25 - Maitê

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Acho que o pai de Alexia está fazendo um teste, mas é burro o suficiente para perceber que falhou

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Acho que o pai de Alexia está fazendo um teste, mas é burro o suficiente para perceber que falhou. Ou talvez seja o benefício de inocência que tenho ao ter uma deficiência: ele talvez me veja como um anjinho que não poderia fazer nada. Usar bastão e ter uma perna ferrada deixou de ser um incômodo há muito tempo, virou apenas uma parte de mim. Não acho que ainda seja um castigo divino, mas confesso que nunca esperei que fosse me trazer um privilégio.

É novidade.

Mesmo com raiva, eu consigo manter uma postura de idiota: converso, falo sobre minha mãe como se ela estivesse logo ali e não morta. Minto tanto que a língua queima, sei o que falar e o que não falar. Ele parece mais inquisidor, se interessa mais e eu preciso pegar mais pesado: histórias tristes sempre funcionam. Ninguém pode ser uma pessoa maldosa se o seu pai faleceu, sua mãe tem câncer e precisa de apoio para caminhar sem dor. Completando com "vontade de Deus", tudo é visto com compaixão.

Perdi tudo? Deus quis me testar.

Se eu fosse minimamente crente, talvez fosse punida por ser tão cínica ao falar dele.

Como não sou, não tenho medo, apenas tento não desmanchar expressão quando mesmo exagerando, ele consegue falar algo pior com normalidade.

A adrenalina passa assim que ele vai embora. Não parece certo. Fácil demais. Não digo uma só palavra antes de deixarmos o celular dela longe e tirar a camiseta que tanto me sufoca. Posso sentir a surpresa de Alexia ao perceber que o hematoma no pescoço não é o único, mas há raiva demais para sentir vergonha.

Foda-se, minha moral já está baixa. E quem é ela para me julgar?

Lissa percebe o clima e tenta ser educada com Alexia. Por minha vez, me mantenho estática no sofá só com o sutiã cobrindo o torso. Longos minutos. Uma parte de mim não quer Alexia aqui e está se sentindo uma idiota por ter a ajudado apesar de tudo. É só uma parte, a outra ainda não consegue dizer não porque essa filha da puta está sempre com uma expressão de filhote, mesmo depois de tomar as piores atitudes.

— Eu vou tomar um banho, me trocar e respirar um pouco. Se... a Catarina vier, deixe que ela suba.

Olhe pelo lado bom: ainda que eu queira enfiar uma faca no pescoço nela e depois no meu, na situação que estou, sei que ela vai ser uma companhia melhor para Alexia. Óbvio que vai. Eu não estou com paciência alguma para ser anfitriã e não quero que minha irmã tenha que pegar uma responsabilidade minha.

Os dedos da mão enrugam de tanto tempo que fico embaixo da água até sair. E ainda sim, eu finjo que ainda estou no banho. Deito na cama, já vestida e tento arranjar energia para ser uma pessoa racional. Boazinha. Não demonstrar mágoa, raiva... podar todos os sentimentos ruins que estou sentindo e sustentar a ajuda que ofereci.

Difícil. Acho que baixei levemente a guarda. Ontem, à noite, conversando com uma Catarina divertida e que cozinha bem. Sem falar sobre problemas, farpas ou... ódio. Como eu posso me surpreender com alguém que é exatamente como deveria ser? Eu já sabia da fama dela na cidade natal, de como todo mundo a adora pela sua gentileza e que ela ganharia sim um concurso de miss simpatia.

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