3 - Saudades

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Golfo de Bótnia — Costa ocidental da Finlândia — 950 d.C.


Todos se entusiasmaram no momento que o inimigo apareceu, começaram a se preparar para lutar, pegando as armas animadamente.

- Isso é mesmo necessário? Perguntei. — Não estamos nessa para salvar pessoas? Porque lutar contra elas?

Novamente todos me olharam como se eu tivesse dito que queria mergulhar em cocô, obviamente me achavam muito estranho, percebi que todos ali gostavam de lutar, estavam animadíssimos com a iminência do combate. Eu estava aterrorizado.

- Quando mudarmos a história deixamos eles viverem, disse J, mas antes disso mataremos todos que entrarem em nosso caminho.

Eu achei aquilo extremo, nunca tinha matado ninguém, o máximo que já tinha feito era socar um garoto em uma briga de rua, e quase quebrei meu pulso nesse dia.

- Eu ajudo você, disse Yuno percebendo meu desconforto, posso te passar conhecimentos de luta.

A voz dela era suave como o sopro do vento nas folhas das árvores, ela falava devagar com um leve sotaque oriental, eu estava hipnotizado olhando pra ela e o mais inteligente que eu pude dizer foi:

- Unhum...

Ela sorriu e segurou o meu rosto outra vez, se era assim que ela ensinava eu queria ser seu aluno o resto da vida. Quando ela olhou nos meus olhos senti aquela sensação de novo, de uma luz acendendo em minha cabeça, eu estava começando a me acostumar com os pacotes de conhecimento que ela depositava em minha mente. De repente eu sabia lutar, tinha o conhecimento e a experiência de um velho samurai, Yuno soltou o meu rosto, pegou um embrulho no chão do barco e me ofereceu, e quando peguei percebi que era mais pesado do que imaginei, dentro havia uma katana japonesa, a lâmina estava embainhada, eu sabia que a bainha podia ser usada durante uma luta em determinadas situações, mas eu mal podia levantar a espada com meus braços magrelos.

- Tome cuidado, disse Yuno percebendo o meu problema, apesar de ter o conhecimento teórico da luta você não tem prática, seu corpo pode não ser rápido o suficiente para certos movimentos ou forte o suficiente para alguns golpes.

- E quanto a você? Vai lutar com o quê? Perguntei decidido a mudar de assunto, não queria que ela me visse como fraco.

- Eu gosto de manter a distância, ela me falou, tenho boa pontaria, nunca fui boa com a katana, sempre a levei comigo porque pertenceu a meu irmão, ela se chama Kusanagi.

O cabo da espada era envolto em uma espécie de faixa de couro preto, a lâmina era afiadíssima e brilhante, era uma espada muito bonita.

- Vou cuidar muito bem dela, respondi percebendo que era um artigo de família.

- Espero que você não morra, ela disse e deu um beijo em minha bochecha depois se afastou e pegou umas pequenas lâminas. Imaginei que ela lançava aquelas coisas como se fossem dardos.

Cada um se preparava a sua maneira, Demétrius apenas se alongava como se fosse começar a fazer ginástica, Samir, armado até os dentes como quem vai para uma guerrilha, exibia um sorriso maléfico no rosto e murmurava consigo mesmo: "- Venham, papai está esperando... venham brincar com o papai..." Definitivamente a sanidade dele era questionável, quando vi J meu queixo caiu, ele havia tirado o sobretudo e por baixo escondia um físico impecável, segurava um machado em cada mão e os manuseava com precisão, sem camisa não parecia mais um velho frágil e sim um lutador de luta livre pronto pra chutar seu traseiro, sua musculatura era impressionante.

Como se tudo não fosse surpreendente o bastante, Kaléa pegou o arco e ajustou a aljava nas costas, devia ter no mínimo cinquenta flechas ali, das costas dela brotaram asas com penas como as de um pássaro, ela parecia um anjo selvagem e exótico, as grandes asas negras tinham quase três metros de envergadura, e a aljava se encaixava perfeitamente entre elas, ela era fantástica. Osha colocou duas adagas em bainhas presas na cintura e manteve mais uma em cada mão, os navios vikings se aproximavam cada vez mais.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora