7 - A habilidade de Samir

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Pangeia - 180000000 a.C.

Dessa vez estávamos em uma floresta densa e com árvores estranhas, todos estavam alertas com as armas preparadas, aprendemos da pior forma a não baixar a guarda. Mas o que nos atacou foi muito rápido, um vulto de cinco metros de altura passou entre nós, talvez uma ave, e J havia desaparecido. Imediatemene corremos na direção da criatura misteriosa, armas em punho, o que quer que tenha sido aquilo capturou J e era bem maior que um Croto, passamos por um pequeno riacho, as árvores daquele lugar pareciam gigantescas, o ar era tão carregado que parecia que estávamos respirando água.

Quando finalmente alcançamos J ele estava de pé, a criatura que o capturou estava a seus pés, era um tipo de dinossauro, parecia um aveztruz, mas tinha uma pele escamosa marron em vez de penas, uma longa cauda e um longo focinho com dentes afiados no lugar do bico, o pescoço também era mais grosso que o daquela ave, jazia com a face desfacelada por machadadas e um profundo corte na garganta, quando todos chegamos sem fôlego àquela cena J sorriu e falou:

- Acho que já temos o nosso jantar.

Eu realmente achei que ele estava brincando, mas Demétrius arrastou o animal enquanto procurávamos um lugar para acampar, a paisagem era extremamente estranha, coníferas gigantes se misturavam a pequenos arbustos com flores exóticas e ervas também gigantes, eu me senti uma formiga em um jardim, o ar era difícil de respirar e logo estávamos cansados, no céu avistamos um pterodáctilo, estávamos na era dos dinossauros.

Encontramos uma caverna que era uma fenda em uma grande rocha, a entrada devia ter uns cinco metros de altura e parecia ser longa apesar de estreita, Demétrius ajudou a conseguir madeira derrubando algumas das árvores gigantes e fizemos uma fogueira. Osha, Yuno e Samir começaram a trabalhar no "jantar". Eu nunca tive nojo de comida, mas aquilo? Era um dinossauro, uma largatixa gigante, não sei se conseguiria.

- Não podemos ficar muito tempo aqui, falou J, vamos nos dividir e buscar pelo aro.

Todos nos entreolhamos, ninguém sabia o que procurar, percebendo nossa expressão o ancião continuou:

- O próprio aro mostrará o caminho, lembram na ilha? Aquele brilho azulado? É só procurar por algo como aquilo, algo que não seja normal na paisagem.

Achei aquilo muito genérico, na era dos dinossauros e árvores gigantes o que seria anormal?

- Demétrius, Samir e Osha vão pelo lado leste, eu, Miguel e Yuno pelo oeste, ao fim do dia retornaremos a caverna.

- E se for como na ilha? E se o aro só for acessível à noite? Perguntou Demétrius.

Ele pouco conversava desde o incidente no vulcão, e definitivamente não ria, apesar disso estava sempre sóbrio e consciente, era como se a missão tivesse se tornado pessoal.

- Se for esse o caso sairemos à noite, disse J, mas todos juntos.

- Como faremos para avisar se acharmos alguma coisa? Perguntou Osha.

- Sinalizadores, respondi, Samir roubou coisas úteis além de roupas floridas.

Todos riram de leve, ainda estávamos com as roupas coloridas, não dava para saber quando poderíamos pilhar novamente então precisávamos cuidar bem delas.

Já estava anoitecendo então comemos, e pra minha surpresa o "churrascossauro" estava realmente bom, ao anoitecer repousamos com três vigias por vez, aquele lugar era perigoso, não dava pra relaxar. No meio da noite ouvi um barulho estranho próximo a nós, me levantei de um salto e saquei Kusanagi, eu estava de vigia com Demétrius e Samir.

- Tudo bem, disse Samir, eu cuido disso.

Eram cinco dinossauros iguais ao que atacou J, eles grunhiam e arrastavam as patas no chão, eu não entendia de dinossaurês, mas aposto que eles não gostaram da gente ter jantado o priminho deles.

- Tem certeza? A pele deles é bem grossa. Eu disse, imaginando se as pistolas de Samir fariam algum efeito, na verdade eu já pensava em acordar os outros.

- Tudo bem Miguel, disse Demétrius percebendo minha intenção, Samir pode cuidar deles sozinho.

Então lembrei que nunca tinha visto a habilidade de Samir, algo me dizia que estava prestes a ter uma demonstração. Os animais ainda rodeavam a uns cinco metros de nós, estavam com medo da fogueira, mas se aproximavam cada vez mais, em breve nos atacariam.

Samir deu um passo a frente, Demétrius estava relaxado, confiava plenamente nele, eles cultivaram uma estranha amizade, as poucas vezes que Demétrius conversava era com Samir, parece que eles comparavam suas crenças e conhecimentos, fiquei contente que estavam se dando bem. Eu não piscava, minha curiosidade de saber a habilidade de Samir não me deixava desviar o olhar, o rapaz fechou os olhos e se concentrou como se estivesse meditando, depois sussurrou:

- Por que do pó viestes e ao pó voltarás.

Ele murmurou aquilo como um mantra e Demétrius rolou os olhos, aparentemente Samir estava sendo teatral, mas quando ele abriu os olhos o chão tremeu de leve, e duas rachaduras se abriram na terra, delas surgiram dois bonecos de barro um bem mais altos que eu, pareciam pessoas de massa de modelar feitos por crianças da pré escola, as criaturas de barro partiram pra cima dos dinossauros dando socos e agarrando as pernas de alguns deles, dois dinossauros conseguiram contornar os bonecos de barro vindo em nossa direção, ao que Samir fez um gesto brusco com a mão e da terra brotou uma mão gigante também de barro que agarrou um dos dinossauros e arremessou contra o outro.

Os pobres dinossauros, percebendo que não venceriam ali, partiram correndo sem olhar para trás, Samir ainda esperou alguns instantes para ter certeza que haviam partido e então relaxou, de forma que a grande mão e os bonecos de barro se desfizeram desmoronando em um montouro de entulho.

Eu estava boquiaberto, Samir manipulava a terra dando a ela forma e movimento, era inacreditável, Samir viu minha expressão e deu aquele sorriso maléfico característico dele. Todos acordaram, talvez pelo tremor de terra, talvez pelos grunhidos dos dinossauros, e estavam na entrada da caverna observando, Demétrius se levantou de onde estava e falou:

- Se estão prontos para assumir eu vou descansar.

Ninguem o deteve, ele entrou na caverna e se recostou em uma rocha, Osha veio até Samir e beijou suavemente em seus lábios, só então percebi que ela não usava mais seu colar com a pedra vermelha, busquei com os olhos em Samir e lá estava, ela o havia presenteado, eles eram fofos à sua maneira.

- Porque não matou nenhum deles amor? Perguntou ela. A gente teria garantido o jantar de amanhã.

Eu tive que rir daquilo, Yuno olhou pra mim e sorriu também, nos encaramos por um breve momento, sorrindo, senti que estava na hora, na primeira chance que eu tivesse de ficar a sós com ela eu a beijaria, se algo desse errado pelo menos eu teria tentado.

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