Nós em Nós ⚢

15 - alexia

— Desculpa.

Catarina levanta o rosto e percebe minha presença. A íris verde está vibrante e o sangue coagulado expõe um risquinho na bochecha. Sei que ela está irritada e sei que não foi nada bonito da minha parte não ter dito nada, mas é que... a Maitê não ficou com raiva de mim e... bem, eu já estava errada, então não podia fazer mais uma besteira na frente dela — tipo não segui-la após a bengalada.

O que significa que eu passei as últimas aulas pensando em como Catarina estava, já que a situação inteira foi culpa minha. Fui eu que tive a ideia, mesmo sabendo que Maitê começou a não vê-la com bons olhos, e apenas piorei tudo.

— Maitê descobriu sozinha e me fez confessar, eu não sabia que ela ia te bater — explico antes que ela diga uma palavra. — Juro. E eu só não fiquei para ver como você estava porque não queria pisar na bola com ela de novo.

Ela mantém o olhar.

— Tudo bem, docinho. O acordo era que você tivesse a minha companhia quando precisasse, mas não precisa mais, né? — diz, amarga.

Eu me sento ao seu lado, sem saber o que fazer. Ela não diz nada, mas não se levanta. Eu abro a mochila sobre o colo e vasculho até minha necessaire de pequenos socorros. Encontro um curativo, me inclino para colocar no arranhão e ela ri, suavizando.

— Quer cuidar de mim, doutora? — sussurra. — Não foi nada grave, tá tudo bem. Tô mesmo é pensando em como dar o troco naquela filha da puta.

— Você não vai... — começo, assustada ao lembrar do que ela fez na noite da festa — ...sabe, tal como com aquele homem no estacionamento.

— Você não acha que eu faria isso, acha? — Ri. — Eu só vou fazê-la se arrepender na base do que eu faço de melhor. Com a sua benção, claro.

Arqueio as sobrancelhas.

— Você... — hesito.

— Vou pensar nisso depois.

Catarina se encosta no banco.

— Mas você não vai ficar chateada, vai? Sabe, seus assuntos com a Maitê... — sugere, implícita.

É, é realmente o que eu pensei. Ela provavelmente vai dar o troco se aproveitando do interesse de Maitê — que duvido que acabou.

Eu sei que não tenho nenhuma chance, mas Maitê me beijou e há alguns dias atrás isso também não tinha chance, então... e se? Por isso, eu me sinto meio amarga ao pensar que Catarina vai investir mais no desejo mútuo das duas, já que ela está em vantagem.

Mas não vou dizer isso em voz alta.

— Claro que não vou. Eu não fico chateada por essas coisas... Além disso, você deduziu que eu gosto da Maitê.

A mentira é tão insustentável que ela me olha desconfiada.

— Juro, eu não vou ficar brava.

Ela ri.