15 - Verdades de vidro

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Mundo dos mortos - Era indefinida

O castelo estava em uma plataforma flutuante de pedra, a visão era impressionante, era um prédio de cinquenta metros de altura e vinte de largura, totalmente em vidro, as duas torres eram um pouco mais altas, eu imaginava como seria lindo se a luz do sol o banhasse.

J estava exausto, se sentou no chão de pedra assim que chegou ao topo das escadas e largou os machados no chão respirando violentamente.

- Você está bem? Perguntou Yuno preocupada.

- Sim, acho que a idade está começando a cobrar seu preço.

- Vamos continuar, falei.

Yuno novamente me lançou um olhar de desaprovação e eu desviei o olhar, só queria sair daquele lugar.

- Vamos, disse J se levantando, afinal estamos com muita pressa não é mesmo.

Ignorei o sarcasmo do velho e me voltei para a entrada do castelo, apesar de ser todo em vidro cristalino não podíamos enxergar seu interior, o que dava para ver eram reflexos distorcidos.

Me aproximei a passos largos e olhei a grande porta de vidro, nela era possível ler a frase "CONHECE-TE A TI MESMO E CONHECERÁS A VERDADE" em um brilho azul familiar, o aro tinha que estar ali, seria difícil mover a porta, mas como tudo naquele lugar era estranho a porta se abriu sozinha somente com a nossa aproximação.

Todos nos entreolhamos, aquele brilho azul não anunciava somente a presença do aro, mas também a presença de perigos, armadilhas e inimigos. Eu não sabia se a gente aguentaria mais uma luta, o desgaste físico e psicológico era grande, mas como sempre não havia escolha, suspirei e entrei a passos cuidadosos.

O interior do castelo era tão impressionante quanto o exterior, eu estava uma sala de vinte e cinco metros quadrados mais ou menos, haviam passagens para três corredores de vidro, não senti os outros me acompanhando e me virei para dizer que me seguissem, meu coração descompassou, atrás de mim só havia uma parede de vidro, a porta por onde eu entrei não estava ali, eu estava sozinho no castelo de vidro.

Rapidamente saquei Kusanagi, ninguém poderia me ajudar se eu fosse atacado, estava por minha conta. Examinei a sala onde eu estava, no teto estava escrito em azul brilhante: "CONHEÇA A VERDADE E ELA TE LIBERTARÁ" Aquela frase era familiar, mas eu não podia ficar ali decifrando charadas, olhei para os corredores, o que estava diretamente diante de mim tinha escrito em cima da passagem "AQUILO QUE É", o que estava à minha direita tinha escrito "AQUILO QUE ERA", e à minha esquerda dizia "AQUILO QUE HÁ DE SER". Eu não pensei muito, avancei com cuidado pelo corredor à minha frente.

Depois de uns dez metros de paredes de vidro havia uma curva fechada para a direita, quando virei lá estava Gabi, abaixei Kusanagi institivamente, aquela era minha irmã, ela estava exatamente como eu vi nos meus pesadelos, magra e cheia de hematomas, seu nariz ainda tinha sangue coalhado e seus olhos estavam inchados e roxos. Seu cabelo estava desgrenhado, aquilo não era bom sinal, mesmo quando se entregou às drogas ela era muito vaidosa quanto ao cabelo, se havia chegado ao ponto de não cuidá-lo era porque ela não ligava mais para nada. Ela estava sentada no velho sofá e só então percebi que era uma visão, das paredes de vidro saíam feixes de luz como um projetor que criavam a ilusão que eu estava vendo, como um holograma em 3D hiper-realista.

A seringa estava na mão trêmula da garota que estava com o olhar desfocado até que um barulho de batida a assustou, fazendo que ela se levantasse de um salto.

- Eu sei que você tá ai Gabi, você não pagou o que me deve.

Era a voz do traficante gordo, seria ele quem tinha espancado ela? Apertei Kusanagi com força e cerrei os dentes. Gabi se esforçava para ficar em silêncio, mas ouvi um alto som de impacto e ela ficou completamente aterrorizada, Faraó arrombou a porta.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora