Há um molho terrível em ser uma cara pálida de olhos verdes e cabelo preto.
Eu não estou dizendo que sou a pessoa mais insuportável da face da terra, mas Catarina van Bokhoven tem um tipo de classe que eu jamais teria. Meio que... Quem eu estou querendo enganar? A filha da puta esbanja gentileza e provou isso em uma das piores situações: presa (por pura espontânea vontade) comigo em um hospital público lotado.
Ela não reclamou do tempo que ficou do meu lado e manteve a energia até o final da noite. A medicação me fez apagar de sono por várias vezes, mas sempre que eu abria os olhos, Catarina estava lá. Puta que pariu, a gente nem se conhece e ela bancou a minha babá por uma madrugada inteira.
E não o suficiente, me levou para casa às 3 da manhã com ajuda de uma lata de energético. Deus sabe o quanto odiei ter que chamá-la para subir só porque já estava tarde demais para ela dirigir tanto e não para ela foder com a merda da minha dignidade.
O que não a impediu de fazer, já que uma das poucas memórias nítidas que eu tenho é a risada dela ao negar antes de ir embora. Maliciosa, maldita.
Só Deus sabe o malabarismo que fiz para saber que ela chegou viva em casa sem me expor.
E agora qual outro malabarismo vou fazer para tornar isso menos humilhante.
Tem algo no papel de boa moça que ela fez que duplicou a vontade que pensei ter morrido. E eu achava que já era experiente o suficiente para não me surpreender com pouco.
Mas aqui estou eu, reservando metade do meu dia para pensar no desempenho daquele braço malhado quando os dedos estiverem...
— Maitê, querida!
Adeus pensamentos pervertidos às 8 da manhã. Fabrícia me cumprimenta com um beijinho na bochecha e eu só permito porque ela é a professora mais querida que já tive — e que, pelo visto, continua gostando de mim.
— Você sumiu, ein? — diz, com as mãos na cintura.
Ela é uma senhora de idade. Do tipo que os fios brancos já cobriram metade do cabelo e o rosto já está coberto de linhas. Ela usa correntinha de óculos, saias longas e papetes de couro.
— Eu torci o tornozelo e acabei de molho lá em casa nos últimos dias. Voltei ontem. — Sorrio amarelo. — A senhora precisa de mim?
— Preciso que você me anote seu e-mail. Tenho um estágio legal pra você.
E também é por isso que eu a permito me dar beijinhos na bochecha como cumprimento. Ela é a responsável por 90% de todos os estágios que eu já fiz e, bom, nem sempre o estágio é "legal", mas uma parte de mim gosta da lembrança. E de pensar que a recompensa por ter sido uma aluna exemplar a vida inteira seja ter uma professora da universidade que te paparica com estágios.
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Nós em Nós ⚢
RomanceATENÇÃO: Essa é uma história poliamorosa, lésbica e +18. Possui conteúdo sexual, incluindo práticas de BDSM. Para saber mais, consulte o primeiro capítulo. Maitê nunca ousaria dizer em voz alta, mas tem alguém tirando seu fôlego nos últimos meses. P...