23 - Maitê

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Catarina tem um corpo bonito

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Catarina tem um corpo bonito. Eu não sou idiota de fingir que ela não está no padrão de beleza quando se trata do corpo. O corpo levemente musculoso, os seios pequenos, uma bunda que eu definitivamente não tenho e uma altura que deixa tudo pior. Eu sei. E até mesmo em coisas que não são comuns, como o nariz de ponte protuberante e as sobrancelhas grossas herdadas como herança judaica, combinam exatamente com ela.

Não sou idiota de fingir que não. Eu gosto. Puta que pariu, a forma como ela tem um olhar fraco, mas não manso. Como os lábios são a parte mais inocente e convidativa dela.

Mas sei que há uma diferença bem grande entre mulheres tão bonitas quanto Catarina e Catarina. Ela sabe como agir, é confiante o suficiente para se portar em qualquer situação. Não só sabe o poder que tem, mas como usá-lo.

Para ser sincera, eu raramente transo sem ter tomado no mínimo uma lata de cerveja. É sempre noturno. Bagunçado, desordenado e bom, mas caótico. Eu nunca converso muito, às vezes durmo de exaustão ou volto para casa. Se eu transo de novo com a mesma pessoa, é o acaso. Não sou boa em manter intimidade.

Mas hoje, hoje, a lua acabou de aparecer. É o momento específico em que ela divide espaço com o sol, cada um ao seu lado. Da janela, o céu já está levemente azul-acinzentado. No quarto, a luz é ambiente, do tipo que deixa tudo mais agradável.

E eis Catarina, encostada na cabeceira da cama. Nua. O cabelo desgrenhado, a pele suada, os pelos pubianos acentuados na curva sutil que ela faz com as pernas enquanto uma das mãos está segurando um cigarro (baseado, o cheiro expõe). Ela não tem um mínimo pudor, está há minutos ali.

Bem, eu já deveria saber que ela não tem pudor algum depois que a gente transou.

Estou deitada. Preciso procurar o celular, descobrir que horas são e ir embora. Mas não consigo. Primeiro, estou dolorida. Meu corpo dói, estou exausta. Segundo, não quero perder um segundo dessa maldita cena.

Um celular toca. É o meu, o que me faz criar um esforço para chegar até ele. Lissa. Esqueci de avisar que eu iria... Olho para Catarina. Não vou falar isso.

— Foi mal, foi mal. Eu tive um... contratempo, acabei esquecendo de avisar que iria para casa mais tarde — digo antes mesmo que ela fale alguma coisa.

— Mas tá... tudo bem, né? — pergunta.

— Tá, tá... eu só. — Olho de novo para Catarina, ela sibila algo que não consigo entender.

— Ah, esse tipo de contratempo. — Lissa suspira. — Tá tudo bem, me avisa quando estiver voltando para casa.

Ela desliga antes que eu responda e eu continuo em pé, perto da cama.

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