17 - A traição do arcanjo

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 Tikal - Guatemala - 725 d.C.

Chovia bastante, estávamos no cume de uma pirâmide de pedra no meio de uma cidade rudimentar que parecia deserta.

Aquilo não fazia sentido, mas como nada fazia sentido naquela missão apenas continuamos andando. A pirâmide tinha degraus do cume até o solo, eu carreguei Yuno em meus braços, seria perigoso para ela descer aqueles degraus na chuva sem enxergar.

J parecia um pouco melhor, respirava mais suavemente e continuava abraçado com a mochila, Samir fechou os olhos se concentrando, estava checando se sua habilidade voltou a funcionar, depois de um momento ele olhou para mim e assentiu brevemente, ele estava de volta ao normal.

Quando chegamos ao pé da pirâmide em um pátio cercado de construções de pedra o chão estava lamacento, a chuva nos encharcava mas não ligávamos, era até agradável algo vindo dos céus para quem voltou do mundo dos mortos. Ao nosso redor era possível ver bananeiras, goiabeiras e mais algumas árvores frutíferas além de casas rudimentares de pedra cujas estruturas eram interessantes.

Com certeza aquele local era habitado, do outro lado do pátio uma mulher grávida nos encarava, era uma índia, usava colares coloridos e seu rosto parecia ter sido pintado, mas a água da chuva lavava a tinta e escorria por seus longos cabelos pretos, eu coloquei Yuno no chão, ela poderia se comunicar por telepatia e conseguir nos hospedar, mas do nada senti um impacto no peito que me arremessou a uns quatro metros para trás, eu conhecia aquela sensação, foi um tiro de plasma, os Crotos estavam aqui.

Meu peito doía bastante, eu devia estar com duas ou três costelas quebradas agora, mas me forcei a ficar de pé, a visão foi arrasadora. O pátio estava tomado por Crotos, centenas deles, a pirâmide também estava coberta de seres azuis de quatro braços e nós éramos apenas quatro, uma cega, um aleijado, um idoso e eu, não venceríamos aquela luta, a gestante entrou correndo em uma das casas, eu realmente gostaria que ela voltasse com reforços mas duvidada muito disso.

- Nós lutaremos enquanto você completa o círculo, disse J, seu olhar era obstinado e os machados estavam firmes em suas mãos.

Samir ergueu doze lobos e sete homens de terra, eu nunca o vi conjurar tantos aliados de barro, em sua mão uma granada prestes a ser lançada, as tatuagens de Yuno cobriram seu corpo, ela havia aprendido a controlá-las, eu saquei Kusanagi.

- O círculo não funcionará, eu disse a J, lutaremos juntos e cairemos juntos.

J não parecia espantado, para minha confusão era como se ele já soubesse que acabaria assim, uma lágrima caiu de seus olhos se misturando às águas da chuva e ele falou:

- Se eu vou morrer, morrerei como um homem livre.

Então atacamos, eu gostaria que Belial estivesse à vista, teria satisfação em cortá-lo antes de morrer, mas ele não estava ali, os Crotos atacavam com suas adagas e tiros de plasma, os lobos de Samir eram imunes às lâminas e quando eram atingidos pelos tiros de plasma Samir apenas conjurava outros em seu lugar. Yuno arremessava Crotos com o poder da mente, era como se ela pudesse vê-los, J atacava com uma ferocidade que eu nunca tinha visto antes, parecia que o fato de termos chegado tão perto estava enlouquecendo o velho.

Kusanagi abria um arco de destruição, eu entendia o ponto fraco deles, eram soberbos, se achavam invulneráveis, a túnica prateada que eles usavam era leve e frágil, a única defesa deles era o escudo, mas era muito pequeno para proteger todo o corpo, então eu só precisava atacar sucessivamente e sempre eles abriam alguma brecha em que eu perfurava, cortava ou chutava os derrotando.

Continuamos firmes após dez minutos de luta, Samir criou uma grande cratera enterrando vivos dezenas de inimigos, Yuno elevava cinco inimigos de vez e os arremessava no chão de uns dez metros de altura enquanto fazia o corpo de outro deles de escudo. Era realmente impressionante, parecia que ela estava enxergando de alguma forma.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora