pessoas que divide a alma comigo fez muita besteira porque tudo o que sinto na primeira semana de aula é apenas uma confirmação que estou fadada a viver a mesma coisa sempre.
Parece que sou um filme em preto e branco enquanto todo mundo ao meu redor é colorido. As pessoas estão vivendo, elas são reais. Eu sou apenas uma garota que deveria ter crescido, mas não sabe fazer o mínimo porque sempre esteve reclusa.
Talvez meu pai tenha aceitado me deixar entrar não só pela existência de Lira, mas também porque sabia que o que fez já se tornou irreversível.
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Nós em Nós ⚢
RomanceATENÇÃO: Essa é uma história poliamorosa, lésbica e +18. Possui conteúdo sexual, incluindo práticas de BDSM. Para saber mais, consulte o primeiro capítulo. Maitê nunca ousaria dizer em voz alta, mas tem alguém tirando seu fôlego nos últimos meses. P...